A noite caiu macia sobre a fazenda, cobrindo tudo com um manto de estrelas miúdas e uma lua redonda, brilhando alto como se vigiasse os amores secretos da terra. Era como se o tempo, ali, andasse mais devagar, como se o universo tivesse decidido fazer uma pausa para observar a beleza escondida nas coisas simples.
Na varanda de madeira antiga, tingida pela luz prata da lua, o silêncio era embalado pelo som suave dos grilos, o farfalhar tímido das folhas e o rangido preguiçoso da velha rede de tecido florido, balançando lentamente entre dois pilares gastos pelo tempo.
Ali, aninhados entre os tecidos coloridos da rede, estavam Lorenzo, Isabella e, espremida com gosto no meio dos dois, a pequena Aurora, que, embora já rendida pelo sono, ainda resistia bravamente à ideia de se entregar à noite. As perninhas cansadas cruzadas sobre o colo do pai, a cabeça escorada no ombro de Isabella, as mãos pequenas segurando um último pedaço de pão com geleia que ela mordiscava distraída, como se esse gesto adiasse o fim do dia.
Lorenzo estava mais relaxado do que jamais estivera.
Usava uma camisa de linho branco, aberta nos primeiros botões, deixando parte do peito à mostra, os cabelos revoltos pela brisa e a barba por fazer acentuando os traços fortes de um homem que, por dentro, era pura ternura. O olhar dele, antes carregado de peso e silêncio, agora estava leve e pousava em Isabella com uma intensidade tão doce que chegava a ser silenciosamente avassaladora.
Ela, por sua vez, usava um vestido claro de tecido leve, que dançava contra suas pernas toda vez que o vento passava. O cabelo solto e um pouco bagunçado, o sorriso contido no canto da boca, e aquele brilho nos olhos, o brilho de quem encontra a paz onde menos esperava. O vestido deixava à mostra parte das coxas delicadas, que Lorenzo não conseguia deixar de admirar, mesmo que tentasse.
Foi então que Aurora, do alto de seus poucos anos e sua sabedoria inocente, lançou uma pergunta que os pegou desprevenidos.
— Papai, quem vai cuidar dos pintinhos quando eu for embora? — murmurou, com a voz baixa, já arrastada de sono.
Lorenzo sorriu e ajeitou melhor a filha no colo.
— As galinhas, ué. Elas são as mamães deles, lembra?
— A mamãe cuida, né? — a menina rebateu, com a lógica cristalina de quem ainda não conhece os limites da vida adulta. — É por isso que a tia Isa é minha mamãe. Porque ela cuida de mim.
O silêncio caiu como um sopro. Isabella ficou imóvel por um segundo, com os olhos marejando devagar, como se aquelas palavras tivessem destrancado algo dentro dela. Lorenzo apenas sorriu, como se confirmasse uma verdade que ele já sabia, mas que precisava ouvir para ter certeza.
Flora, que tricotava num cantinho da varanda, parou o que fazia para ouvir, com um olhar terno e nostálgico.
Aurora levantou o rosto para Isabella, com os olhinhos quase fechando, mas a expressão cheia de decisão.
— Tia Isa… eu posso te chamar de mamãe?
Isabella levou a mão até o rosto pequeno da menina, como se não acreditasse que aquilo estivesse realmente acontecendo. Tocou sua bochecha com os dedos leves, como quem toca um milagre.
— Isso me faria a mulher mais feliz do mundo, meu amor.
— Eu te amo, mamãe. — murmurou Aurora, e então se aninhou ainda mais no colo deles.
— Eu também te amo, minha princesa — respondeu Isabella, com a voz embargada, cobrindo-a com um abraço protetor, como se pudesse guardá-la ali para sempre.
— Mamãe… — a menina ainda insistiu, com a voz mais fraca.
— Hm?
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