O silêncio no calabouço era quase tão opressor quanto o cheiro de ferrugem e mofo impregnado nas paredes úmidas de pedra. O tempo passava lento, pesado, como se o mundo lá fora houvesse esquecido que duas pessoas estavam presas ali dentro, tentando manter o pouco de esperança que ainda lhes restava.
Era estranho. Não havia sons acima, nem com a audição aguçada de lobo delas conseguiam ouvir. Não ouviam nada além da brisa, do som dos pássaros... Não parecia ser uma alcatéia, não tinha outros lobos ali, tinham certeza.
Lyra e Petra dormiram encolhidas uma na outra, tentando aquecer os corpos tremendo pela febre e pela fraqueza provocada pelo veneno de mata-lobos. Os efeitos continuavam se alastrando pelas veias das duas, consumindo sua força pouco a pouco, como uma praga silenciosa. Ainda assim, havia algo em Lyra, uma inquietação maior, uma dor interna que não cessava.
Ela havia sentido durante a madrugada: seu corpo reagia por conta própria, os músculos se contorciam, a pele esquentava. Era como se o lobo dentro dela estivesse tentando emergir, desesperado por liberdade, mesmo contra a vontade dela, ou pela vontade de proteger algo que ela não sabia o que era. A transformação incompleta a fazia vomitar, suar frio, gemer de dor, mas não havia ninguém para ajuda-la. Ninguém aparecera em dois dias, estavam sozinhas. Esquecidas.
— Petra… — sussurrou com a voz falha, respirando com dificuldade. — Está amanhecendo.
Petra, deitada ao seu lado, abriu os olhos inchados e vermelhos. Levou alguns segundos para entender onde estava, mas logo sentiu novamente a dor constante do veneno e da fome.
— Está pronta? — perguntou Lyra, tocando o ombro da amiga com delicadeveza. — É hoje, tem que ser agora.
Petra assentiu devagar, o rosto contraído pelo medo, mas também pela coragem desesperada que só surge nos momentos finais, era a única esperança que tinham.
— Estou com medo, Lyra… — murmurou. — Mas se você me mandar correr, eu vou. Prometo.
— ELA VAI MORRER! VÃO DEIXÁ-LA MORRER AQUI, SOZINHA?! SOCORROOO!
Os gritos ecoaram por todo o calabouço frio. Petra repetia as palavras aos berros, soluçando, gritando por socorro, como se sua vida dependesse disso, e dependia mesmo. E, enfim, após longos minutos de desespero, passos ecoaram pelo corredor.
Lyra manteve-se imóvel no chão, com os olhos semicerrados e a respiração entrecortada. O som das botas no chão de pedra se aproximava rapidamente. Logo, uma sombra surgiu atrás das grades, e o trinco da cela girou com força.
— O que está acontecendo aqui?! — perguntou o guarda, irritado.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Rejeitada: A Luna do Alfa supremo
Excelente pena que nao tem o livro impresso....
Muito bom! Livro excelente! História bem amarrada! Estou quase no final! Recomendo!...