Steve
Steve voltou ao hotel cantarolando uma música qualquer, com passos leves e um sorriso que parecia impossível de disfarçar.
No balcão da recepção, trocou um olhar rápido com o atendente.
— Está tudo certo com nossos hóspedes VIPs? — perguntou, casual.
— Tudo tranquilo. — respondeu o rapaz, dando de ombros. — Na verdade, eles quase não saíram, pediram que todas as refeições fossem entregues nos quartos... Não parecem turistas, pra falar a verdade.
— Talvez estejam só querendo descansar... — comentou Steve, enquanto lançava um meio sorriso.
— Pode ser. — concordou o atendente, voltando ao monitor.
Steve apenas acenou, sem demonstrar mais interesse no assunto. Sua mente estava em outro lugar. E, francamente, pouco se importava com hóspedes misteriosos naquele momento.
"Ela aceitou..." — repetia mentalmente, sorrindo sozinho, enquanto subia as escadas. Para ele, isso já era mais do que suficiente para tornar aquele dia extraordinário.
*****
John
John não saiu do quarto durante todo o dia onde estava montada a central de monitoramento. Sentado, encarava cada tela, cada imagem, procurando, quase desesperadamente, pela mulher de chapéu.
— Onde ela está? — perguntou, impaciente, tamborilando os dedos nos braços da cadeira. — Nada ainda?
Carlson, experiente, nem sequer desviou os olhos das telas enquanto respondia, com a serenidade de quem já viveu situações parecidas.
— Senhor, a vigilância requer paciência... e atenção. Talvez hoje ela não tenha saído de casa. — Ajeitou os óculos. — Às vezes... isso leva dias. Mas nós vamos encontrá-la. Não se preocupe.
John apoiou os cotovelos nos joelhos, curvou o corpo e escondeu o rosto entre as mãos, num gesto que misturava cansaço, frustração e algo mais... medo. Medo que ele não estava disposto a admitir nem para si mesmo.
— Senhor... — A voz calma de Bruce soou às suas costas — Já está escurecendo. Não vai adiantar continuar aqui.
John ergueu o olhar. Os traços rígidos e firmes agora davam lugar a olheiras fundas, uma expressão abatida.
— Você tem razão... — respirou fundo, passando a mão no rosto. — Acho que... preciso beber alguma coisa.
Levantou-se, deu uma última olhada nos monitores, quase a contragosto e acenou para Carlson.
— Qualquer movimento, qualquer informação, me avise imediatamente.
Carlson apenas assentiu, o olhar carregado de profissionalismo e determinação.
— Pode deixar, senhor.
John olhou para Bruce, o tom mais brando, quase como um pedido e não uma ordem.
— Me acompanha?
— Claro, senhor. — respondeu de imediato, entendendo que, naquele momento, John não precisava de um assistente... mas de um amigo.
Os dois saíram da sala sob olhares discretos, porém curiosos, da equipe. Carlson assumiu a liderança.
— Muito bem, organizem os turnos. Quero todos atentos. Ninguém cochilando na frente das telas. Descansem, se alimentem..
De imediato, os agentes começaram a se organizar, enquanto uma parte do grupo se dirigia para tomar banho, jantar e descansar, outra estava atenta a cada câmera.
*****
O bar do hotel era aconchegante, uma música instrumental suave preenchia o ambiente.
John e Bruce estavam sentados no balcão. À frente deles, uma garrafa de whisky e dois copos. Ambos já haviam bebido alguns goles, o suficiente para soltar a língua... mas não para embriagar.
John girava lentamente o copo nas mãos, observando o líquido âmbar, como se ali houvesse respostas que ele não conseguia encontrar em nenhum outro lugar.
— Sabe, Bruce... — começou, encarando o próprio reflexo no fundo do copo. — Eu enfrentei guerras corporativas... negociações bilionárias... já sentei à mesa com pessoas que, se pudessem, me destruiriam sem pensar duas vezes. E... nunca tive medo… Nunca hesitei.
Bruce permaneceu em silêncio, ouvindo atentamente.
John respirou fundo, fechou os olhos por um instante e completou:
— Mas agora... — deu um sorriso amargo — pela primeira vez na vida... eu sinto medo.
John girava lentamente o copo nas mãos, perdido nos próprios pensamentos, quando, pelo espelho atrás do balcão, notou um movimento no saguão do hotel.
Um homem atravessava o espaço com passos firmes, aparentemente feliz. Vestia-se com elegância e parecia sorridente.
O atendente da recepção, ao vê-lo se aproximar, abriu um sorriso cúmplice e, sem que precisassem trocar muitas palavras, lhe entregou um buquê de flores.
John acompanhou aquela cena sem conseguir desviar o olhar. Curiosamente, o ângulo do espelho não permitia que ele visse o rosto completo do homem. Apenas sua expressão corporal, leve, descontraída... feliz.
"Deve ser alguém muito sortudo...", pensou, apertando inconscientemente o copo entre os dedos.
— Olha só... — comentou, num tom mais amargo do que pretendia, sem tirar os olhos do espelho. — Alguém aí... parece ter uma sorte que eu... não sei se vou ter de novo.
Bruce, que também percebeu a cena, voltou-se discretamente para olhar, depois pousou o copo no balcão, cruzando os braços.
John sorriu de canto, balançando a cabeça, olhando para o whisky como quem olha para o próprio reflexo.
— Eu carreguei meu orgulho por tanto tempo... — disse em voz baixa, quase como um desabafo. — E agora... daria tudo pra estar no lugar desse cara e levar flores para Elizabeth.
Bruce ficou em silêncio por alguns segundos. Depois, ajeitou-se na banqueta e respondeu, sem rodeios:
— A questão, senhor... é que às vezes, quem carrega flores hoje... também já carregou espinhos antes.
John respirou fundo. Seus olhos voltaram para o saguão. O homem já se afastava, com o buquê nas mãos, passos decididos em direção à saída, provavelmente indo ao encontro de alguém que, naquele momento, ocupava o centro do seu mundo.
— Sortudo... — murmurou, mais para si do que para Bruce.
Ficou alguns segundos em silêncio, e então concluiu:
— Talvez... seja isso que me falta. Coragem. Coragem de enfrentar... não o mundo. — Apertou o copo. — Mas a mim mesmo... e o que eu me tornei.
Bruce olhou para ele com um meio sorriso, cheio de compreensão.
— Bom... se serve de consolo... coragem nunca lhe faltou, senhor. Só que, dessa vez... a batalha não é do lado de fora.
John não respondeu. Apenas apertou os olhos, respirou fundo, e bebeu o que restava no copo, deixando o líquido descer queimando a garganta... e, talvez, tentando anestesiar também o que queimava por dentro.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Amargo Contrato de Casamento
Olá, quero deixar aqui meus sinceros parabéns por essa linda história, eu amei. Que Deus abençoe vc e toda a sua família...
História linda e emocionante como a fé e o amor são capazes de transformar vidas....
Maravilho...