Segunda Chance(Completo) romance Capítulo 34

O relógio marcava três da madrugada, mas nem isso fora o suficiente para impedir que uma mulher enrolada no lençol vagasse pelo cômodo escuro de sua casa. Por mais que Jessy pensasse, não conseguia encontrar uma razão sensata para o que fizera, e permanecer ao lado de Valentin, deitados na mesma cama, apenas lhe deixava enojada de si mesma. Inúmeros sentimentos contraditórios preenchiam o seu ser naquele instante. Frustrada, Jessy sentou-se no sofá, deitando-se em seguida. Ela não conseguia dormir, mas fechar os olhos a fazia se sentir bem. Ela se sentia em meio a um pesadelo que logo acabaria quando abrisse os olhos.

Valentin abriu os olhos deparando-se com o vazio ao seu lado. Fez menção de levantar-se e ir atrás dela, mas logo deu-se conta do ridículo pensamento. Percebeu estar confuso sobre como deveria se sentir naquele instante. Voltou a sua atenção para o teto branco, e em seguida para o quarto a sua volta. Apesar da pouca luz, não era difícil distinguir tudo o que via. As roupas dela estavam jogadas no chão, misturadas com as dele. Ergueu-se se sentando, e com uma expressão indecifrável, caminhou ate a sala onde ficou observando Jessy, deixando-a sozinha com seus pensamentos minutos depois. Valentin retornou ao quarto, pegou as suas roupas, as quais estavam espalhadas e ao parar em frente a um espelho, se olhou por longos instantes ate aproximar-se lentamente dele. O tocou sentindo a frieza do espelho. Levo a sua mão ao reflexo de seu rosto.

–Estaríamos desse jeito agora – Valentin murmurou ao fechar os olhos em seguida. Ao se virar de costas, vislumbrou uma cicatriz em sua costa, e com uma expressão estranha na face, levou a mão ate ela – De alguma forma me sinto próximo a você com isso. – murmurou.

Flashback on

Desde pequenos, os gêmeos Magnos, gostavam de aventurar-se pelos lugares e desbravar o desconhecido sem o conhecimento de sua mãe. Naquela quente primavera, eles caminhavam lado a lado pelo redor da casa de campo de sua família. Por mais que visitassem aquele local, sempre encontravam algo novo. A escócia podia ser o lugar mais aventureiro para duas crianças do que o próprio oceano. O mais novo deles, Victor, sorria discreto ao caminhar sem prestar atenção para onde ia, como estava acostumado a fazer, enquanto Valentin ia logo atrás dele atento. Victor, com seus doze anos de idade já aparentava ser curioso e irresponsável, parou próximo a formação rochosa que apresentava possuir uma queda de 3 metros, ficando em pé na beirada, demonstrando não ter medo.

–Saia daí – Valentin disse temendo pelo irmão sem se aproximar – venha..

–Venha ate aqui, irmão – Victor o chamou sorridente – é bonito. – Valentin como toda criança acabara indo apesar do medo que sentia. Aproximou-se a passos lentos, e logo percebeu que sua altura não era tanta quanto imaginara. Parou ao lado de seu irmão com um sorriso na face – viu? – Victor disse sorridente ao olhar para frente. – vamos pular? – perguntou ao olhar para baixo – é seguro. Tenho certeza que estaremos seguros. Vamos?

–Não acho que seja o melhor... – Valentin disse expressando o seu receio.

–Não seja medroso – Victor provocou ao segurar na mão de Valentin, puxando-o, surpreendendo-o e sem como escapar, Valentin e Victor pularam em direção ao mar. Após alguns segundos submerso, Victor, emergiu com um sorriso travesso – Está vendo que não foi ruim? – disse alto ao olhar para o lado, mas logo o seu sorriso se desfez ao ver o corpo de Valentin boiando na água, a qual possuía presença de sangue. – VALENTIN – gritou em desespero ao nadar ate onde ele estava. Sem saber como, conseguiu tirar seu irmão do mar e buscar por ajuda. Victor não sairá do lado de Valentin por horas após ser levado para o hospital. Aquele episodio havia aproximado ainda mais os irmãos. Toda a vez que Victor via a cicatriz nas costas de seu irmão, lembrava-se do quanto ele era frágil e de como deveria ficar ao seu lado. –Nunca mais... Nunca mais irei fazer nada para lhe machucar – Victor prometeu sinceramente.

Flashback off

Valentin vestiu a sua blusa com o olhar indecifrável. Abotoou a sua camisa, enquanto olhava para a sua imagem no espelho e em seguida para o quarto em que estava. Nada naquele cômodo lembrava-lhe a mulher amargurada que via todos os dias. Os porta-retratos espalhados pelo quarto mostravam uma mulher feliz, amada e serena, algo que ele não conseguia ver nela. Aproximou-se de um dos retratos mantendo o semblante indecifrável ao vê-la abraçada a Victor. A sua copia fiel. Continuou olhando por inúmeros segundos, pegando-se imaginando como seria se o homem naquele foto fosse ele, e não seu irmão.

“O que estou pensando?” se perguntou ao colocar o retrato de volta ao lugar. Olhou pela ultima vez o quarto, antes de pegar as suas coisas e sair, sem olhar para trás. Ao passar na sala, estancou ao ver Jessy deitada no sofá, encolhida como uma criança que necessitava de proteção. Com cuidado, aproximou-se dela, se ajoelhou no chão e sem perceber, levou a mão ao rosto dela, acariciando-o. Observou os traços do seu rosto, dando-se conta que já começara a gravar todos os detalhes. Ele não soube dizer quando começou a reparar nela, mas aos poucos, lentamente, todo o seu rosto, o seu corpo, lhe era familiar. Seus dedos percorreram a extensão dos seus lábios, do seu nariz e de seus olhos. A pouca luz na sala fora suficiente para que ele percebesse o corpo moldado pelo lençol. Pegou-se olhando para ela com malicia.

–Devo estar realmente...ficando louco – sussurrou para si mesmo ao erguer-se, sempre olhando para ela. Suspirou antes de ir em direção a porta e sair. Em contrapartida com o barulho da porta se fechando, uma mulher remexeu-se no sofá, denunciando a verdade.

–Assim como o vento.. – Jessy murmurou ao abrir os olhos. Durante todo o momento ela estava desperta, apenas não quis demonstrar por vergonha e receio – na estação do verão, irá embora. Me deixando com um sentimento estranho. Sou apenas eu que estou tão confusa? – se perguntou ao fechar os olhos com força afim de tirá-lo de sua mente, sem sucesso.

***

Um carro seguia em alta velocidade pelas ruas desertas á aquele horário. O barulho do motor e o som do vento tinham o dom de acalmar o coração e a mente de Valentin, os quais trabalhavam incansavelmente. Ele não conseguia parar de pensar no que acabara de fazer. Por mais que ele falasse a si mesmo que havia sido pela sua vingança, nem ele mesmo acreditava em suas mentiras. O semblante de Jessy fazia com que ele se sentisse mal consigo mesmo.

–Eu não posso.. Eu tenho que odiá-la – repetiu para si mesmo inúmeras vezes afim de que se tornasse realidade. – Não posso fazer isso – disse ao acelerar ainda mais o carro. Ele não sabia em que direção estava seguindo, apenas desejava afastar-se dela. Mais e mais.

***

Grace olhou para Luiza de soslaio ao guardar o celular em sua bolsa. O semblante que outrora demonstrava alegria, transformou-se para ódio e raiva. Grace esboçou um sorriso frio ao olhar para sua futura nora.

–Talvez devêssemos acelerar os preparativos. O que acha? – Grace perguntou a Luiza, a qual apenas assentiu confusa. Em seu intimo, Luiza, desejava conquistar Valentin primeiro. Ela desejava vê-lo apaixonado por ela como todos os homens com quem se relacionara. Ela não aceitaria casar-se com alguém que não pudesse controlar.

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