A noite caiu devagar, como se quisesse demorar um pouco mais sobre a mansão, tingindo o céu de um azul profundo que parecia convidar à introspecção. Uma brisa suave entrava pelas janelas semi abertas da sala de jantar, fazendo as cortinas de linho se moverem num balé preguiçoso. O ar trazia consigo o perfume discreto das flores do jardim e o frescor da terra úmida depois da rega.
Da cozinha, vinha um aroma irresistível, uma mistura de temperos e assados, e o cheiro doce do pão recém-saído do forno. Maria e uma das ajudantes finalizavam a arrumação, trocando palavras rápidas e coordenadas, como quem já conhecia cada gesto da outra.
A mesa estava impecável.
Uma toalha branca de linho se estendia como um manto sobre o tampo de madeira maciça. No centro, arranjos de flores frescas, rosas brancas e lavandas, espalhavam um perfume delicado. Velas altas ardiam com uma luz suave, lançando sombras alongadas pelas paredes e criando um ambiente intimista, quase cerimonioso. Os talheres reluziam sob a claridade tênue, e as taças de cristal pareciam esperar histórias para serem brindadas.
Aurora foi a primeira a entrar, como uma lufada de energia viva. Os passos eram apressados, e o som das sapatilhas ecoou pelo chão de mármore. Os olhos brilhavam com aquela empolgação que parecia transbordar desde o banho, e era impossível não sorrir ao vê-la assim.
Logo atrás, Isabella surgiu no corredor, os cabelos ainda ligeiramente úmidos caindo sobre os ombros, soltando um perfume fresco de sabonete. Vestia algo simples, mas havia nela uma elegância natural que Lorenzo parecia ser o único a perceber em toda a sua intensidade. Ele vinha junto, usava uma camisa de mangas de algodão, dobradas no antebraço e uma calça de flanela, exibindo um ar mais relaxado.
À medida que se aproximavam da mesa, Lorenzo deixou que sua mão roçasse discretamente na dela. Não foi um toque acidental. Foi proposital, calculado, carregado de uma intimidade que se dizia em silêncio. Isabella sentiu, e, por mais que tentasse controlar a respiração, não conseguiu evitar o leve acelerar do coração.
Antonella já estava à cabeceira, com a postura impecável de sempre, os cabelos loiros presos num coque que parecia resistir a qualquer movimento. Giulia estava ao lado, folheando uma revista com aparente desinteresse, mas os olhos levantavam-se vez ou outra, atentos a cada detalhe, cada interação.
Maria surgiu da cozinha enxugando as mãos no avental, com um sorriso acolhedor no rosto.
— A comida está servida. — anunciou, e o pequeno burburinho de cadeiras sendo puxadas encheu o ambiente.
Assim que todos se acomodaram, Aurora não esperou mais nenhum segundo. Pegou o garfo com determinação e começou a falar com a boca quase cheia, como se o que tinha a dizer fosse mais urgente do que qualquer regra de etiqueta.
— Vovó Antonella, você não vai acreditar! Lá na fazenda da vovó Flora tem um monte de cavalos… — disse, gesticulando com o talher, com os olhos arregalados de empolgação. — E eu montei em um deles!
Antonella arqueou as sobrancelhas, genuinamente interessada.
— É mesmo, querida? E você não ficou com medo?
— Não! — Aurora respondeu com firmeza, balançando os cachos dourados. — O papai segurou a corda e a mamãe ficou do meu lado, mas eu estava montando de verdade! — falou com orgulho, batendo levemente a mão sobre a mesa, fazendo o garfo tilintar no prato. — Eles são lindos e cheiram a… cavalos! — riu da própria definição, arrancando risos de todos. — Ah, e tem pintinhos! Tão pequenininhos que cabem na minha mão. Eu dei nome a todos eles.
Maria, encantada, inclinou-se para ouvir melhor.
— E a vovó Flora, como ela está?
— Ela está bem! O doutor Stefano foi ver ela e disse que ela ia ficar bem. — Aurora respondeu prontamente. — Ela me deu bolo de milho e a mamãe a ajudou a fazer, né, mamãe?
Isabella, que até então ouvia em silêncio com um sorriso discreto, assentiu.
— Ajudei sim. Mas você esqueceu de dizer que também ajudou. Ela é uma excelente cozinheira, Maria.
Enquanto ela falava, Lorenzo, sentado ao lado, inclinou-se levemente. Seus dedos tocaram de forma quase imperceptível o rosto de Isabella, afastando uma mecha rebelde de cabelo que insistia em cair. Foi um gesto breve, mas carregado de intimidade. Os olhos dele permaneceram nos dela um segundo a mais do que o necessário. Isabella sentiu o calor subir pelas bochechas e baixou o olhar, tentando se concentrar no prato.
Giulia ergueu as sobrancelhas, saboreando a deixa.
— Família… gostei dessa. — comentou, e então se inclinou discretamente para Isabella, sussurrando baixo o suficiente para que apenas ela ouvisse: — Bem-vinda oficialmente ao clube, cunhada.
Isabella arregalou os olhos e soltou um riso nervoso, balançando a cabeça como quem pede que ela pare. Mas Giulia apenas deu um gole no vinho, satisfeita com a reação.
Antonella, que acompanhava tudo com um sorriso discreto, fez apenas um comentário suave:
— É bom ver todos juntos assim.
Aurora retomou a palavra, voltando a narrar aventuras na fazenda. O cheiro da terra molhada, as árvores altas que pareciam tocar o céu, a promessa da avó Flora de deixá-la ajudar a plantar flores na próxima visita. Cada palavra dela era acompanhada de expressões vivas, enquanto suas mãos se moviam no ar para ilustrar cada cena.
Enquanto isso, Lorenzo manteve sua mão sobre a de Isabella, um toque discreto, escondido sob a toalha. Ele se aproximou dela discretamente, depositou um beijo no seu ombro nu e sussurrou:
— Dorme comigo essa noite?
Isabela corou e desviou o olhar para Lorenzo respondendo com um sorriso.
E, para ambos, aquele jantar tinha um sabor especial. Não era apenas sobre a comida, ou sobre a família reunida, era sobre a sensação inédita de estarem exatamente onde deveriam estar.

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