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Amargo Contrato de Casamento romance Capítulo 105

John

Naquele mesmo entardecer, enquanto a cidade fervilhava embaixo de seus olhos. John estava em seu escritório, no alto do prédio do Grupo Walker, mas não enxergava nada do que acontecia lá fora.

Sentado em sua cadeira de couro, o paletó jogado displicentemente no encosto, ele mantinha os cotovelos apoiados na mesa, os dedos entrelaçados, o olhar fixo em um ponto qualquer do horizonte tingido em tons alaranjados e rosados.

Ele e Bruce tinham acabado de finalizar os trâmites da aquisição de Miami, o processo fora difícil, mas conseguiram terminar no prazo. Agora os setores administrativos e jurídicos dariam prosseguimento ao processo final.

Bruce entrou na sala trazendo os relatórios finais para assinatura, mas parou ao perceber a expressão do patrão.

— Senhor… está tudo bem? — perguntou com cuidado, depositando a pasta sobre a mesa.

John despertou do transe e olhou para o assistente sem realmente vê-lo. Passou a mão pelo rosto, suspirando fundo antes de responder:

— Alguma novidade?

Bruce hesitou. Sabia a quem John se referia.

— Nenhuma, senhor. Os investigadores dizem que ela deve está sendo bem assessorada… — Bruce tentou escolher as palavras certas. — Mas eles não estão medindo esforços. É questão de tempo.

John assentiu sem dizer nada. Pegou a caneta e assinou os documentos, página por página, como se fosse apenas mais um dia normal de trabalho.

Quando Bruce saiu, John recostou-se na cadeira novamente. Levantou-se abruptamente, foi até o bar em um canto da sala e serviu uma dose generosa de whisky. Engoliu o líquido ambarino em um único gole, sentindo-o queimar sua garganta. Mas nada era tão doloroso quanto a lembrança dela.

Seu celular vibrou sobre a mesa. Caminhou até ele e pegou, esperando que fosse alguma informação, mas era apenas Pamela, mandando uma foto em frente a um restaurante elegante, com a legenda:

“Jantar aqui hoje? Desculpe-me por hoje. Não deveria ter dito tudo aquilo. Sem ressentimento, apenas amizade”

John desligou o celular sem responder a mensagem. Não acreditava que depois de tudo que ele lhe disse, ela ainda insistia.

Voltou-se para a parede de vidro e fitou o céu com seus tons dourados e rosados do entardecer, as luzes da cidade que começavam a se acender e a noite chegava e ele sozinho no seu castelo de vidro.

Elizabeth

Em uma pequena cidade serrana, enquanto caminhava pelas ruas calmas de calçamento rústico, Elizabeth sentia seu coração apertar sem motivo aparente. Parou, respirou fundo e olhou o céu pintado em tons dourados e rosados ao entardecer. Um nó formou-se em sua garganta e sentiu vontade de chorar, mas conteve as lágrimas, piscando rapidamente.

“Por que estou me sentindo assim?”, perguntou-se em silêncio, levando a mão ao peito. O vento balançava seus cabelos cor de mel, e ela permaneceu ali por alguns segundos, absorvendo a paz daquele momento… mesmo que seu coração insistia em latejar de saudade.

Sem saber que, naquele exato instante, o homem que ela ainda amava também olhava o entardecer… também sentia uma dor no peito semelhante e desejando, desesperado, encontrá-la.

Seguiu seu caminho pela rua tranquila repleta de sobrados antigos que acompanhavam o estilo clássico da pequena cidade. As fachadas de alvenaria clara tinham detalhes em madeira nas esquadrias e varandas, pequenos portões de ferro ornamentado, e jardins bem cuidados. Elizabeth combinava com aquele cenário.

Ao chegar diante do sobrado onde morava, respirou fundo mais uma vez. Era uma construção de dois andares, com janelas amplas emolduradas por madeira trabalhada, todas com floreiras. No andar superior, a varanda de madeira se abria para uma vista encantadora da serra, tingida pelos últimos raios dourados do sol.

Ao redor do sobrado, um jardim impecavelmente cuidado. Aquele jardim era o orgulho da senhoria, a senhora Philips, que estava sentada na varanda térrea como sempre fazia ao final da tarde. Usava um vestido bege de lã fina e um xale do mesmo tom sobre os ombros. Os cabelos brancos, presos em um coque baixo, combinavam com a serenidade de seu rosto enrugado, mas cheio de vida.

Duas vizinhas, idosas como ela, sentadas em cadeiras de vime, conversavam animadamente sobre receitas antigas e histórias de família. Assim que Elizabeth entrou pelo pequeno portão de ferro, a senhora Philips abriu um sorriso caloroso.

— Boa tarde, Elizabeth, querida. — disse com sua voz doce e suave. — Está linda como sempre, minha flor. Como foi o passeio de hoje? Encontrou o que procurava?

Elizabeth sorriu, sentindo o coração aquecer diante daquela bondade tão simples.

— Boa tarde, senhora Philips. — respondeu, aproximando-se da varanda. — Acho que sim… — Seus olhos brilharam de leve. — Encontrei um restaurante que está fechado a pouco tempo, os antigos locatários foram morar no exterior para ficar mais perto dos netos, mas a estrutura está boa. Acho que será o ponto ideal para abrir meu próprio restaurante.

— Oh, minha querida, que notícia maravilhosa! — disse, ajeitando o xale sobre os ombros e sorriu largamente. — Eu fico tão feliz, Elizabeth.

Elizabeth sentiu uma pontada de emoção na garganta. Aquele carinho simples e sincero era tudo o que precisava naquele dia.

— Obrigada… — disse, com a voz embargada. — Eu… eu realmente espero conseguir. Ainda tenho um longo caminho pela frente, mas… pela primeira vez em muito tempo, me sinto animada.

Sentiu um nó na garganta. Levou a mão ao rosto, cobrindo os olhos enquanto respirava fundo para conter a raiva de si mesmo.

“Eu sempre soube…”, admitiu em silêncio, sentindo as lágrimas queimarem atrás das pálpebras cerradas. “Sempre soube, mas não quis aceitar. Meu orgulho… meu maldito orgulho… foi maior que tudo.”

Abriu os olhos e olhou para o teto por um bom tempo.

Levantou-se abruptamente, caminhou até a parede de vidro e apoiou a testa contra ela, fechando os olhos novamente.

Sabia que foi ele quem a empurrou para longe, com sua frieza, seu silêncio, sua arrogância. Achou que se mantivesse distância, conseguiria mantê-la fora de seu coração. Mas agora… agora que ela se foi.

“Se eu soubesse…”, pensou, sentindo o peito doer como se estivesse rachando por dentro. “Se eu soubesse que era possível amar alguém assim… eu teria sido diferente.”

Mas agora… talvez fosse tarde demais. Mas ele não era homem de desistir e não faria isso antes de encontrá-la, precisava saber se ela ainda sentia algo por ele ou pelo menos se ele merecia seu perdão.

Elizabeth

Após uma refeição rápida, Elizabeth terminou de arrumar suas anotações sobre o restaurante e se preparou para dormir. Antes de deitar como fazia todas as noites, pegou sua Bíblia e leu em voz baixa:

“Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele, e o mais ele fará.”

As palavras revigoraram sua fé, abraçou a Bíblia e se entregou a oração:

“Senhor…Obrigada por este dia, obrigada por essa nova oportunidade que o Senhor está me dando. Obrigada por cada pessoa que colocou no meu caminho, pela senhora Philips, pelo Adam, pela Sara… por este lugar que agora posso chamar de lar. O Senhor conhece meu coração… sabe que ainda dói pensar nele. — sua voz falhou. — Eu ainda o amo, Pai… mas se não for de Tua vontade, então… por favor, me ajude a esquecer. Me ajude a seguir em frente e principalmente… Cuide dele… e se algum dia… se algum dia for da Tua vontade que nossos caminhos se cruzem novamente que seja de Tua vontade.”

Após uma pausa ainda agradeceu:

— Obrigada, Senhor… obrigada por me amar mesmo quando ninguém mais amou.

Quando finalmente deitou , fechou os olhos e antes de adormecer, seu último pensamento foi “John” sussurrou.

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