Elizabeth
Na manhã seguinte, Elizabeth despertou cedo. O sol mal havia rompido no horizonte, tingindo o céu de tons suaves entre lilás e dourado.
Após um banho rápido, escolheu um vestido floral de tecido leve, com estampa miúda em tons de azul e branco. Prendeu os cabelos em um delicado rabo de cavalo, amarrado com uma fita branca, e, como de costume, ajeitou cuidadosamente o chapéu, seu acessório favorito, quase uma assinatura de sua personalidade discreta, porém elegante.
Pegou uma pequena bolsa de mão, conferiu se levava tudo que precisava e saiu do apartamento. Ao atravessar a calçada, seguiu pelo mesmo trajeto de sempre, passando sob a copa frondosa da árvore que, sem que ela soubesse, obstruída parcialmente a visão de uma das câmeras de segurança do quarteirão.
Caminhou com leveza até a pracinha do bairro, onde ficava a pequena e aconchegante igreja. O relógio da torre marcava quase sete da manhã.
Enquanto ela rezava no silêncio sacro, os investigadores já se movimentavam nas ruas.
Assim que saiu da Igreja passou pela praça, andar gracioso, cabeça baixa ao passar pela câmera escondendo o rosto com a aba do chapéu, mas agora não era possível esconder dos olhos atentos de um dos que monitoram as câmeras.
- Senhor. É ela! - Falou com euforia contida. - A mulher de chapéu!
Carlson imediatamente foi até ele e viu a mulher se movimentar levemente com a cabeça inclinada, a aba do chapéu escondendo seu rosto. Ligou imediatamente para os agentes de campo e passou a localização da mulher de chapéu.
Alheia a tudo, Elizabeth não percebeu que um casal filmava e tirava fotos discretamente dela com celular e passava para Carlson. Assim que confirmou a identidade. Carlson ligou para John.
Após dois toques, a linha foi atendida.
— Senhor Walker... — sua voz assumiu um tom mais sério. — A localizamos.
Do outro lado da linha, o silêncio de John durou alguns segundos. Apenas sua respiração mais pesada denunciava a mistura de alívio e incredulidade.
— Tem certeza, Carlson? — a voz de John saiu grave, seca, tensa.
— Absoluta, senhor. Temos imagens em tempo real. Está na praça do bairro, acabou de sair da igreja. Parece... tranquila, alheia a tudo.
John apertou os olhos, passando a mão pelo rosto como se tentasse organizar os próprios pensamentos.
— Estou indo. Aguarde.
John, que tomava café no quarto, levantou num pulo e ligou para Bruce, que atendeu no primeiro toque.
— Eles a encontram. Vá até o Carlson.
— Sim, senhor.
Bruce estava tomando café no refeitório do hotel, terminou rapidamente e saiu às pressas.
*****
John entrou como um furacão pela porta, foi direto para os monitores.
Lá estava ela.
O tempo pareceu desacelerar. Por um instante, tudo ao redor perdeu significado. Só existia aquela imagem.
Alheia a tudo, Elizabeth seguia seu caminho pela praça, sem imaginar que, naquele exato instante, era o centro das atenções de uma verdadeira operação de vigilância.
Elizabeth caminhava sem pressa, com aquele jeito sereno que sempre teve, parecendo completamente alheia ao fato de que, naquele instante, era observada por olhos atentos, câmeras e agentes posicionados estrategicamente nas redondezas… e por John.
Seus passos eram firmes, decididos, porém suaves. Seguia em direção à rua principal, onde, a poucos quarteirões dali, estava o restaurante, seu novo projeto de vida.
No monitor, John a acompanhava como se o mundo inteiro tivesse desaparecido. Cada passo, cada gesto dela era como uma punhalada no peito, misturada com um fascínio que ele nunca experimentou antes. Seus olhos estavam fixos, sem piscar.
Elizabeth virou na rua do restaurante. Ela diminuiu o passo, analisando a fachada e depois entrou.
- Irei acompanhar tudo no meu quarto. - Disse John
Assim que saiu John foi para seu quarto e de lá ligou seu computador e acompanhava tudo o que estava acontecendo
Elizabeth estava traçando seu próprio caminho, parecia que estava decidida a recomeçar uma nova vida, onde John talvez não fizesse parte.
*****
Elizabeth passou o dia no restaurante, sem imaginar que, naquele exato instante, câmeras e olhares atentos acompanhavam cada movimento seu. Pelas telas, John via o entra e sai constante de entregadores trazendo caixas de mercadorias, e utensílios cuidadosamente embalados anunciavam que o restaurante estava prestes a ser inaugurado.
Do outro lado das câmeras, John lutava contra o impulso de sair imediatamente e ir até lá, fazer parte daquela realização. A cada imagem, uma lembrança cortante: lembrou com amargura quando ela lhe disse que precisava ocupar seu tempo e pediu para trabalhar como chef de cozinha em um restaurante e ele a proibiu.
Percebia com clareza o que não queria enxergar antes, ela viveu como uma prisioneira naquela mansão, sufocando seus próprios sonhos para se moldar ao que ele exigia. Esperou três anos para chegar a este momento, renunciando a tudo por causa dele, por causa daquela maldita cláusula no contrato matrimonial que garantia sua presidência no grupo se permanecessem casados por três anos.. Como pôde ser tão egoísta?
As investigações recentes apontavam Adam como o sócio investidor. E John, assistindo, lembrava de como a ignorou por completo, como se ela não tivesse desejos, aspirações ou voz. Tudo em nome de um orgulho frio e destrutivo que agora lhe queimava a consciência.
John sentiu um aperto no peito. Pela primeira vez, encarava sem filtros a extensão do seu erro. Viu com clareza que fora cruel com a única mulher que o amou de forma verdadeira, sem interesses, com a pureza rara de quem oferece o coração inteiro… e ele, cegamente, o rejeitou.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Amargo Contrato de Casamento
Olá, quero deixar aqui meus sinceros parabéns por essa linda história, eu amei. Que Deus abençoe vc e toda a sua família...
História linda e emocionante como a fé e o amor são capazes de transformar vidas....
Maravilho...