Lyra abriu os olhos com dificuldade, os cílios grudados pelo suor que escorria da testa. Seus pulsos estavam em carne viva, marcados pelas amarras ásperas e enferrujadas. Um cobertor fino cobria seu corpo nu, a pele ferida e febril por causa do envenenamento constante da erva.
Ela mal conseguia respirar.
Ao lado, Petra se movia devagar, os olhos se abrindo em confusão e dor.
— Lyra… Está bem? — murmurou a loba, a voz rouca e fraca. — Me sinto tão fraca…
— É o mata-lobos — respondeu Lyra com esforço, engolindo em seco. — Está por toda parte ainda… Também estou fraca.
Petra se encolheu, tossindo, todo movimento, até o simples ato de tossir, fazia seu corpo doer, como se cada um de seus ossos estivessem prestes a se quebrar, parecia que seu corpo entraria em colapso.
Diferente de Lyra, ela não era uma Luna, não estava nem marcada ainda, não dividia força com seu companheiro… Não sabia quanto tempo mais ia aguentar.
— Eles não voltaram... em dois dias... — sussurrou ela. — Por que não voltaram? Eu… Não sei mais quanto tempo vou aguentar, amiga…
Lyra fechou os olhos por um instante, tentando ignorar o latejar agudo na base da coluna. Ela sentia o corpo inteiro pulsando, como se estivesse à beira da transformação a cada minuto. Sua loba urrava dentro dela, instável, tentando emergir, mesmo que ela não desejasse. Era doloroso, quase insuportável.
Algo estava errado.
— Não sei... — disse, respirando fundo. — Mas precisamos sair daqui. Algo ruim vai acontecer se ficarmos mais tempo, tenho certeza.
— Mas como? — Petra disse, com a voz embargada. — Nem conseguimos nos transformar… Essa erva… Está nos matando Lyra.
Ela sabia disso, sabia que o mata-lobos não as deixaria completar a tranformação, mas seu corpo parecia não entender, ou não aceitar. Era como se houvesse um impulso involuntário dentro de si, um chamado selvagem e desesperado para lutar ou fugir. Como se o tempo estivesse acabando.
— A dor está piorando... e... não sei por quê... — confessou, arfando.
Petra começou a chorar.
— Eles vão matar a gente... Eu sei que vão... E ninguém sabe onde estamos! Estamos ferradas, Lyra! Ferradas!
— Ei, escuta... — disse Lyra, forçando-se a se manter lúcida, mesmo com a cabeça girando. — Nós não vamos morrer aqui, eu não vou deixar.
— Como? Estamos fracas, doentes, presas... — Petra balançava a cabeça, soluçando. — Eles estão esperando a hora certa... pra fazer sabe-se lá o quê...
— Então é por isso que precisamos fugir antes disso acontecer.
Petra a olhou como se ela tivesse perdido o juízo.
— Fugir?! — sussurrou, desesperada. — Não temos forças nem pra ficar em pé, Lyra. Não tem como!
— Tem. A gente vai usar o que ainda tem de força. — murmurou, aproximando-se dela com esforço, mantendo a voz baixa. — Vamos fazer um plano.
— Então amanhã. Assim que clarear, começo a fingir. Você chora, grita, pede socorro, faz parecer real — continuou Lyra, determinada. — Se soltarem meus braços, eu tento te soltar, ou então você me ajuda. A gente só precisa de um momento, um segundo de distração.
Petra assentiu com um fio de esperança nos olhos, apesar do medo que ainda a sufocava.
— Tá... Tá bom.
— E se eu não conseguir... você tenta fugir. — disse Lyra. — Mesmo sem mim.
— Nem pensa nisso! — Petra respondeu de imediato, zangada. — Se eu sair daqui, você sai comigo. Eu não vou deixar você pra trás.
— Você precisa! Se uma de nós conseguir, já é o suficiente, por que assim podemos pedir ajuda, entendeu?
Petra não respondeu, sentindo as lágrimas escorrendo pelo rosto apavorada. Mas sabia que a amiga tinha razão, claro que sabia.
Elas se encararam por alguns segundos, unidas pela dor, pela fome, pela raiva, pela esperança desesperada. Então, num gesto silencioso, Lyra se aproximou mais e abraçou Petra, ambas protegidas apenas pelas mantas finas e cobertas de suor por causa da febre. As duas tremiam de frio e medo.
— Que a deusa da lua nos ouça... — sussurrou Lyra, com a cabeça encostada na amiga. — Que ela nos salve.
Petra fechou os olhos e murmurou junto:
— Por favor... não nos deixe morrer aqui...

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Rejeitada: A Luna do Alfa supremo
Excelente pena que nao tem o livro impresso....
Muito bom! Livro excelente! História bem amarrada! Estou quase no final! Recomendo!...