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Amargo Contrato de Casamento romance Capítulo 130

Elizabeth

Elizabeth terminava de se arrumar diante do espelho. Havia aceitado o convite de Steve para jantar, mas não conseguia evitar o turbilhão de pensamentos. Ainda era, perante a Igreja, uma mulher casada, mesmo sabendo que seu casamento não era válido, mesmo assim, hesitava.

Por outro lado, Steve vinha se mostrando um homem gentil, respeitoso e, acima de tudo, um amigo. Elizabeth já estava habituada à solidão, uma solidão que conheceu profundamente enquanto vivia na mansão de John.

Contudo, ali, naquele pequeno apartamento, a solidão parecia ter outra dimensão. Antes, ao menos, havia a esperança silenciosa de que, em algum momento, John atravessaria a porta e, quem sabe, olharia para ela de forma diferente. Agora, não... agora estava, de fato, sozinha.

E Steve… Steve estava sempre presente. Ele surgia na rua, no mercado, na feira, e até na igreja. Enquanto John se ausentou, Steve se aproximava.

O som de uma batida na porta anunciou a chegada de Steve. Elizabeth respirou fundo e deu uma última olhada no reflexo. Não estava vestida para um encontro romântico, pelo menos era o que tentava convencer a si mesma.

"É só um jantar... entre amigos." — repetiu mentalmente, respirando fundo. Esse pensamento lhe deu alguma paz.

— Boa noite — disse, abrindo a porta com um sorriso contido.

— Boa noite — respondeu Steve com um sorriso caloroso, estendendo um buquê de flores. — Você está deslumbrante.

Elizabeth sorriu, um tanto tímida, ao pegar as flores. Usava os cabelos soltos caindo sobre os ombros. Vestia um vestido simples de linho azul-escuro que destacava o brilho de seus olhos, uma leve maquiagem apenas realçava sua beleza natural.

— Obrigada, Steve. Você também está muito bem. - Ele estava impecável em um conjunto de calça e blazer azul marinho e uma camisa branca.

— Vamos?

— Sim... só um instante, vou colocar as flores num vaso.

Ela foi até a cozinha enquanto Steve a aguardava do lado de fora. Entrar seria invasivo e ele sabia que cada gesto conta.

Ao retornar, Elizabeth fechou a porta e ele deu passagem para ela passar a acompanhou até o carro e abriu a porta para ela com um gesto galante.

— Obrigada. — Elizabeth sorriu timidamente.

A rua não era muito bem iluminada e havia uma só câmera com a visão comprometida por uma árvore. Steve tinha parado o carro exatamente onde não dava para ver os ocupantes.

Ninguém que monitorava as câmeras viu uma jovem mulher com a silhueta parecida com a de Elizabeth Walker entrando no carro.

Steve deu a volta e partiu em direção ao restaurante.

O restaurante escolhido era discreto, ficava fora da cidade e tinha um mirante de onde se podia ver as luzes da pequena cidade abaixo deles.

O restaurante era acolhedor, com poucas mesas e iluminação baixa. Ao entrarem, o maître os conduziu a uma mesa reservada perto da janela de onde podia ter toda a vista privilegiada banhada pela lua cheia daquela noite.

— Espero que goste daqui. É um dos meus lugares favoritos. — comentou Steve, puxando a cadeira para ela, que agradeceu com um sorriso contido.

— É muito aconchegante. — disse, olhando ao redor.

Por alguns segundos, houve aquele silêncio natural de quem ainda busca alinhar a própria presença no ambiente. Elizabeth ajeitou discretamente o guardanapo no colo, respirando fundo.

O garçom se aproximou trazendo o cardápio e Steve pediu um vinho, logo depois que ele se afastou ele virou-se para Elizabeth.

Steve falava sobre a cidade, as tradições locais, algumas curiosidades históricas e até histórias engraçadas da infância, tudo para manter o clima leve.

Elizabeth ouvia, sorria, mas mantinha uma certa reserva. Era educada, gentil, mas havia uma muralha invisível protegendo seu coração. Uma parte dela sabia que, por mais simpático, gentil e prestativo que Steve fosse... ela não conseguia se entregar por completo àquele momento.

Por fim, já quase no final do jantar, o que ela temia aconteceu.

— Estou muito feliz que você tenha aceitado meu convite — disse ele, com um sorriso sincero. Fez uma breve pausa, então prosseguiu: — Na verdade… eu preciso te dizer uma coisa.

Elizabeth olhou para ele, já adivinhando o que viria. Seu coração apertou no peito, antecipando palavras que ela preferia não ouvir naquele momento.

Ela relaxou um pouco, sentindo-se mais aliviada por ter sido sincera.

Steve a observava com ternura. Estava certo de que ela sofria por outro homem, mas isso não o desanimou. Pelo contrário, estava disposto a ajudá-la a esquecer o passado, fosse ele qual fosse. Decidiu não insistir no assunto, mudando o tom da conversa para algo mais leve.

Depois da sobremesa, caminharam devagar até o carro sob a brisa morna da noite.

Quando chegaram ao carro, Steve, sempre cortês, abriu a porta para ela, como um verdadeiro cavalheiro. No trajeto de volta, a conversa fluiu descontraída, sem qualquer pressão. Ele sabia respeitar seus limites.

Ao se aproximarem do prédio onde ela morava, Steve, estacionou o carro um pouco mais adiante, quase na esquina, em um ponto parcialmente encoberto por uma árvore. Naquele trecho, uma das câmeras de segurança estava com o ângulo parcialmente obstruído, um defeito já reportado anteriormente, mas que não fora corrigido. Além disso, a iluminação pública naquele ponto era falha, deixando a calçada envolta em sombras intercaladas.

Isso explicava por que, nas imagens captadas pela central de monitoramento, apenas o carro aparecia, com visibilidade limitada. As lentes captaram o momento em que Steve, sorridente, abriu a porta para uma figura feminina, mas os detalhes ficaram comprometidos pela má iluminação e pela sombra da copa das árvores. A baixa resolução noturna das câmeras impediu qualquer reconhecimento facial claro. Para os investigadores, era apenas mais um homem deixando uma acompanhante em casa, algo trivial em meio a tantos registros cotidianos da cidade.

Já na porta do pequeno edifício, ponto cego para as câmeras, eles se despediram.

— Obrigada pelo jantar, Steve. Foi... agradável. — disse Elizabeth, oferecendo-lhe um sorriso gentil, quase tímido.

— Fico feliz que tenha sido. — respondeu ele, sincero. — Só queria te ver bem. Mesmo que seja... apenas como amiga.

Ela sustentou o olhar por alguns segundos, com gratidão estampada nos olhos.

— Boa noite, Steve. — disse, com doçura. — E obrigada... pela noite, pela companhia... e por me entender.

Ele assentiu, com um sorriso leve, sem demonstrar qualquer traço de frustração.

— Boa noite, Elizabeth. Cuide-se. A gente se vê.

Steve aguardou, respeitosamente, até que ela entrasse no prédio. Só então voltou para o carro. As câmeras o captaram novamente, desta vez sorrindo, com a expressão de quem havia acabado de deixar a "namorada" em casa. Para quem visse aquelas imagens sem contexto, era exatamente essa a impressão: um homem aparentemente feliz após um encontro bem-sucedido.

Mal sabiam os investigadores que, por poucos metros e por falhas técnicas, a mulher que tanto procuravam estava ali... bem diante de seus olhos.

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