John respirou fundo, tentando conter a mistura de frustração e arrependimento. Seu maxilar travou. Virou-se para Carlson que prosseguiu no mesmo tom objetivo:
- Mas conseguimos resgatar algumas imagens da manhã de ontem - continuou Carlson aparentemente não notando a confusão do chefe. - E captamos uma mulher com características semelhantes às da senhora, só não conseguimos identificar com certeza porque ela usava um chapéu de abas largas, que ocultava seu rosto dificultando a identificação.
As imagens surgiram na tela. Primeiramente, uma sequência de fotos: uma mulher caminhando pela calçada, vestindo um delicado vestido azul celeste com detalhes brancos, usava um chapéu de abas largas branco e fita azul na mesma tonalidade do vestido. Logo depois, um vídeo começou a rodar.
John inclinou-se para frente, apertando o punho sobre a mesa, como se aquilo pudesse ajudá-lo a enxergar melhor. Seu coração acelerou.
Na tela, a mulher caminhava com leveza, passos graciosos, como quem flutua, alheia ao mundo ao redor. A aba do chapéu escondia-lhe o rosto, mas os cabelos longos, cor de mel, estavam presos em uma fita de cetim azul, balançando em ondas suaves pelas costas.
O tecido leve da saia acompanhava o movimento do corpo, esvoaçando suavemente, desenhando círculos em torno das pernas. A elegância daquela silhueta era inconfundível.
— Pause aí! — ordenou John, quando no vídeo a mulher, prestes a atravessar a rua, levantou sutilmente o rosto, como quem procura certificar-se de que é seguro. Por um breve segundo, foi possível vislumbrar um queixo delicado, lábios perfeitamente desenhados e um nariz de traços suaves. Não precisou de mais.
— É ela... — declarou dando um soco na mesa, com um sorriso contido que misturava alívio e incredulidade. — É ela... Finalmente... a encontramos.
Um burburinho de alívio, contido, percorreu a sala. Carlson se adiantou, assentindo.
— Muito bem, senhores. Confirmada a identidade. Quero que essa imagem seja enviada imediatamente para toda a equipe de campo — ordenou, virando-se para os agentes. — Façam o cruzamento com os registros dos últimos dias. Verifiquem cada rua, cada comércio, qualquer lugar por onde ela possa ter passado.
— Sim, senhor! — responderam os dois homens.
— Quero cobertura total nas ruas, câmeras monitorando cada esquina. Abram o raio de busca. Se ela sair de casa, nós vamos saber
John não se moveu. Permaneceu imóvel, os olhos fixos na imagem congelada no vídeo. A mulher no vestido azul.
"Como ela fica linda de azul...", pensou, e a lembrança o atingiu como amargura a última vez que a viu usando um vestido azul. Um dia que deveria ser esquecido.
John apertou os olhos, lutando contra o próprio descontrole. Passou as mãos no rosto, respirou fundo, endireitou-se na cadeira, tentando recuperar a postura de líder inabalável.
Sabia que, por trás da eficiência dos agentes, havia também olhares curiosos e perguntas não verbalizadas sobre o que estava acontecendo.
Mas ninguém ousava perguntar. E ele, no momento, não se importava.
Tudo o que importava... era ela.
*****
Elizabeth
Na manhã seguinte, Elizabeth acordou mais tarde do que o habitual. O celular estava desligado, a bateria havia acabado durante a madrugada e, por isso, não despertou a tempo para sua costumeira ida à missa.
Na noite anterior, ficou horas imersa entre catálogos, anotações e pesquisas, organizando seu livro de receitas. Estava tão concentrada que não percebeu o tempo passar. Quando finalmente olhou o relógio, já eram quase duas da manhã. Só então, vencida pelo cansaço, arrumou tudo e foi para a cama.
Agora, olhando para o relógio, viu que passava das oito. Seu plano era ter ido bem cedo à feira, comprar alguns ingredientes específicos para finalizar sua nova receita conceito. Mas, àquela altura, ficou em dúvida se ainda valeria a pena sair, pois os melhores produtos costumam acabar nas primeiras horas.
— Como amigos? — questionou, arqueando uma sobrancelha, deixando claro que estabelecia um limite.
Steve assentiu prontamente, mas com aquele olhar que revelava que, para ele, isso poderia ser apenas o começo.
— Sim. Como bons amigos. — reforçou, sorrindo, tentando soar natural, embora sua expectativa fosse maior.
Elizabeth respirou fundo, ponderou rapidamente e, por fim, concordou.
— Está bem. Combinado.
O sorriso de Steve se alargou.
— Ótimo. Até logo, então. — despediu-se, satisfeito, dando dois passos para trás.
Enquanto ele se afastava feliz, Elizabeth fechou a porta devagar, soltando um suspiro longo. Encostou-se na madeira por um instante, olhando para as sacolas. Por mais que tentasse ignorar, não pôde evitar a pergunta silenciosa que ecoou em sua mente: "Será que estou fazendo a coisa certa?"
Mas não se permitiu pensar muito nisso. Levantou a cabeça e focou no que realmente lhe trazia paz e afastava seus pensamentos de certa pessoa: cozinhar.
Ligou para o chef Bryan avisando que não iria ao restaurante naquele dia, deu as instruções que precisava e desligou.
Durante o resto do dia, mergulhou completamente na criação de sua nova receita, já havia feito várias variações e ainda não tinha acertado o resultado que tanto buscava. Cortou, mediu, testou, descartou e refez o prato. Ajustou o ponto do cozimento, equilibrou sabores e dedicou tempo à apresentação, cada detalhe tinha que estar perfeito. Na cozinha, Elizabeth encontrava seu refúgio.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Amargo Contrato de Casamento
Olá, quero deixar aqui meus sinceros parabéns por essa linda história, eu amei. Que Deus abençoe vc e toda a sua família...
História linda e emocionante como a fé e o amor são capazes de transformar vidas....
Maravilho...