O portão principal da cúpula se fechou com um rangido grave e metálico quando Solomon cruzou a entrada e desapareceu na escuridão da floresta. Lá dentro, o silêncio ainda pairava pesado, como uma névoa densa que ninguém conseguia dissipar. Os anciãos não disseram mais uma palavra após sua partida e cada um deixou o salão com o peso da ameaça recém-recebida ardendo nos ombros.
Kael permaneceu por último, de pé no seu lugar, o maxilar trincado, as mãos fechadas em punhos e o olhar fixo na porta por onde Solomon havia saído. Seu peito subia e descia com força, os olhos brilhando com ódio contido, a humilhação ainda pulsava na sua pele como ferro em brasa.
— Ele vai pagar por isso — rosnou entre os dentes.
Tommy se aproximou, cauteloso.
— Kael... você precisa pensar com mais calma. O que aconteceu hoje não foi só um aviso, foi uma declaração de guerra. Se River decidir atacar, ele pode varrer a nossa alcateia do mapa.
Kael virou-se bruscamente, a fúria estampada no rosto.
— Não diga o nome dele na minha frente.
— É só a verdade — retrucou Tommy, a voz firme, mas baixa. — Você viu o que Solomon fez. Ele nos enfrentou, sozinho, riu na cara dos anciãos. Acha que ele faria isso sem ter plena certeza de que o Alfa Supremo está pronto para uma guerra?
— Eu vou enfrentar ele — declarou Kael, os olhos acesos de raiva. — Esse maldito não é um deus. Não passa de um bastardo arrogante que acha que pode se impor pela força. Mas eu não sou um dos idiotas dele, Tommy. Ele vai me respeitar ou vai cair. E quanto aquela omega idiota… Vou fazer ela sofrer na frente dele antes de matá-lo.
— Kael, pelo amor da Deusa, pense com a cabeça! — insistiu Tommy, os braços abertos num gesto de frustração. — Estamos falando do supremo das lendas! Ele é sim um deus, pare de ser orgulhoso, vai condenar nosso povo! Você ouviu o que Solomon disse. Ele vai cuidar de você pessoalmente e você sabe que isso não é só ameaça vazia.
Kael avançou até ele, o olhar feroz.
— Cala a boca, Tommy. Você é meu beta, vai fazer a merda que eu mandar!
— Kael…
— Eu disse cala a boca! — rugiu, a voz ecoando pelas paredes de pedra, o comando do alfa fazendo Tommy abaixar a cabeça. — Eu sou o alfa aqui, eu comando. Não devo satisfação a você, nem a ninguém. E aquele verme do Alfa Supremo pode vir quando quiser, estarei esperando por ele.
Tommy recuou um passo, o peito subindo com um suspiro contido. Sabia que era inútil continuar, o orgulho de Kael era uma muralha impossível de transpor, e pior: estava começando a ruir por dentro. O silêncio que se instalou entre os dois foi denso, quase sufocante.
Sem mais uma palavra, eles saíram da cúpula e seguiram até o veículo que os esperava na trilha lateral. A viagem de volta foi feita sob a sombra da tensão e do silêncio. Kael dirigia com força demais, as mãos tão cerradas no volante que os nós dos dedos estavam brancos. A estrada serpenteava pelas colinas enquanto os pneus cortavam a terra úmida, lançando pequenas pedras para trás. Tommy olhava pela janela, tentando ignorar a crescente irritação que sentia pela teimosia do alfa a quem muitas vezes chamou de amigo, mas o que o deixava mais inquieto era o estado de Kael.
O alfa suava.
E não era de raiva.
Seus olhos estavam semicerrados, o cenho franzido em dor. O corpo parecia pesado, e a pele, pálida demais para alguém como ele.
Tommy bufou, cruzando os braços.
— Você pode ser o alfa, mas continua sendo um idiota. Orgulhoso, teimoso e completamente cego.
Kael soltou um grunhido baixo, apertando os olhos por causa da dor que martelava sua cabeça. Algo pulsava dentro dele, como uma energia fora de controle, quente demais, incômoda demais. Os músculos doíam, os ossos pesavam, e o coração batia acelerado, como se lutasse contra algo invisível.
— Devia procurar a anciã — sugeriu Tommy, depois de alguns minutos. A voz, agora, vinha mais calma. — Ela pode saber o que tá acontecendo.
Kael não respondeu de imediato. O carro seguiu em silêncio pela estrada lamacenta, apenas o ronco do motor preenchendo o ar.
— Não preciso dela — murmurou, por fim, passando a mão pelo rosto suado. — Eu vou ficar bem, só preciso descansar.
— Você não tá com cara de quem vai melhorar sozinho — insistiu Tommy.
Mas o alfa não respondeu deixando a voz do amigo morrer sozinha. Nunca admitiria que se sentia doente há dias, lobos não adoecem, muito menos alfas, aquilo era um sinal de fraqueza e ele não podia ser fraco, não agora.
Não enquanto enfrentavam uma ameaça do alfa supremo.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Rejeitada: A Luna do Alfa supremo
Excelente pena que nao tem o livro impresso....
Muito bom! Livro excelente! História bem amarrada! Estou quase no final! Recomendo!...