Depois que Dr Estefano saiu da fazenda, o celular de Lorenzo, deixado sobre o aparador ao lado, vibrou com um toque discreto. Ele se aproximou com cuidado, e atendeu. Era Marco.
A conversa durou poucos segundos.
— Boa notícia. — disse ele, sorrindo ao retornar para a sala. — A reunião foi remarcada para amanhã à tarde. O que significa que… podemos ficar. Mais uma noite.
Isabella arqueou as sobrancelhas, surpresa.
— Sério?
— Sério. — Ele sorriu, olhando nos olhos dela. — A gente dorme aqui. Só nós três.
— OBA ENTÃO VOU ME DESPEDIR DO PINGO.
Todos riram.
Horas depois, a noite se debruçava devagar sobre os campos, tingindo o céu de tons dourados, rosados e, por fim, um azul profundo cravejado de estrelas. A brisa era morna e perfumada pelas ervas do jardim de Flora, e dentro da casa, tudo exalava um tipo de aconchego que não se fabricava, apenas se sentia.
O jantar fora preparado com capricho: arroz soltinho com alho dourado, frango assado com crosta de ervas, salada colhida do quintal e uma torta de goiabada quente, saída do forno poucos minutos antes de todos se sentarem à mesa. As velas acesas sobre a toalha de linho criavam sombras suaves e cálidas que dançavam nas paredes, enquanto o aroma da comida se misturava ao som de risadas suaves.
Lorenzo estava sentado à cabeceira, com Aurora aninhada em seu colo. A menina montou em pingo por horas, ajudou Flora a alimentar os porquinhos, pegou os ovos no celeiro com Isabella, comeu bem, e agora lutava contra o sono que pesava em suas pálpebras. Estava de pijaminha florido, com os braços soltos ao redor do pescoço do pai, a cabeça encostada em seu ombro. Os dedos dela seguravam, ainda com leveza, um pedaço de pão, mas os olhos já não conseguiam mais permanecer abertos.
— Lutando bravamente contra o sono. — comentou Flora, sorrindo enquanto recolhia um dos pratos vazios.
— Ela queria aguentar até a sobremesa — disse Isabella, rindo baixo.
Lorenzo olhou para a filha com carinho. Beijou os cabelos dela, que já estavam úmidos do banho e com cheiro de lavanda.
— Eu acho que já temos uma pequena vitoriosa vencida. — murmurou, embalando a menina com um movimento sutil.
Isabella observava a cena em silêncio, com os olhos fixos naquela imagem que parecia ter sido arrancada de um sonho seu. A maneira como Lorenzo segurava Aurora, com tanto amor, com tanto cuidado… doía e curava ao mesmo tempo. Por um momento pensou e se as suas suspeitas foram confirmadas? E se estivesse carregando uma vida dentro de si? Será que Lorenzo ficaria feliz?
Quando Flora voltou com a torta fumegante, Lorenzo sorriu agradecido, mas fez um gesto com a mão.
— Acho que vou deixar a sobremesa pra amanhã. Se eu me mexer agora, ela acorda — sussurrou, referindo-se a Aurora.
— Leva pra viagem — disse Flora, servindo Isabella. — Um pedaço da fazenda pra quando der saudade.
O clima ficou mais silencioso por alguns segundos. O tipo de silêncio que vem quando todos sabem que o tempo está se esgotando, mesmo sem ninguém querer dizer em voz alta.
Foi Isabella quem rompeu.
— Amanhã vai ser difícil… — murmurou, baixando os olhos para a torta em seu prato. — Vou sentir saudade de você vovó e da fazenda.
— Ora minha querida, quando a saudade bater, venham a casa é de vocês e outra coisa, também farei uma visita a vocês em breve.
— Dona Flora, contratei mais empregados para poder ajudá-la na fazenda, já que a senhora não quer ir conosco, pelo menos quero garantir que continue fazendo o que gosta mais não sozinha.
Flora sorriu e encarou os olhos azuis de Lorenzo e disse:
— Não precisava, meu filho, mas fico grata. Vai ser bom poder ir ao bingo com minhas amigas nos domingos.
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