River atravessava os corredores do hospital da alcateia Ventos Sombrios em passos largos, quase correndo. O peito arfava, o corpo ainda dolorido e sujo de sangue seco, mas nada disso importava. Tudo o que sentia era a ânsia de ver Lyra, de ouvir sua voz, de ter certeza com os próprios olhos de que ela ainda estava viva.
As lobas que trabalhavam ali desviavam para os lados, sentindo o peso de sua presença e o cheiro forte de sangue misturado à terra e ao suor da batalha. Ninguém ousou impedi-lo. Ele seguiu o cheiro doce e familiar de sua companheira, o vínculo chamando por ela como se sua alma inteira dependesse daquele reencontro. Só precisava vê-la bem, saber que estava fora de perigo.
Quando entrou no quarto, seu coração quase parou.
Lyra estava deitada na cama, o corpo coberto apenas por lençóis finos. O rosto pálido, os lábios secos, e mesmo assim, para ele, ela era a visão mais bela que poderia existir. Duas lobas estavam ao redor, limpando com cuidado os ferimentos e aplicando compressas com ervas. O cheiro inconfundível de Mata-lobos ainda impregnava o ar, o veneno circulando nas veias dela, lento e traiçoeiro, mas agora mais fraco, sem oferecer risco de contaminação aos lobos ao redor e aquilo era um bom sinal.
Haviam feito sangria nela, ao lado da cama, algumas bolsas de sangue envenenado estavam postas dentro de um isopor com gelo para serem descartadas, por isso a palidez evidente mas aquele era o único jeito de desintoxicar um lobo com tanto mata-lobos nas veias.
— River… — a voz dela saiu rouca, fraca, mas ainda assim firme o suficiente para mostrar que estava ciente do que acontecia consigo mesma. — Não chega muito perto… ainda estou com Mata-lobos no sangue.
Ele parou por um instante, os olhos marejados, o corpo tremendo entre a raiva do que haviam feito com ela e o alívio de ouvi-la.
— Não me importo — disse, a voz grave, quebrada pela emoção. — Isso não vai me fazer ficar longe meu amor.
River se ajoelhou ao lado da cama, ignorando o sangue que manchava suas roupas, e levou as mãos ao rosto dela com uma delicadeza que contrastava com toda a brutalidade pela qual era conhecido. Passou os polegares de leve por sua pele fria, aproximou-se e a beijou. Um beijo lento, cuidadoso, que carregava o desespero e o amor de quem quase perdeu tudo.
Lyra retribuiu, os dedos fracos se enroscando na nuca dele. Quando se afastaram, ela sorriu de leve, os olhos brilhando com lágrimas.
— Eu sabia… — sussurrou, com dificuldade. — Eu sabia que você viria para nos salvar.
River franziu o cenho, confuso, sentindo as palavras ecoarem de forma estranha.
— Nos… salvar? — ele repetiu, a voz baixa. — Do que está falando, meu amor?
Lyra desviou o olhar para as duas lobas que estavam cuidando dela. Com um gesto sutil, elas se afastaram, deixando o quarto em silêncio, apenas os sons da respiração deles preenchendo o espaço. Então, com um pouco de esforço, ela pegou a mão dele e a guiou até sua barriga.
O mundo pareceu parar.
— River… — ela disse, a voz trêmula, mas cheia de uma alegria tímida. — Eu estou esperando um bebê.
Ela sorriu fraco, as lágrimas deslizando pelo rosto pálido.
— Eu também te amo, meu alfa… — respondeu, abrindo os braços para que ele se deitasse com cuidado ao lado dela.
Ele se acomodou, ainda com o corpo tenso, abraçando-a como se pudesse protegê-la de todo o mal do mundo. Por alguns minutos, o mundo lá fora deixou de existir. Não havia guerra, não havia sangue, apenas o calor da pele dela, o som do coração batendo, e o milagre silencioso que crescia em seu ventre.
— Você é tudo para mim, Lyra… — ele murmurou, encostando o rosto no pescoço dela. — Eu juro pela Deusa da Lua… nunca mais vou deixar ninguém tocar em você.
Lyra apenas suspirou, sentindo o cansaço pesar sobre seus olhos. Pela primeira vez em dias, permitiu-se relaxar, sentindo-se segura nos braços do seu alfa.
— Fica comigo… — ela pediu, quase num sussurro.
— Sempre… — ele respondeu, firme.
E assim ficaram, abraçados, enquanto do lado de fora, a alcateia inteira se movia em preparativos para a guerra que se aproximava. Dentro daquele quarto, porém, só existia amor, vida e a promessa de que, por mais que o mundo os quisesse derrubar, eles lutariam juntos até o fim.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Rejeitada: A Luna do Alfa supremo
Excelente pena que nao tem o livro impresso....
Muito bom! Livro excelente! História bem amarrada! Estou quase no final! Recomendo!...