Na manhã seguinte, o sol nascia devagar, a fazenda começava a acordar em silêncio, com o som distante dos galos e o cheiro de café fresco vindo da cozinha. No quarto, Isabella se remexeu devagar entre os lençóis, sentindo o calor suave do corpo de Lorenzo ainda junto ao seu. Aurora dormia entre eles, o rostinho sereno, os cabelos bagunçados repousando sobre o ombro da babá.
Por um momento, Isabella ficou apenas ali, imóvel, observando os dois. Lorenzo dormia profundamente, uma das mãos repousando sobre a cintura dela, como se, mesmo dormindo, não quisesse deixá-la escapar. Ela sorriu achando engraçado. O peito se encheu daquela mesma certeza que a invadiu na noite anterior: ela estava exatamente onde deveria estar.
Se levantou com cuidado, depositando um beijo no rosto dos dois e caminhou até o banheiro. Ainda era cedo e iria ajudar a avó com o café da manhã.
O sol da manhã já aquecia os paralelepípedos do pátio quando Beatriz chegou. O carro a deixou perto do portão da frente, e ela veio caminhando com sua típica leveza de quem parece carregar a vida numa sacola de risos. Trazia os cabelos presos em um coque bagunçado, óculos escuros grandes demais para o rosto delicado e um vestido florido que balançava com o vento.
Assim que avistou Isabella na varanda, sentada com uma xícara de café na mão e um sorriso ainda sonolento nos lábios, Beatriz abriu os braços e apressou o passo.
— Acordou, princesa da roça? — brincou, puxando-a para um abraço apertado.
Isabella riu, encostando a cabeça no ombro da prima.
— Chegou cedo.
— Cedo nada, o carro saiu atrasado — respondeu ela, tirando os óculos e encarando a prima com um sorriso maroto. — Que bom que deu tempo de me despedir de você. Então resolveu seguir o meu conselho e atravessar a ponte?
Isabella sorriu e respondeu:
— Sim, resolvi.
— Então é oficial?
— Estamos juntos.
— Então temos muito a comemorar! Mas antes preciso comer alguma coisa, essa viagem me deixou faminta.
Beatriz segurou a mão da prima e entrou correndo atravessando a sala com a naturalidade de quem já se sentia em casa. Puxou uma cadeira na cozinha e se jogou sobre ela com um suspiro exagerado, deixando a bolsa cair no chão ao lado. Isabella veio logo atrás, ainda sorrindo da animação da prima, e sentou-se do outro lado da mesa, onde a toalha de linho branco já estava posta com xícaras, potes de geleia e uma jarra de suco de laranja.
— Cheguei vovó!
— Minha neta, que saudade. Sente-se estou fazendo panquecas.
Flora, de avental florido e um pano de prato pendurado no ombro, estava diante do fogão preparando panquecas com a destreza de quem já fizera aquilo por toda a vida. A cada movimento, o aroma doce da massa dourando na manteiga invadia o ambiente e parecia aquecer ainda mais o coração de quem estivesse por ali.
— Vó, isso tá com um cheiro absurdo de bom — elogiou Beatriz, colocando a mão sobre o estômago. — Panquecas são o verdadeiro abraço da gastronomia.
— E você parece precisar de muitos abraços. — disse Flora, divertida, virando uma panqueca no ar com maestria.
Beatriz olhou para Isabella com um sorrisinho malicioso e se inclinou sobre a mesa, abaixando um pouco o tom da voz, como se estivesse prestes a revelar, ou arrancar, um segredo precioso.
— E aí? — sussurrou. — Já perdeu a virgindade? Quero saber detalhes.
Isabella arregalou os olhos e tentou conter o riso, ruborizando imediatamente.
— Beatriz! — sibilou, cobrindo o rosto com as mãos. — Pelo amor de Deus, a vó tá aqui.
— A vó tá ocupada fazendo panquecas, e eu sou sua prima, não uma repórter de revista sensacionalista — respondeu Beatriz, rindo baixo. — Mas se quiser, posso ser os dois. Então? Foi bom? Foi do tipo que faz você esquecer até o próprio nome?


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