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Rejeitada: A Luna do Alfa supremo romance Capítulo 89

À frente do imenso exército, os dois anciãos restantes avançavam com passos firmes e silenciosos. Dois lobos enormes, de pelos grisalhos que refletiam a luz. O primeiro, de pelagem marrom, tinha os olhos amarelos cortantes, carregados de fúria e sede de sangue. O segundo, completamente negro, exceto por uma faixa prateada no dorso, parecia uma sombra viva, movendo-se com precisão mortal. Atrás deles, uma fileira interminável de lobos transformados preenchia a trilha pela mata, um mar de olhos brilhantes e dentes à mostra, o barulho de suas patas ressoando como trovões abafados sobre o chão da floresta.

A cada passo que davam, o cheiro da alcateia Ventos Sombrios ficava mais forte. Logo, a vila apareceu entre as árvores, silenciosa, protegida apenas pelo grande portão de madeira que delimitava o território principal. Sem hesitar, os anciãos investiram. O lobo negro saltou primeiro, seu corpo pesado batendo com força contra a madeira reforçada. O lobo marrom seguiu em um movimento rápido e conjunto, e o portão desabou com um estrondo ensurdecedor, as lascas voando para todos os lados.

O que encontraram do outro lado, porém, foi apenas o silêncio. Nenhum uivo, nenhum som de passos. As cabanas de madeira estavam abertas, os corredores vazios. O vento frio soprou pelo lugar deserto, carregando o cheiro recente dos que haviam fugido.

O lobo marrom rosnou baixo, frustrado. Em seguida, voltou à forma humana com um movimento rápido, seus ossos estalando até que se tornasse o homem alto e magro de longos cabelos grisalhos, caindo sobre os ombros nus. Ele cuspiu no chão, furioso.

— Covardes… — Berak rosnou, a voz grave ecoando pela vila vazia. — Fugiram como ratos.

O lobo negro também voltou à forma humana, Luther, revelando um homem de porte mais robusto, com cicatrizes antigas que riscavam o peito largo. Ele olhou ao redor, respirando fundo.

— O rastro é recente — disse um dos soldados que se aproximou, também voltando a forma humana, com os olhos baixos em respeito. — Eles saíram há pouco. Talvez nem uma hora.

Os olhos de Berak brilharam de ódio. Ele ergueu a mão, apontando para a vila inteira.

— Destruam tudo. Cada pedra, cada pedaço de madeira. Que sintam o peso da nossa fúria quando voltarem e encontrarem apenas cinzas.

Um rosnado coletivo ecoou, e os lobos se lançaram sobre a alcateia com violência.

Casas foram derrubadas em segundos. Os telhados cederam sob o peso das garras e corpos poderosos. O hospital, que havia sido cuidadosamente construído e reformado tantas vezes, foi o primeiro alvo de destruição total. Vidros estilhaçaram, portas foram arrancadas, camas viradas, frascos de remédios quebrados no chão em uma mistura de cheiros químicos e ervas.

Os lobos avançavam sem piedade, derrubando paredes, alguns, em forma humana, arrastando móveis para fora, destruindo tudo que encontravam. O barulho era ensurdecedor, como se a floresta inteira estivesse desabando.

Então, Luther voltou-se para os soldados que ainda estavam em forma humana.

— Não deve sobrar nada — ordenou. — Que o fogo termine o que começamos, queimem tudo!

Eles obedeceram. Em poucos minutos, uma pilha de madeira, tecidos e restos das casas estava reunida no centro da alcateia. Um dos soldados acendeu uma tocha improvisada, e a chama iluminou os rostos deformados pela raiva e pelo prazer da destruição.

Berak lançou a primeira tocha contra a pilha, e o fogo se espalhou rapidamente. Em segundos, a alcatéia inteira começou a arder. As chamas subiam vorazes, lambendo o céu, iluminando a floresta em tons de laranja e vermelho. O crepitar do fogo se misturava aos estalos das madeiras cedendo, ao rugido dos lobos e ao riso sombrio de alguns soldados. Ventos Sombrios desaparecia, consumida pelas chamas e pelo ódio dos anciãos.

****

— Não! — protestou uma loba, correndo até ele. — Você não vai voltar se fizer isso!

Ele segurou o rosto dela com delicadeza.

— Você sabe que não vou — disse, com um sorriso triste. — Mas é isso ou todos nós morremos. Proteja os nossos.

Outros guerreiros se aproximaram, voluntários silenciosos que entendiam o peso daquele sacrifício. As companheiras de cada um se aproximaram, algumas segurando suas mãos, outras chorando em silêncio. A floresta parecia prender a respiração diante daquela despedida.

— Que a Lua os guie — disse uma das lobas mais velhas, erguendo os olhos marejados para o céu.

— E que nossos filhos cresçam sabendo que lutamos por eles — respondeu o soldado mais velho, antes de se transformar novamente.

O grupo de voluntários partiu em disparada, seus corpos se alongando e mudando em lobos enquanto desapareciam na mata, uivos ecoando para chamar a atenção do exército inimigo. Era um chamado de coragem e sacrifício, o último ato de lealdade que poderiam oferecer.

Atrás deles, as lobas e filhotes seguiram seu caminho, protegidos pelos poucos guerreiros que restavam, enquanto o cheiro de fumaça e destruição continuava a persegui-los pela floresta.

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