O céu da fazenda amanheceu pintado com tons delicados de azul-claro e pinceladas de nuvens esfiapadas que pareciam feitas de algodão. O canto dos passarinhos ecoava pelos galhos altos, e o aroma de pão recém-assado vindo da cozinha se misturava ao cheiro fresco do orvalho que ainda cobria as folhas do laranjal. Era um daqueles dias em que o mundo parecia suspenso entre a tranquilidade e a alegria.
Depois da surpresa ao descobrir que sua tia Isa e seu pai estavam namorando, Aurora saiu do quarto correndo para contar a novidade para a sua vovó Flor. Isabella se levantou enrolada no lençol com o corpo ainda nu envergonhada e Lorenzo a beijou sussurrando que já estava com saudades.
Isabella tomou um banho e se trocou, enquanto Lorenzo se dirigiu ate o quarto que seria seu e também fez o mesmo.
Ambos sentiam os corações acelerados, não existia mais barreiras que os impedisse de viver essa linda história de amor. Depois do café da manhã, Aurora insistiu que o pai fosse cavalgar com ela, e Lorenzo aceitou animado. Fazia anos que não montava num cavalo e estava disposto a viver tudo o que amava, ao lado de Isabela e sua filha, sem medos ou inseguranças.
Aurora já estava pronta antes mesmo que Lorenzo terminasse de ajustar a sela do cavalo. Usava uma jardineira jeans por cima de uma blusa de mangas compridas e babados, e suas botinhas de couro favoritas já estavam gastas de tanto correr pelos campos. O sorriso, porém, parecia novo, como se nascesse de dentro para fora a cada batida do coração.
— Hoje eu vou voar com o papai no cavalo! — exclamava, saltitando ao redor de Umuarama, o cavalo de crina farta e olhar paciente.
Lorenzo, vestido com jeans escuros, uma camisa xadrez aberta nos punhos e botas de couro, se agachava para ajustar as fivelas da sela com a tranquilidade de quem, surpreendentemente, começava a se sentir em casa naquele cenário.
Isabella observava da varanda, com uma caneca de café entre as mãos e o olhar perdido nos dois. Seu vestido leve de algodão voava com o vento, e o cabelo solto balançava nos ombros. Mas o que realmente a deixava imóvel era aquela cena à sua frente. Lorenzo, um homem que até pouco tempo ela mal conhecia, agora parecia ter se enraizado profundamente em algo que ela jamais imaginou compartilhar com alguém: sua vida.
— Tia Isa, olha pra mim! — gritou Aurora, já sobre a sela, com o corpo seguro entre os braços do pai. — Eu sou a cowgirl mais veloz do mundo!
— E eu sou o cavalo mais corajoso! — brincou Lorenzo, fazendo o cavalo trotar com delicadeza, ele sorria de maneira espontânea e se sentia feliz como há muito não sentia.
Isabella soltou uma risada encantada. E foi nesse instante que ouviu passos se aproximando atrás de si, acompanhados do farfalhar de uma saia longa e de um leve perfume de lavanda.
— Você está radiante, minha neta. — disse Flora, colocando a mão carinhosamente sobre o ombro de Isabella. — Parece até que o sol resolveu nascer do seu lado hoje.
Isabella virou-se e sorriu, recebendo um beijo demorado da avó na testa. Flora vestia um vestido floral com um avental amarrado à cintura, o lenço nos cabelos brancos combinava com o brilho afetuoso nos olhos.
As duas se sentaram nos degraus da varanda com a tranquilidade de quem podia contemplar o tempo. Isabella mordeu uma maçã vermelha colhida na noite anterior, enquanto os olhos continuavam presos naquela cena: Aurora rindo livre, e Lorenzo conduzindo o cavalo como se tivesse nascido para isso.
— Sabe, vó… às vezes eu olho para os dois juntos e penso, será que isso é real? — sussurrou Isabella. — Porque por tanto tempo eu só conheci silêncio e solidão… e agora parece que a vida resolveu me contar outra história.
Flora assentiu, com aquele jeito sábio que só as avós conhecem.
— Talvez seja porque você merecia ouvir essa história há muito tempo, minha filha. E o mundo só esperava o momento certo pra te contar.
— Eu ainda tenho medo, vó. — confessou Isabella, com a voz baixa. — Ele é… tudo que eu achei que não podia ter. E eu… eu não sei se posso acreditar nisso sem desconfiar que algo vai me escapar pelos dedos.
Flora olhou para a neta com um carinho que doía.
— Eu te vi crescer, Isabella. Te vi ser forte quando ninguém mais via, te vi criar sonhos em silêncio, te vi cuidar de todo mundo, menos de você. Agora, finalmente, vejo você se permitindo sentir. Isso não é fraqueza, minha flor… é coragem.
Isabella baixou os olhos.
— E quanto a ele? Lorenzo ainda é um mistério pra mim. Mas quando ele olha pra mim, vó… quando segura minha mão ou quando ele me beija, eu juro que sinto como se tudo pudesse dar certo.
Lorenzo a puxou mais perto, beijou sua bochecha e, por um instante, olhou na direção da varanda. Seus olhos encontraram os de Isabella, e foi como se o tempo parasse. A conexão era silenciosa, mas dizia tudo.
Flora sorriu discretamente, observando o olhar da neta se iluminar.
— Tem muito amor nesse olhar, minha filha.
— Tem, vó. — murmurou Isabella, com a voz embargada. — Eu só espero que um dia ele consiga dizer com a mesma clareza que sente.
— Talvez ele não precise dizer, minha flor. Talvez ele só precise continuar olhando pra você desse jeito.
Naquele dia, o tempo passou devagar. Eles almoçaram juntos sob a sombra das árvores, colheram frutas no pomar, alimentaram os pintinhos no galinheiro e viram o céu se tingir de laranja ao entardecer.
E quando Aurora, cansada, se aninhou nos braços do pai e cochilou com a cabeça no colo de Isabella, a fazenda inteira pareceu respirar em paz.
Porque havia algo sagrado naquele trio improvável.
Algo que nenhuma cidade grande, nenhum passado sombrio, e nenhum medo conseguiria apagar.
Amor!

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: A Babá Virgem e o Viúvo que Não Sabia Amar