John
Na manhã seguinte, não foi surpresa alguma saber que Pamela estava no prédio novamente. John já prevendo deixou ordens autorizando sua entrada.
— John! — exclamou Pamela, bufando ao entrar no escritório sem sequer bater à porta, Anne, visivelmente indignada atrás dela.
Ele ergueu os olhos lentamente, largando a caneta com um suspiro contido. Pamela tinha aquele dom irritante de surgir quando ele menos queria. Vestia um blazer vermelho ajustado ao corpo, a saia combinando e saltos altos que martelavam o chão, anunciando sua presença antes mesmo de aparecer.
— Senhor Walker, me desculpe. Não consegui detê-la.
— Está tudo bem Anne. Pode ir.
Anne assentiu e se retirou.
— Pamela… — disse ele num tom abatido. — O que está fazendo aqui?
— O que estou fazendo aqui? — retrucou ela, cruzando os braços, o rosto ardendo de indignação. — Esperei por você ontem por horas! Você ignora minhas mensagens, minhas ligações… Vai fingir que não sabe?
John se levantou, levando a mão à testa como quem tenta afastar uma dor persistente. Estava exausto, física e emocionalmente, e aquela discussão era a última coisa que queria enfrentar.
— Estou muito sobrecarregado, Pamela. Não é um bom momento para isso.
— “Isso”? — A voz dela se elevou, ecoando pelo escritório. — Então agora eu sou “isso”? Há semanas você me evita! Sua mãe me garantiu que você estava se separando. No jantar dos Saints e depois na mansão, você foi tão atencioso, quase doce, e agora… agora você me ignora. Acha mesmo que eu não mereço uma explicação?
— Eu nunca lhe prometi nada — respondeu ele com esforço, tentando conter a irritação crescente.
— Não prometeu? — Ela riu, amarga, inclinando-se para ele com um olhar ardente. — Quando namorávamos, você era completamente apaixonado por mim. Falava em relacionamento sério, em me dar o mundo. E agora me trata como se fosse uma qualquer?
— Aquilo foi apenas um caso de universidade — rebateu ele, frio. — Um romance imaturo entre dois jovens impulsivos. E, se bem me lembro, você não perdeu tempo em correr para os braços de outro logo após terminarmos.
— Como ousa falar assim comigo? — Pamela estava perplexa, os olhos cheios de mágoa e fúria. — John, nós tivemos uma história! Você foi o único homem que realmente significou algo pra mim. Eu nunca te esqueci.
— Pamela, por favor… — Ele passou a mão pelos cabelos, exausto, a voz carregada de tédio e dureza. — Isso acabou há muito tempo. Não existe mais nada entre nós. E, pra ser honesto, nunca existiu o suficiente. Você seria a última pessoa com quem eu pensaria em construir algo sério hoje.
Ela arregalou os olhos, como se tivesse levado um tapa no rosto. Ficou alguns segundos em silêncio, digerindo a crueldade calculada daquelas palavras. O peito arfava, o batom vermelho tremendo em seus lábios.
— Você vai se arrepender, John Walker — murmurou com raiva contida. — Vai perceber tarde demais o que perdeu. E quando esse dia chegar, eu vou estar lá… para assistir você implorar.
Virou-se bruscamente e saiu, batendo a porta com tanta força que os quadros na parede tremeram.
John permaneceu parado por alguns segundos, sentindo o silêncio retornar como um alívio sufocante. Encostou-se à mesa, fechou os olhos e respirou fundo. Esperava sinceramente que aquela fosse a última vez que tivesse que lidar com ela.
*****
Pamela
Do lado de fora, Anne, sua secretária, observava tudo, tensa. Tinha ouvido os gritos furiosos de Pamela, mas não conseguiu distinguir o que ela dizia. Da voz de John, não escutou nada.
“Espero que ela nunca mais volte…”, pensou Anne, respirando aliviada ao vê-la partir.
Pamela saiu com passos rápidos e firmes, o rosto transtornado pela raiva. Ignorou todos os olhares que se voltavam para ela enquanto atravessava o corredor. Ao entrar no elevador, respirou fundo, tentando controlar o tremor das mãos.
Ela sentia o estômago revirar. Cada batida de seus saltos contra o chão soava como um lembrete cruel de sua humilhação. Mas ela não iria desistir. Nem mesmo o apoio discreto da mãe de John estava surtindo efeito, mas aquilo só a deixava mais determinada.
Dentro do elevador, encarou seu reflexo no espelho e falou para si mesma, com a voz embargada pelo ódio:
— Você não vai ganhar, Elizabeth… Não vai.
Seus olhos, antes apenas cheios de desejo e ambição, agora ardiam com outra emoção: vingança. John não era mais um objetivo a ser conquistado. Ele era alguém que ela queria ferir.
Assim que saiu do prédio, o carro a aguardava na saída e o motorista abriu a porta assim que ela se aproximou, Pamela sentou-se no banco traseiro, respirava rápido, passou a mão pelo rosto, tentando conter as lágrimas de raiva.
Pegou o celular e fez uma ligação.
— Alô. — A voz masculina do outro lado soou grave.
— Quero que investigue uma pessoa — disse ela, com firmeza. — Quero informações sobre ela. Tudo. Com quem anda, onde vai, o que faz. Quero os pontos fracos dessa mulher. E quero rápido.
— E quem seria essa infeliz?
— Se preferir, pode levar o catálogo dos móveis para escolher com mais calma — sugeriu George, atencioso.
— Sim, vou fazer isso — respondeu ela, sorrindo, visivelmente empolgada.
— Perfeito. Tem algumas sugestões que gostaria de fazer com relação a cores.
Enquanto eles terminavam de acertar os últimos detalhes sobre a decoração, o senhor West tinha acabado de chegar.
— Vejo que a senhorita está bastante animada. - Disse ele após os comprimentos habituais.
— Sim, realmente.
— Muito bem, senhorita. — disse o senhor West, proprietário do local, com um sorriso orgulhoso. — Com as obras de reformas concluídas, quando a senhora pretende iniciar a parte da implantação do restaurante?
— O senhor Brown acabou de me dizer que pode iniciar imediatamente — respondeu ela, ainda com o olhar passeando pelas paredes claras.
— Ótimo, senhorita Stewart. — disse ele, animado. — Acredito que será um grande sucesso. Esta rua é a mais movimentada da cidade, principalmente à noite. Muitos turistas, muitos casais apaixonados e também famílias… é o lugar ideal.
— É verdade. — concordou ela, sorrindo com gentileza.
De fato, durante o dia os turistas buscavam as atrações entre a natureza e ao anoitecer, as ruas se enchiam de vida, com turistas caminhando à procura de boa gastronomia e bebidas especiais. Seu restaurante poderia ser um refúgio especial para eles.
O senhor West tirou um papel do bolso e passou para Elizabeth. Era o contato dos antigos funcionários do restaurante, muitos deles trabalharam ali anos e soube pelo senhor West que o restaurante iria ser reaberto e manifestaram o desejo de voltarem a trabalhar no local.
— Acredito que a senhorita ficará satisfeita com a equipe, eles trabalharam juntos por muitos anos para o antigo inquilino.
— Obrigada senhor West, irei entrar em contato com eles hoje mesmo. — Elizabeth achou conveniente aproveitar a equipe, mas antes iria marcar uma entrevista com cada um. — E quanto ao contrato?
— Se a senhorita quiser podemos esperar mais um pouco até tudo ficar pronto, afinal a senhorita já investiu um bom dinheiro em alguns pontos que a senhorita achou necessário na reforma e não acho justo cobrar pelo aluguel ainda. — O senhor West era uma pessoa sensata.
— Agradeço. — Elizabeth lembrou das palavras de Adam: “Nunca assine nada no seu nome, nem mesmo de solteira.” — Quando estiver tudo pronto, irei entrar em contato com meu sócio é ele que vai assinar o contrato de locação.
Depois de acertarem mais alguns detalhes sobre elétrica, documentação e pintura externa, Elizabeth se despediu de ambos e saiu do local em passos calmos, sentindo o vento suave bater em seus cabelos.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Amargo Contrato de Casamento
Olá, quero deixar aqui meus sinceros parabéns por essa linda história, eu amei. Que Deus abençoe vc e toda a sua família...
História linda e emocionante como a fé e o amor são capazes de transformar vidas....
Maravilho...