Kael estava em fúria. Tudo estava despedaçando ao seu redor e ele via, cada vez mais, a confiança de seus soldados ruir. Não lhe restava muito: já não era o alfa que um dia fora e assistia, impotente, a alcateia que seu pai havia deixado para ele desmoronar sob seus dedos, junto com todo o poder que julgava ter conquistado. Estava envergonhando o nome daqueles que vieram antes dele sabia disso, sentia isso.
Culpava todos, menos a si mesmo. Culpava Lyra, culpava Camilla, culpava o supremo. Se recusava a aceitar que era ele mesmo o veneno que apodrecia Ventos Sombrios.
Quando o dia amanheceu, Kael não suportou a inquietação. Percorreu cada corredor, cada sala da mansão, empurrando portas, derrubando móveis e rosnando feito um animal enlouquecido.
— Onde ele está?! — berrou, a voz rouca e carregada de fúria. — Tommy! Seu inútil! Onde você se meteu?!
Soldados se encolhiam ao vê-lo passar, desviavam o olhar, fingiam não ouvir. Sabiam que o alfa estava doente, mas também sabiam que sua fúria podia matar muito mais que a doença que ele carregava.
O sol subiu, desceu... e Tommy não apareceu. Kael gritava aos quatro cantos que o beta havia fugido, traído a própria alcateia. Mandou que o procurassem, que revirassem até os esgotos se fosse preciso.
Quando o crepúsculo tingiu o céu de vermelho enquanto o sol se escondia atrás das grandes montanhas do horizonte, Tommy finalmente surgiu pelos portões de Ventos Sombrios. Havia corrido sem parar pela terra de ninguém, a pelagem de seu lobo marcada de poeira e sangue seco de arranhões que ele mesmo provocara ao atravessar espinheiros e matas fechadas. Seguiu a trilha que River indicou, mas nenhum atalho impediria de chegar antes que seu alfa notasse sua ausência, ele sabia disso.
Exausto, faminto e com o coração disparado, mal teve tempo de retomar a forma humana. O olhar ansioso buscou por Kael, mas encontrou apenas guardas que, ao vê-lo, recuaram como quem recua de uma fera.
Antes que pudesse compreender, sentiu o chão sumir sob as patas. Um rugido furioso preencheu seus ouvidos.
O grande lobo alfa avançou, e, mesmo doente e enfraquecido, Kael ainda era alfa, um alfa que, naquele momento, estava furioso.
Kael caiu sobre Tommy como uma rocha viva, abocanhando-lhe a garganta com força. O gosto de sangue encheu a boca de Tommy e ele guinchou de dor, as patas se debatendo contra o chão enlameado do pátio interno. O alfa sacudiu a cabeça, dilacerando ainda mais a pele do beta, até que o jogou ao chão, quase quebrando-lhe o pescoço. Com um rosnado baixo, avançou outra vez, pressionando as presas contra a pele ferida, quase sufocando Tommy.
O alfa nãos e afastou demais, apenas o bastante para que seu beta encarasse seus olhos brilhantes e enfurecidos enquanto sua voz ecoava na mente dele, e de todos, já que a alcateia inteira podia escutar.
“Onde você estava?!”, bradou Kael, cuspindo sangue preto ao falar, o rosto contorcido num ódio quase insano. “Fala, seu maldito! Onde esteve o dia inteiro, enquanto seu alfa precisava de você?”
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