John
À tarde, John estava revisando as últimas alterações sobre o projeto da aquisição da filial de Miami enviadas pelo setor financeiro e jurídico. Não podia se distrair, milhões de investimentos estavam em risco e com ele o futuro cada vez mais poderoso do Grupo Walker.
Uma rara chamada de seu pai apareceu no celular, John hesitou por alguns segundos, ponderando se deveria atender. As constantes ligações de sua mãe, nas últimas semanas, ele vinha ignorando sem qualquer cerimônia.
Respirou fundo e, por fim, deslizou o dedo na tela, pelo menos seu pai era mais equilibrado e tranquilo.
— Oi, pai. — respondeu, em tom desanimado.
— Filho, está tudo bem? — A voz tranquila de Roger soou do outro lado com certa preocupação. — Sua mãe está preocupada… disse que você não atende mais as ligações dela.
John soltou um suspiro pesado.
— Tenho estado ocupado demais para… as bobagens da mamãe. — respondeu, sem qualquer esforço para disfarçar a irritação.
— Entendo… — Roger murmurou, com aquele tom paciente de quem conhecia bem as crises e dramas de Martha.
— Enfim… — apressou-se em mudar de assunto. — Por que não vem jogar golfe comigo neste domingo? Sua mãe vai visitar a irmã… Vai ser só nós três — eu, você e seu avô. O que acha?
John esfregou o queixo, pensativo. Fazia tempo que não ia à mansão Walker.
— Está bem… eu vou ver…mas não prometo — respondeu, sem muito entusiasmo.
— John, soube que você não se separou como era esperado. — A voz de Roger era de compreensão e até certo alívio.
— Foi mamãe quem pediu pra você me ligar? — questionou, sério, numa acusação quase automática.
— Não. Dessa vez, não. — Roger deixou escapar um leve riso divertido. — Que sua mãe não me escute, mas… sinceramente, acho que você fez bem. — A voz dele era branda e com tom de compreensão. — Eu simpatizo muito com sua esposa.
John permaneceu em silêncio, um nó atravessou sua garganta. Como dizer que ela o havia deixado?
— Então… posso te esperar no domingo? Se quiser, pode trazer Elizabeth. Você sabe que seu avô gosta muito dela.
John fechou os olhos, apertando a mandíbula e uma angústia o invadiu, não teria como esconder os fatos por muito tempo.
— Eu sei… — respondeu, a voz carregada de cansaço. — Mas… não vou prometer. Tenho coisas importantes para resolver.
— Tudo bem, filho. Não se mate de tanto trabalhar, sei que o grupo está crescendo muito sob sua presidência, mas cuidado para não atrapalhar sua vida pessoal, tire um tempo para você e Elizabeth. Vocês são jovens e o tempo passa rápido. É importante para unir mais um casal jovem como vocês.
John deu um suspiro. Tempo… ele havia desperdiçado três anos e não sabia se conseguiria consertar o que foi perdido.
— Eu sei, pai. Assim que resolver por aqui, farei isso.
— Ótimo. Se cuide.
— Até mais, pai.
John desligou o telefone. Precisava encontrá-la o quanto antes. E não poderia ir à mansão Walker, não se antes encontrar Elizabeth, não iria conseguir manter segredo sobre o desaparecimento dela por muito tempo.
John tentou voltar a se concentrar nos relatórios, mas a cabeça vagava. Suspirou, irritado consigo mesmo, e apertou a tecla do telefone. Anne atendeu imediatamente.
— Sim, senhor Walker?
— Anne, me traga café e água. Também peça a cozinha para preparar algo para comer, pretendo trabalhar até tarde hoje com Bruce.
— Sim. Senhor.
Em seguida, apertou outra tecla, chamando Bruce, que atendeu quase de imediato.
— Venha à minha sala agora.
Poucos minutos depois, Bruce entrou carregando sua pasta repleta de documentos e o inseparável tablet. Assim que se aproximou da mesa, John foi direto ao ponto, sem sequer levantar o olhar.
— Precisamos terminar de revisar todos os pontos dos documentos enviados para finalizar a aquisição da filial de Miami. Estamos atrasados.
— Sim, senhor — respondeu Bruce, abrindo a pasta e ligando o tablet sobre a mesa.
— Tem compromisso para hoje a noite? - O tom autoritário era evidente e nem esperou Bruce responder. — Se tiver cancele, precisamos finalizar isso hoje ainda.
— Ainda faltam as cláusulas de confidencialidade e a projeção de retorno fiscal. - A voz de Bruce carregava o tom de cansaço, mas não se dava ao luxo de dizer ao chefe.
— Vamos finalizar hoje. Amanhã retomamos. Precisamos descansar.
— Sim, senhor. - Bruce ficou visivelmente aliviado
Enquanto John ainda estava no computador, Bruce organizou tudo e desligou o tablet.
— Mais alguma coisa, senhor? - Perguntou ao ver o chefe que não deu sinal de encerrar o expediente.
— Não. Pode ir. — Disse ele sem tirar os olhos do computador.
— Boa noite, senhor.
— Boa noite, se quiser pode chegar mais tarde amanhã, você precisa descansar. — Dessa vez lhe lançou um olhar de compreensão pela dedicação do assistente.
Bruce arqueou o cenho e estranhou, John Walker falando para ele que poderia chegar mais tarde para descansar!
— Obrigada, senhor. - E se atreveu a acrescentar. - O senhor também precisa descansar.
John o olhou como se ele se atrevesse a lhe dar uma ordem, mas o olhar sempre severo do chefe suavizou. Afinal ele tinha razão.
— Eu vou daqui a pouco.
— Boa noite, senhor.
— Boa noite, Bruce.
Bruce se retirou e logo depois John também deixou o escritório.
Ao chegar em casa estava exausto, e foi recepcionado pelo silêncio e a penumbra da casa que parecia mais escura, mais fria e solitária. Olhou para os vasos que antes tinham flores frescas todos os dias colhidas por Elizabeth agora vazios.
Sem ligar nenhuma luz, subiu para o quarto e depois de um banho quente foi para sua grande cama, pelo menos naquela noite, devido à exaustão somada às noites mal dormidas, finalmente John conseguiu dormir pesadamente.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Amargo Contrato de Casamento
Olá, quero deixar aqui meus sinceros parabéns por essa linda história, eu amei. Que Deus abençoe vc e toda a sua família...
História linda e emocionante como a fé e o amor são capazes de transformar vidas....
Maravilho...