O sol nasceu tímido sobre a Ventos Sombrios, como se até mesmo a própria manhã tivesse medo de iluminar o luto que pairava sobre a alcateia. O cheiro do fogo da noite anterior ainda impregnava o ar, misturado às cinzas e às flores queimadas. Aquele dia amanheceu pesado, como se o mundo inteiro tivesse decidido respeitar o silêncio e a dor daquela perda.
Tommy estava parado diante da clareira, os olhos vermelhos de tanto chorar, a barba desgrenhada, o corpo pesado como se cada músculo tivesse perdido a força. A ausência de Camilla era um buraco no peito dele que nunca se fecharia, agora, sem o amor de sua vida ele nunca mais seria o mesmo, mas precisava juntar seus cacos, porque a alcateia que sua esposa tanto amava precisava dele.
Lyra e River se aproximaram, lado a lado, a expressão deles cheia de tristeza.
— Tommy… — Lyra chamou baixinho, com uma doçura triste. — Nós precisamos ir, viemos às pressas, nem avisamos Solomon e Petra.
O beta levantou o rosto, forçando um sorriso sem vida.
— Eu entendo… — murmurou, a voz rouca. — Vocês já fizeram muito só de terem vindo e ajudado ontem.
River franziu o cenho, analisando a destruição ao redor.
— Vai precisar de ajuda pra reconstruir? Podemos mandar alguns homens, reforçar as patrulhas, o que for preciso.
Tommy balançou a cabeça, os olhos marejando de novo.
— Não. Isso… isso nós damos um jeito. Vamos enterrar nossos mortos, cuidar dos feridos, reconstruir cada casa. O problema… o problema é aqui dentro. — Ele levou a mão ao próprio peito, apertando o lugar onde antes morava o amor da vida dele. — Não sei se já sentiram algo parecido mas… Deusa, parece que as coisas nunca vão ter cores de novo, é como se eu tivesse sido queimado com ela…
River respirou fundo, a dor do amigo o chegando a ele também, nunca conseguiria imaginar como se sentiria se perdesse sua Lyra, se ela se fosse e ele ficasse ali. Em silêncio, o abraçou, forte, quase esmagando, como se quisesse passar parte da própria força, Lyra também se juntou, envolvendo os dois num abraço mais delicado, mas ainda assim que passava o carinho que tinha no peito.
— Nós vamos ajudar no que precisar, Tommy, sempre, ne, você nem seu povo precisam passar por isso sozinhos. — River disse firme.
Tommy apenas assentiu, sem conseguir dizer mais nada, quando o abraço terminou, seus olhos se desviaram para a frente da casa da alcateia e foi nesse momento que viu Amber.
A menina caminhava devagar, os ombros curvados, os olhos inchados e apagados, como se toda a luz tivesse sido arrancada dela. Lua estava ao lado, segurando sua mão, tentando passar algum conforto, as duas atravessaram a clareira juntas, e Tommy sentiu o coração se partir ainda mais.
— Lyra… — ele chamou, a voz pesada. — Vocês poderiam… Levar Amber com vocês?
Amber ergueu os olhos, tremendo.
— Não… Eu não posso. Tenho que ficar aqui, com meu pai, ajudar a alcateia.
— Amiga, vamos… — Lua insistiu, segurando as mãos dela. — Você precisa, vamos ficar juntas.
— Seu pai também quer que você venha, querida — Lyra reforçou tocando a cabeça dela com delicadeza.
Pelo seu dom, conseguia sentir a dor e o sofrimento da menina e, com aquele pequeno toque, conseguiu confortá-la ao menos um pouco com seus poderes.
Amber olhou para as duas, dividida entre a dor e o medo, mas o jeito como Lua a apertava, como não soltava sua mão, fez a decisão nascer quase sozinha.
— Tá… eu vou — sussurrou.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Rejeitada: A Luna do Alfa supremo
Excelente pena que nao tem o livro impresso....
Muito bom! Livro excelente! História bem amarrada! Estou quase no final! Recomendo!...