O silêncio entre eles era denso como a neblina que começava a se erguer no fundo da caverna. Lyra continuava sentada, envolta no manto que ele lhe dera, com os olhos fixos nas brasas apagadas da fogueira. River, em silêncio, se movia com precisão e disciplina. Ajeitou as calças surradas e rasgadas que ele mal sabia como ainda estavam inteiras, recolhia as frutas restantes em um pano escuro e apagava a fogueira com terra fria, cobrindo tudo para que não restasse nenhum rastro. Era como se estivesse se preparando para desaparecer do mundo, e levá-la com ele.
Quando terminou, voltou-se para ela.
— Está na hora, precisamos partir.
Lyra ergueu os olhos devagar, a expressão ainda desconfiada, e envolta numa exaustão que parecia pesar até seus ossos.
— Não vou com você — respondeu com a voz firme, mesmo que um pouco rouca. — Eu nem te conheço.
River deu um passo na direção dela, os olhos como gelo quebrando sob a luz cinzenta do amanhecer que se infiltrava pela entrada da caverna.
— Se quiser viver, vai precisar ficar comigo.
— Não pedi ajuda.
— Mas precisou.
Lyra não respondeu, os olhos se estreitaram como se quisesse rebatê-lo, mas algo na postura dele, algo no jeito como ele a observava, a impediu.
— Para onde está indo? — murmurou, ainda com o corpo encolhido.
— Para a alcateia Lua de Sangue.
Rover olhou para ela com seriedade e, quando aquelas palavras sairam de sua boca percebeu os lábios de Lyra se curvarem num riso, ela soltou uma risada breve e amarga, como se ele tivesse contado uma piada de péssimo gosto.
— Claro, Lua de Sangue. E depois disso vamos visitar o reino dos mortos para tomar chá com os fantasmas?
River não sorriu, nem sequer mexeu um músculo do rosto.
— Muitos já morreram por muito menos do que essa forma que você fala comigo — disse em um tom cortante. — Você tem sorte por eu não ser como eles.
Lyra sentiu a espinha arrepiar, seu coração acelerou por um instante, e ela engoliu em seco, a risada morreu em sua garganta.
— Você está falando sério...? — perguntou, mais baixa agora.
— Muito sério.
Ela piscou, como se tentasse entender se aquilo era um delírio, um jogo estranho, ou apenas loucura. Mas o olhar de River não vacilava.
— Está louco — murmurou ela, ainda descrente, balançando a cabeça. — Essa alcateia não existe mais. É território proibido, ninguém chega até lá... fica bem no centro do território dos renegados! E mesmo se conseguíssemos passar por eles, os lobos da Lua de Sangue se isolaram completamente desde que o alfa deles foi condenado pelos anciãos. Isso foi o fim da alcateia.
— Você está errada.
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