Correram a noite inteira.
Os galhos arranhavam a pelagem, as patas afundavam no chão úmido e o cheiro de terra molhada preenchia o ar. Lyra, Solomon e River seguiam lado a lado, as respirações fortes e compassadas ecoando pela floresta. A lua cheia brilhava lá no alto, testemunha silenciosa da fúria contida que os movia.
Os renegados, aqueles lobos que não pertenciam a nenhuma alcateia, se escondiam pelas sombras, mas ao perceberem quem passava, abriam caminho em respeito, ou por medo, afinal, mesmo ali na terra de ninguém, a força do alfa supremo ainda era conhecida. Ninguém ousava impedir o avanço do alfa supremo e de sua futura luna.
Quando o sol começou a nascer, tingindo o céu de tons de laranja e dourado, River diminuiu a corrida, dando sinal para que parassem. Lyra arfava, o peito subindo e descendo rápido, e Solomon, mesmo sendo um guerreiro veterano, também respirava pesado. O caminho era longo, a essa altura já haviam passado pelo território dos caçadores, então poderiam descansar um pouco, apenas um pouco.
River voltou à forma humana, seu peito largo e suado erguendo-se lentamente. Aproximou-se de Lyra, que também se transformou, e apoiou a mão em seu ombro.
— Descanse um pouco, meu amor — disse ele, a voz rouca. — Ainda falta um bom trecho até chegarmos na fronteira da Ventos Sombrios.
Lyra assentiu, passando a mão pelos cabelos desgrenhados, ainda se acostumando ao silêncio depois da corrida longa. O vento balançava as folhas ao redor, e por um momento tudo pareceu calmo. Aquela viagem estava sendo bem diferente da primeira, não tinham mais medo, sequer pareciam correr perigo. Agora que River estava de posse da maior parte de sua força, nenhum renegado ousava interferir tampouco caçadores depois dos massacres que se sucederam aos outros ataques.
Mas logo o faro aguçado de Solomon captou algo, ele ergueu o queixo, as narinas dilatadas.
— Temos companhia. — rosnou, a voz grave ecoando na clareira.
De dentro da mata surgiram formas disformes, lobos de aparência mais magra, alguns com cicatrizes antigas na pelagem,expondo a pele marcada pelos confrontos que acoteciam com frequência na terra de ninguém. Renegados, os exilados da lei, sem alcateia ou proteção. Caminhavam com cuidado, sem ameaçar, mantendo uma distância respeitosa dos três.
Solomon imediatamente mudou de posição, os músculos do corpo se enrijecendo, pronto para se transformar. Mas antes que ele desse um passo, River ergueu a mão aberta à sua frente, como quem segura uma corrente invisível.
— Espere. — ordenou, a voz calma, porém cheia de autoridade.
Os renegados pararam, se abaixaram e curvaram a cabeça num gesto claro de submissão. Um deles, maior que os outros, voltou à forma humana primeiro. Era um homem magro, jovem, mas maltratado pela terra que habitava, de cabelos escuros até os ombros e barba mal feita. Ele se aproximou devagar, sem erguer o olhar completamente.
— Meu nome é Ethan, senhor. — disse, a voz rouca, quase um sussurro. — Eu... nós ouvimos dizer que o supremo estava passando pelas terras de ninguém.
— Eu sei... sei que não temos nada a oferecer além das nossas vidas. — disse ele, quase num sussurro. — Mas vimos o que o senhor representa, supremo. Queremos ajudar a acabar com as leis dos anciãos, ouvimos os boatos, sabemos que eles estão se organizando contra sua alcateia.
Por um instante, o silêncio tomou conta da clareira. River manteve o olhar fixo em Ethan, tão firme que parecia capaz de perfurar sua alma.
— Levante a cabeça. — ordenou River.
Ethan hesitou, mas obedeceu. O olhar dele, mesmo cansado e marcado pelo abandono, não mentia. Havia medo, sim, mas também havia sinceridade. Ele parecia prestes a falar, prestes a continuar tentando convencer que eles e os dele seriam úteis de alguma forma.
Mas antes que Ethan pudesse dizer mais alguma coisa, River ergueu a mão, ordenando silêncio com um gesto firme, seu olhar tão cortante quanto lâmina afiada.
— Agora não podem nos seguir. — disse ele, a voz grave ecoando entre as árvores, fazendo Ethan abaixar a cabeça e os demais lobos guincharem tristes, imaginando que seriam rejeitados mais uma vez. — Vamos para um lugar onde lobos como vocês estariam em risco. Mas... — fez uma breve pausa, encarando Ethan diretamente. — Se vocês quiserem mesmo se juntar a nós, serão bem recebidos na Lua Sangrenta. Desde que jurem lealdade não a mim apenas, mas à nossa alcateia e às nossas leis, não as leis daqueles velhos imundos.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Rejeitada: A Luna do Alfa supremo
Excelente pena que nao tem o livro impresso....
Muito bom! Livro excelente! História bem amarrada! Estou quase no final! Recomendo!...