O céu estava nublado naquela manhã de sábado, mas Elizabeth não se importava. Aproveitou o clima ameno para caminhar até a feira da pequena cidade, onde pretendia comprar alguns ingredientes frescos para elaboração de um novo prato.
Gostava da simplicidade daquele lugar: as barracas coloridas, o cheiro de frutas, verduras e temperos frescos e os sorrisos espontâneos dos feirantes. Sentia-se, aos poucos, pertencendo àquele novo mundo.
Foi quando, ao dobrar uma das vielas da praça, ouviu uma voz familiar.
— Senhorita Stewart! — Steve se aproximava com duas sacolas nas mãos e um sorriso caloroso no rosto. — Nos encontramos de novo.
Elizabeth sorriu com discrição. Já não se assustava com os encontros inesperados. De certa forma, já os esperava.
— Bom dia, senhor Taylor. Está fazendo compras também?
— Para ser sincero... estava torcendo para encontrá-la — confessou, com um brilho divertido nos olhos. — E, como vê, deu certo.
Ela riu, abaixando os olhos.
— Devo dizer que está ficando bom nisso.
— Alguma vantagem eu preciso ter — brincou ele. — Aceita uma companhia por alguns minutos?
Elizabeth assentiu, e os dois começaram a caminhar juntos pela feira.
Steve fazia comentários leves, elogiava os produtos locais, contava histórias curtas sobre os moradores e sabia como deixá-la à vontade.
— Fiquei pensando na sua ideia do restaurante — disse ele em determinado momento. — Se quiser, posso colocá-la em contato com alguns fornecedores da minha rede. Produtos de qualidade fazem diferença.
— Agradeço muito, senhor Taylor, mas não quero lhe dar trabalho.
— Steve — corrigiu ele com gentileza. — E não é trabalho. É um prazer ajudar.
Ela o olhou com mais atenção. Havia algo em Steve que era genuíno. Ele não a pressionava, não fazia perguntas indiscretas, apenas... estava presente.
Antes que se despedissem, ele a convidou para conhecer o hotel. Disse que tinha uma vista maravilhosa e que talvez, algum dia, ela pudesse servir seus pratos lá.
Desta vez, Elizabeth não recusou imediatamente.
— Está bem — disse apenas, com um sorriso cauteloso.
— Ótimo. — Steve sorriu satisfeito.
Os dois continuaram passando de barraca em barraca e Elizabeth percebeu que todos ali tratavam Steve com cordialidade, ele era educado e gentil com todos. Ele falava de cada produto e sabia exatamente quem era o produtor e lhe fez várias recomendações.
Enfim, quando terminaram as compras Steve se ofereceu para levá-la até em casa. O sobrado que ela morava não ficava longe da feira e ele a acompanhou a pé, foram conversando pelo caminho e logo chegaram. Após se despedirem, Steve esperou que Elizabeth entrasse só depois se virou com um sorriso contente.
*****
À noite, em casa, Elizabeth, com uma xícara de chá nas mãos, observava pela pequena varanda do apartamento a lua meio encoberta pelas nuvens.
Refletia sobre os últimos acontecimentos desde que deixou John e sua nova vida naquela pequena cidade.
Ela se sentia à vontade na pequena e bela cidade serrana. Poderia viver ali para sempre, o projeto do restaurante estava quase pronto. Só faltava colocá-lo em prática.
Mas havia algo em seu coração que ainda não se libertara completamente. John ainda habitava em seus pensamentos, às vezes, dolorosos pelas lembranças de um amor não correspondido que fora abafado pela frieza, humilhação e ausência.
Lembrou de Steve que era o oposto. Gentil, presente, leve. Elizabeth sabia que Steve estava se aproximando não só por amizade. Mas ela sabia que não estava pronta para permitir que alguém entrasse em sua vida.
“John” murmurou e a imagem dele veio-lhe à mente, não o John frio e cruel, mas o John atencioso de sorriso charmoso e olhar desconcertante que ela conheceu em sua adolescência e que ficou em sua mente e coração por anos.
Fechou os olhos e orou em silêncio. Não pedia um novo amor. Pedia clareza. Coragem. Paz.
John
A refeição chegou pouco depois, e ele comeu lentamente, sem pressa, alternando os talheres e a taça. Porém, quando percebeu, a primeira garrafa já estava vazia. Levantou o olhar e chamou o garçom com um simples movimento de mão.
— Traga outra. — ordenou, a voz ainda calma, mas carregada de algo denso.
Maxime, que observava de longe, franziu o cenho. Geralmente, John limitava-se a duas taças. Aquela noite estava sendo uma exceção evidente, mas decidiu não questionar. Apenas fez sinal para que a segunda garrafa fosse aberta.
O vinho fluía, e os pensamentos de John iam e vinham como ondas. Olhava para o nada, quando a segunda garrafa terminou, levantou-se. Ou melhor, tentou. O chão parecia levemente instável, e a cabeça estava estranhamente leve.
Maxime se aproximou de imediato, apoiando-lhe o braço com discrição.
— Permita-me acompanhá-lo até o carro, senhor Walker.
— Estou bem… — murmurou John, mas seus passos incertos e o aperto involuntário que deu no braço de Maxime diziam o contrário.
O motorista já o aguardava na calçada. Ao vê-lo se aproximar, correu para abrir a porta, sustentando-o levemente pelos ombros.
— Tudo certo, senhor? — perguntou, evitando soar preocupado demais.
John apenas assentiu com um grunhido, entrando no carro. O trajeto até a mansão foi silencioso, quebrado apenas pelo som baixo do motor e da chuva fina começando a cair.
Ao chegar, ele desceu com dificuldade. O motorista tentou oferecer ajuda, mas foi dispensado com um gesto brusco. John caminhou cambaleando pelo hall, apoiando-se nas paredes. Assim que entrou, as luzes automáticas se acenderam, revelando o espaço amplo, impecável… e vazio.
O silêncio pareceu ganhar peso. As paredes frias e a penumbra revelavam uma solidão que parecia gritar, e ele se perguntou como Elizabeth suportou aquela frieza, aquela solidão por tanto tempo.
Deixou-se cair no sofá, sentindo o corpo afundar no estofado. A mente, enevoada pelo álcool, ainda segurava um último pensamento. Seus lábios se moveram, soltando um murmúrio quase inaudível:
— Elizabeth…
E então tudo se apagou.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Amargo Contrato de Casamento
Olá, quero deixar aqui meus sinceros parabéns por essa linda história, eu amei. Que Deus abençoe vc e toda a sua família...
História linda e emocionante como a fé e o amor são capazes de transformar vidas....
Maravilho...