Quando Tommy saiu do escritório, batendo a porta com raiva contida, Kael desabou na cadeira de couro escuro como se todo o peso do mundo tivesse se instalado sobre seus ombros. O suor frio escorria pelas têmporas, a pele que outrora fora bronzeada agora estava pálida, quase acinzentada, e os olhos fundos, envoltos por olheiras roxas, pareciam os de um cadáver que ainda respirava.
Ele levou a mão trêmula à boca ao sentir a tosse subir em sua garganta. Tentou segurar, mas foi em vão. Uma golfada violenta o fez se curvar sobre a mesa, tossindo repetidamente até que um líquido espesso e escuro escorreu entre seus dedos.
Sangue, mas não um sangue qualquer.
Era negro.
Kael arregalou os olhos e encarou a mão suja com um misto de horror e ódio.
— Que merda... — rosnou, cuspindo mais do líquido espesso no chão de madeira. — O que essa vadia fez comigo?
A fúria misturada ao desespero o consumia, ele sabia, embora nunca admitisse em voz alta, que algo dentro dele estava apodrecendo. Era como se a marca que havia deixado em Camilla estivesse agora corroendo sua alma, retribuindo todo o mal que causara. A deusa, talvez, estivesse o castigando por ter ousado brincar com o sagrado.
Enquanto isso, do outro lado da mansão, Camilla caminhava com passos lentos, mas firmes. Havia algo diferente em seus olhos, não apenas dor, mas resistência. O braço que antes exalava podridão agora começava a recuperar sua coloração, as veias azuladas recuando aos poucos, como se o corpo estivesse finalmente lutando.
Sua barriga estava maior, pesada, tensa. Dois filhotes, crescidos demais para tão pouco tempo. A cada movimento ela sentia fisgadas agudas, mas apertava os lábios e seguia. Ela precisava sobreviver, por eles.
Ao dobrar o corredor, distraída em seus próprios pensamentos, Camilla esbarrou com Tommy. Ele recuou instintivamente, os olhos arregalados e corpo tenso, como se ela carregasse a morte no toque.
— Calma. — disse ela, erguendo as mãos devagar. — Não sou mais tão contagiosa... pelo menos, é o que Belia disse.
Tommy hesitou por um segundo antes de relaxar um pouco os ombros.
— É... você parece menos... doente. — soltou, meio sem jeito.
Camilla soltou um riso curto, rouco, mas verdadeiro.
— Obrigada, eu acho.
Os dois se encararam por um momento, um silêncio pesado os envolvendo. Tommy a analisava com olhos mais atentos agora. Ela estava magra, exausta, mas havia algo novo nela, uma centelha, uma força que ele não havia notado antes.
— Isso precisa acabar. — ele disse, quebrando o silêncio, a voz baixa, quase como um segredo.
— Precisa. — ela respondeu, sem hesitação.
Outro momento se passou entre eles. A tensão que os unia agora era cúmplice. Dois prisioneiros do mesmo tirano, dois corpos destruídos por dentro, tentando sobreviver aos escombros deixados por Kael.
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