As correntes em seus pulsos estavam cada vez mais apertadas, os ferros grossos arranhavam sua pele já ferida, impedindo qualquer tentativa de fuga. O cheiro amargo do mata-lobos ainda impregnava o ar, deixando Lyra enjoada e com os músculos trêmulos. Ela estava jogada no canto da cela imunda, o rosto inchado, com hematomas por toda a pele exposta. Os cabelos grudavam na testa suada, e sua respiração era fraca, mas ainda constante.
O chão sob seu corpo estava gelado, úmido e fedia a mofo. Ela piscava devagar, tentando não perder a consciência, enquanto o gosto de sangue ainda escorria por sua boca entreaberta. Sentia dores em todos os ossos, e o nariz parecia fraturado, manchado de sangue seco.
À sua frente, o guarda, o mesmo que ela e Petra haviam enfrentado apenas algumas horas atrás, agora estava com o braço enfaixado e a cara inchada, murmurando algo em tom baixo com Caliu, o ancião de olhar cruel e dentes cerrados.
— Eu já disse que ela não vai sair daqui viva — rosnou o guarda, tentando parecer firme, mesmo com o rosto tenso de dor. — A outra foi embora, mas essa aqui é a mais importante.
— Importante? — rugiu Caliu, os olhos faiscando. — A outra é uma ameaça! Se ela chegar no maldito alfa supremo, ele vai saber onde estamos escondidos! — E então, num movimento violento e imprevisível, o ancião ergueu o braço e golpeou o rosto do guarda com tanta força que o som seco da pancada ecoou pelas paredes de pedra.
O guarda caiu no chão, atordoado, com a boca sangrando, mas não ousou reagir.
Lyra se mexeu, tentando afastar o corpo da parede. A dor era insuportável, mas ela precisava ver, precisava ouvir. Seus olhos semicerrados subiram até o rosto de Caliu, que agora a encarava com uma fúria silenciosa.
— E você… — ele caminhou até ela, cada passo ecoando com peso. — Acha que a amiguinha vai conseguir ajuda a tempo?
Lyra apenas o fitou, tentando manter a cabeça erguida, mesmo estando tão machucada.
— Quando seu querido alfa chegar, amanhã… — ele cuspiu as palavras com escárnio — eu vou fazer questão de matar você bem na frente dele, devagar, pra que ele sinta o gosto da perda… Quem sabe assim ele saia de vez do nosso caminho e lembre que esse não é mais o mundo dele..
Ela respirou com dificuldade, os olhos ardendo com lágrimas que se recusavam a cair. Mas então, algo que Caliu disse a fez congelar de surpresa.
— Você e a criança que está esperando.
A mente de Lyra pareceu entrar em pane por um segundo. A dor foi substituída por um silêncio absoluto, como se o mundo inteiro tivesse parado. Ela arregalou os olhos, encarando o ancião com um misto de horror e confusão.
— O… o quê?
Caliu sorriu, um sorriso vil, venenoso.
— Ah… — ele murmurou, se abaixando até que seu rosto ficasse próximo ao dela — você não sabia?
Ela não conseguia responder, sua boca se entreabriu, mas nenhum som saiu. O mundo girava ao seu redor e, de repente, tudo parecia fazer sentido. O enjoo constante, a tontura, a dor insistente em seu abdômen… o corpo tentando se transformar mesmo sem que ela quisesse. Ela nunca imaginou que…
— Aproveite suas últimas horas, garotinha. — Ele se virou para o guarda, que ainda estava se levantando com dificuldade. — Se ela der mais um pio, corte a língua dela.
Lyra trincou os dentes, sentindo o sangue escorrer por sua boca. A dor era insuportável, mas agora havia algo dentro dela que queimava mais do que qualquer ferida. Ela não sabia como, nem quando, mas precisava sobreviver. Por ela. Por River. Pelo filhote que crescia em seu ventre.
Quando Caliu saiu, seguido pelo guarda, a cela voltou ao silêncio, o único som era sua respiração ofegante e o rangido das correntes a cada movimento.
Ela tentou se erguer, mas as pernas cederam. Caiu de lado, o ombro batendo contra a parede fria. Chorou em silêncio, o corpo exausto, o coração em pedaços, mas o choro não era mais de desespero.
Era de raiva.
River. Ela precisava dele, pecisava que ele viesse, mas, acima de tudo, precisava resistir até lá.
Com os olhos fechados, sussurrou, quase sem voz:
— Por favor… venha me buscar.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Rejeitada: A Luna do Alfa supremo
Excelente pena que nao tem o livro impresso....
Muito bom! Livro excelente! História bem amarrada! Estou quase no final! Recomendo!...