Seus olhos se abriram de repente, o teto rosa, os detalhes delicados, as paredes decoradas, aquele era seu quarto, reconheceria o papel de parede em qualquer lugar, as florzinhas fofas que escolheu quando tinha 13 anos e nunca trocou. Sua respiração estava ofegante o peito subia e descia com força e a pele estava coberta de suor e fervendo, como se tivesse saido de dentro do fogo naquele exato momento.
“Foi só um sonho.”, pensou passando as mãos nos cabelos brancos como a neve que escorriam como um manto alvo por seus ombros até abaixo de sua bunda.
Enquanto tentava controlar a respiração e as batidas aceleradas de seu coração, o som de batidas apressadas em sua porta ecoaram. Lua se levantou devagar, ainda confusa com o sonho que teve e quando abriu a porta, encontrou sua mãe do outro lado. Os cabelos loiros de Lyra estavam presos num rabo meio desajeitado e o rosto dela estava triste os olhos vermelhos e molhados. Os anos haviam passado, mas ela mal havia envelhecido, ainda parecia a mesma mulher de antes, mesmo que sua filha agora já tivesse quase 18 anos.
— Mãe? O que aconteceu?
Lyra respirou fundo, como se precisasse reunir coragem para dizer:
— Aconteceu algo na Ventos Sombrios, querida. Nós… vamos precisar viajar até lá.
O coração de Lua parou por um instante.
— Mas… o que… O que aconteceu lá? Amber tá bem? E o…
A mulher hesitou. Seus olhos marejaram, e a voz saiu baixa, triste:
— Caleb desapareceu e… — ela engoliu seco. — Sua tia Camilla… Sua tia está morta, meu amor.
Lua levou a mão à boca, sentindo os olhos se encherem de lágrimas enquanto tentava processar o que havia ouvido. Sua tia Camilla sempre foi como uma segunda mãe, asism como Amber era como uma irmã, sua melhor amiga desde que eram apenas crianças.
— A Amber… Ela deve estar arrasada… Mãe, a gente tem que ir agora!
A Luna da Lua Sangrenta apenas assentiu, concordava com a filha precisavam partir naquele exato momento, mesmo que ainda fosse madrugada. Os amigos, a familia, precisava deles, e estariam lá para apoiar.
***
A estrada parecia infinita, o carro seguia pela via estreita que cortava a floresta, uma estrada que só a família deles usava. Haviam construído aquilo quando a Luna insistiu que precisavam de um meio mais rápido para visitar os aliados que não as corridas em forma de lobo, mais rápido e menos cansativo do que correr a noite inteira, então, limparam a mata e fizeram estradas que escondiam com a magia das bruxas aliadas e apenas os lobos aliados podiam ver e usar.
Lyra dirigia em silêncio, os olhos fixos à frente, a tensão estampada no rosto. River, no banco do passageiro, mantinha-se fechado, o maxilar travado, os punhos cerrados no colo, mesmo depois de tantos anos, ainda não havia se habituado o bastante aos carros para dirigir um, então, sempre que precisavam, Lyra era quem o fazia.
Lua, no banco de trás, mal piscava, o sonho ainda queimava em sua mente, mas agora se misturava à notícia dolorosa, a dor que a perda de sua tia trazia…
“Caleb… Será que ele teve… Não, ele nunca faria isso, nunca!”, pensou, balançando a cabeça.
O monstrinho nunca machucaria sua propria mãe, não é?
Quando chegaram a Ventos Sombrios, os três sentiram o desespero de longe.
O caos reinava, um lado inteiro da alcateia estava destruído: casas em pedaços, sangue espalhado, o cheiro de morte impregnado no ar. Os lobos se moviam de um lado para o outro, tentando organizar o que restava, ajudando os feridos, tirando os destroços do caminho.
***
Horas depois, quando parte do caos havia se acalmado e os feridos foram decididamente cuidados, a alcateia se reuniu para o funeral.
O corpo de Camilla foi colocado sobre uma pira no centro, cercada por flores brancas e lilases. Tommy se aproximou com uma tocha, ao lado dele, segurando a tocha com o padrasto, Amber encarava o fogo com um olhar vazio e lágrimas que escorriam pelo seu queixo e pingavam no chão. Os dois levaram a tocha as flores, incendiando a pira, fazendo a fumaça subir em direção a lua que iluminava o local.
— Que a nossa Luna, minha esposa, seja recebida pela deusa da lua como a loba corajosa, companheira amorosa e mãe perfeita que foi — Tommy disse, deixando a tocha de lado, sua voz tremia e ele chorava, sem esconder sua dor. — Fique ao lado da nossa deusa meu amor… E olhe por nós!
O fogo se ergueu alto, iluminando os rostos entristecidos, não enterravam sua Luna, queimavam seu corpo para que o espírito fosse livre e se unisse a deusa da lua de onde poderia cuidar deles junto aos outros que morreram.
Tommy estava destruído, o beta mal conseguia se manter de pé, os olhos fixos no fogo, a dor da perda clara em cada traço de seu rosto e até na forma como se movia. Não sabia como prosseguir sem o amor de sua vida…
Lyra tomou a palavra, a voz firme apesar das lágrimas que brilhavam em seus olhos.
— Camilla foi uma Luna forte, protegeu os seus até o fim, morreu como viveu: amando, lutando, se sacrificando pela alcateia. O legado dela viverá em cada um de nós.
Amber chorava sem parar, e Lua a abraçou, apoiando o queixo em seu ombro, sentindo o coração pesar ainda mais. Enquanto o fogo consumia o corpo da tia, Lua não conseguia afastar da mente o sonho que tivera, o fogo, os olhos vermelhos, o monstro… e o sussurro que ainda ecoava dentro dela.
Companheira.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Rejeitada: A Luna do Alfa supremo
Excelente pena que nao tem o livro impresso....
Muito bom! Livro excelente! História bem amarrada! Estou quase no final! Recomendo!...