Aquelas palavras caíram sobre ele como uma lâmina afiada. Por um instante, River ficou sem reação. Depois, aproximou-se um pouco mais, mas sem cruzar o limite do espaço que ela protegia com o corpo trêmulo.
— Eu jamais tocaria em você da forma que aqueles porcos fizeram — disse com firmeza, e seus olhos faiscaram como brasas sob a luz da fogueira. — Nunca.
Lyra o olhou com desconfiança, mas havia algo na sua voz que não combinava com os outros. Não havia luxúria, nem malícia, nem superioridade. Havia raiva, mas não contra ela, era como se ele estivesse furioso por ela.
No entanto, algo no fundo de sua mente lhe disse que o alfa Kael também não parecia com os outros e mesmo assim ordenou que seus homens fizessem tudo o que fizeram.
— Quem… Quem é você? — sussurrou com dificuldade, as mãos agarradas ao tecido que a cobria.
— River, me chamo River — respondeu ele, abaixando-se lentamente até ficar sentado sobre os calcanhares, na mesma altura que ela. — E você? Qual seu nome?
Houve uma pausa longa, ela parecia considerar se podia ou não confiar naquela simples pergunta.
— Lyra... — murmurou, a voz quebrada.
— Lyra... — repetiu ele, lentamente. — Você se lembra do rosto deles? Dos que fizeram isso?
Por um momento, Lyra congelou.
O rosto dela empalideceu ainda mais, os olhos se enchendo de lágrimas mais uma vez, o queixo tremeu.
— Eu... — sua voz sumiu, substituída por um soluço. — Não... não foram renegados...
River franziu o cenho, o corpo enrijecendo como se seus ossos se transformassem em pedra.
— Como assim? — perguntou, a voz mais baixa, mais tensa. — Quem foi?
Ela só chorou.
Não disse mais nada, apertando o corpo contra a parede como se quisesse desaparecer dentro dela. O manto escorregou um pouco, revelando as marcas arroxeadas nos ombros, os arranhões profundos nas coxas, e River desviou o olhar, com a mandíbula cerrada, lutando contra o impulso de exigir a verdade ali mesmo.
Mas ela não estava pronta, ele viu isso.
Mais tarde, quando o silêncio se tornou absoluto, ele voltou até a fogueira, mantendo uma distância respeitosa. Sentou-se em uma pedra baixa, observando as brasas vermelhas, e falou sem olhar para ela:
— Seja quem for... eu vou encontrar. E eles vão morrer.
Lyra não respondeu, mas ele escutou, escutou o som abafado de outro choro. Um soluço contido.
— Você não está mais sozinha, Lyra. — disse com convicção. — Eu vou proteger você agora.
Dessa vez, ela não chorou mais alto.
Mas o silêncio que se seguiu parecia mais leve.
Como se uma pequena parte do peso que ela carregava tivesse sido dividida com ele.
E naquela caverna escura, onde o sangue ainda manchava as pedras e o fogo estalava em brasas lentas, duas almas quebradas começaram a reconhecer uma à outra, mesmo que ainda não soubessem o porquê.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Rejeitada: A Luna do Alfa supremo
Excelente pena que nao tem o livro impresso....
Muito bom! Livro excelente! História bem amarrada! Estou quase no final! Recomendo!...