O sol já se escondia por trás das colinas, pintando o céu com cores que pareciam ter saído diretamente do coração de um artista apaixonado. Eram tons de laranja queimado, rosa suave e dourado líquido que tocavam a copa das árvores, os campos da fazenda e até mesmo a madeira gasta do alpendre, que agora parecia brilhar com um certo ar de saudade.
O cheiro de terra molhada misturado ao perfume doce das flores silvestres criava uma atmosfera quase sagrada, um instante suspenso no tempo, onde tudo parecia mais leve, mais real, mais verdadeiro.
Lorenzo caminhava devagar pelo quintal, como se cada passo precisasse ser pensado com cuidado. Carregava no peito um peso doce, difícil de explicar. O tipo de peso que só o amor sincero, profundo e transformador pode trazer. Os olhos dele, escurecidos pelo tempo e pelas perdas, agora brilhavam de forma diferente ao avistar Isabella ao longe.
Ela estava descalça, de vestido claro que esvoaçava suavemente com a brisa do entardecer. O cabelo solto reluzia sob a luz dourada do sol poente, e seu sorriso, ah, o sorriso dela, era o tipo de coisa que fazia qualquer homem se ajoelhar por menos. Ao lado, Aurora corria entre as galinhas do quintal, rindo como se o mundo fosse feito só de leveza. A gargalhada da menina ecoava no ar como um cântico feliz.
Lorenzo parou.
Ficou ali, apenas observando. Sentiu a garganta apertar e os olhos se umedecerem sem aviso. Aquela era a visão de um lar. E ele, depois de tantos caminhos tortos, estava finalmente encontrando o seu.
Com um suspiro longo e fundo, virou-se e caminhou até a varanda. Flora estava lá, sentada em sua cadeira de balanço, com o crochê repousando tranquilo sobre o colo. Seus dedos ágeis teciam com naturalidade, mas o olhar… o olhar estava atento, como sempre. Verde como os campos da fazenda, e tão profundo quanto as raízes daquela terra.
— Lorenzo… — ela disse, sem precisar de mais do que o tom da voz para demonstrar que já sabia que ele vinha com o coração cheio. — Vem se sentar comigo um pouco?
Ele assentiu com um gesto simples, puxando a cadeira ao lado dela. Sentou-se com um suspiro, cruzando as mãos nos joelhos. Por alguns instantes, os dois apenas olharam para a cena diante deles, Isabella e Aurora sendo luz no entardecer.
O silêncio entre eles era confortável, mas Lorenzo carregava urgência no peito. Não podia mais guardar aquilo.
— A senhora sabe que… — começou ele, com a voz baixa, arrastada, pesada como quem escolhe cada palavra com cuidado — eu não sou um homem de falar muito.
Flora ergueu levemente uma sobrancelha, um pequeno sorriso nos lábios.
— Sei, sim.
— Mas tem coisas que… que precisam ser ditas. — Ele respirou fundo. — Eu sinto algo por Isabella que ultrapassa tudo que já senti antes. Não é só desejo ou necessidade, é…
— Amor. — respondeu Flora com um sorriso nos lábios.
Lorenzo baixou a cabeça e sorriu.
— É como se ela tivesse colocado meu mundo de volta no eixo. Ela trouxe luz pra minha casa, para minha filha e para minha vida.
Ele fez uma pausa, encarando as próprias mãos. Depois, voltou os olhos para Flora, e neles havia vulnerabilidade.
— Eu a quero ao meu lado. Como minha esposa.
Flora pousou o crochê no colo devagar, como se estivesse esperando por esse momento desde sempre. Virou-se para ele, com suavidade e firmeza no olhar.
— Está me dizendo isso porque acha que precisa da minha bênção?
— Não. — respondeu ele, rapidamente. — Eu não acho que preciso da sua permissão. Mas eu… preciso que a senhora saiba. Que confie. Que veja que eu não estou brincando com os sentimentos da sua neta. Ela é… tudo que eu sempre desejei e sonhei para mim.
A emoção começou a subir. Lorenzo passou a mão no rosto, como quem tenta afastar o nó na garganta.
— Eu sou um homem com cicatrizes. Perdi mais do que gostaria de lembrar. E me perdi no caminho, mais vezes do que posso contar. Mas… Isabella me devolveu o rumo. Ela me faz desejar viver. Me faz desejar ser… alguém melhor.
Os olhos de Flora se umedeceram, mas ela não interrompeu.
— Eu a machuquei. Sim, sei que machuquei. Porque tive medo. Medo de não estar à altura. De não conseguir dar a ela o que merece. Mas agora eu sei. Sei o que ela merece.
— E o que é? — Flora perguntou, com suavidade, como quem testa a firmeza das intenções.
Lorenzo a encarou, sem hesitação.
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