A sobremesa chegou num desfile perfumado. Taças de creme brûlée com a crosta estaladiça, frutas vermelhas brilhando como joias e uma torta morna de maçã que perfumou a sala inteira com canela. Maria circulava com leveza, reabastecendo taças, servindo café, ajeitando guardanapos como quem coreografa o conforto. Aurora, com um bigodinho de chantilly, tentou convencer todo mundo de que ainda não estava com sono, mas o bocejo teimoso que lhe roubou a fala denunciou a derrota iminente.
— Hora de escovar os dentes. — decretou Antonella, doce e irrefutável.
— Mais cinco minutos, vovó? — implorou Aurora, segurando a colher como um cetro.
— Três… — respondeu Antonella, piscando. — E nisso estou sendo generosa.
Lorenzo sorriu e levantou-se para ajudar, mas Isabella já estava ao lado da menina, limpando-lhe o rosto com um guardanapo e sussurrando algo que a fez rir baixinho. O olhar dele, inevitável, pousou ali e ficou. Não era apenas admiração, era um magnetismo calmo, cheio de certezas recém-descobertas. A cada gesto de Isabella, a cada sorriso que ela oferecia a Aurora ou a Maria, o rosto de Lorenzo ganhava um brilho novo, um brilho que Giulia, obviamente, não deixaria passar.
Isabella antes de ir para a sala onde todos estavam acomodados, carregou Aurora nos braços e a levou até o seu quarto, a ajudando a escovar os dentinhos e colocar o pijama. Depois de uma história calorosa e um beijo de boa noite, ela cobriu a menina com suavidade e sussurrou:
— A mamãe ama você.
Isabella ficou alguns segundos apenas olhando o rosto adormecido de Aurora, o peito subindo e descendo num ritmo manso. Ligou o abajur em formato de nuvem, beijou de leve a testa da menina e endireitou o cobertor até o queixo, quando se levantou e girou o corpo na direção da saída, parou ao ver quem estava lá.
Lorenzo estava ali, parado no batente, como se fizesse guarda naquele pequeno universo. Não disse nada, só a olhava.
A luz morna do corredor desenhava o contorno do corpo dele com crueldade precisa. A calça de flanela, macia e baixa no quadril, moldava as coxas e o músculo dos glúteos de um jeito quase indecente. Cada passo que ele deu até ali parecia ter deixado a trama do tecido mais fiel à anatomia. A camisa de malha, simples, de mangas longas, dobradas até o meio do antebraço, abraçava os ombros largos e o peito sólido, esticando sutilmente a cada respiração. As veias nos antebraços desenhavam um mapa sob a pele, e o tecido obediente deixava adivinhar a força escondida, nada exibicionista, tudo irremediavelmente presente.
O arrepio veio primeiro, um traço fino correndo pela nuca de Isabella. Depois, o calor, um incêndio silencioso acendendo sob a pele, espalhando-se pelas costelas, pelo ventre, até inflamar a vontade. Ela tragou em seco. O perfume dele atravessou o corredor e encontrou o dela no meio do caminho.
— Eu ia descer… — sussurrou, e a própria voz soou distante.
— Eu sei. — A boca de Lorenzo curvou quase imperceptível. — Mas não consegui deixar você passar por essa porta sem…
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