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Amargo Contrato de Casamento romance Capítulo 136

John

Já em seu quarto, John deixou-se cair pesadamente sobre a poltrona, os cotovelos apoiados nos joelhos e o rosto enterrado entre as mãos. As palavras de Steve ecoavam em sua mente com clareza implacável, como se cada sílaba fosse uma sentença. Cenas do casamento com Elizabeth invadiram-lhe os pensamentos, momentos que ele preferia esquecer, mas que agora voltavam como um punhal: o olhar ferido dela, os silêncios longos, o amor que ele recusava a enxergar.

— Oh, Deus… o que eu fiz? — murmurou, a voz falhando. — Será que um dia ela vai me perdoar?... Me ajude…

Levantou-se abruptamente, como se fugir das próprias lembranças fosse possível. Caminhou até o bar do quarto, abriu uma garrafa de uísque e começou a beber em silêncio.

*****

Elizabeth

As batidas insistentes na porta chamaram a atenção de Elizabeth. Não esperava visitas. Ao abrir, ficou surpresa ao ver Steve parado diante dela, parecendo ofegante, os olhos carregados de algo que ela não soube identificar de imediato — inquietação, talvez.

— Steve? — perguntou, franzindo a testa. — Aconteceu alguma coisa?

Ele hesitou por um momento antes de responder, como se estivesse organizando pensamentos que o haviam impulsionado até ali.

— Me desculpa aparecer assim... sem avisar. Mas eu... precisava falar com você. É importante.

— Está tudo bem? — insistiu, observando atentamente o rosto dele.

— Está, sim. Quer dizer... mais ou menos. Eu só... — ele desviou o olhar por um instante — Você está esperando alguém? — Ele queria saber se ela sabia que seu esposo estava na cidade.

— Não. Por quê? — Elizabeth estava confusa, nunca viu Steve tenso daquela forma

— Nada... Só queria saber se está tudo bem com você? — A urgência na voz era clara.

— Sim. Estou só ansiosa com a inauguração iminente do restaurante.

— Claro. Desculpe te incomodar. Acho melhor eu ir. Desculpe por aparecer assim.

— Tudo bem. Você disse que precisava falar comigo.

— Não é nada, desculpa. Boa noite Elizabeth.

— Boa noite, Steve.

Ele a observou por um momento antes de se virar e ir embora.

Elizabeth fechou a porta com semblante intrigada, mas logo não pensou mais em Steve, ela estava terminando o prato conceito que estava concebendo e finalmente havia encontrado o equilíbrio perfeito entre sabor, aroma e apresentação.

Agora estava pronta para a inauguração do restaurante.

*****

Bruce

Na manhã seguinte, Bruce estava inquieto.

O silêncio que vinha do quarto conjugado ao escritório era incomum e preocupante. Já passava das oito da manhã e John ainda não deu sinal de vida. Bruce olhou para a porta, indeciso.

— Só mais alguns minutos — pensou, tentando se convencer.

Na noite anterior, ao deixarem o deck, o chefe parecia... desorientado. Bruce o seguiu com o olhar preocupado. Quando John se afastava, visivelmente abalado, ainda teve forças para dizer:

— Preciso ficar sozinho — a voz dele era baixa, quase um sussurro, mas carregada de dor.

— Sim, senhor. — Bruce hesitou antes de acrescentar: — Senhor... se precisar de algo, por favor, conte comigo. Não apenas como seu assistente.

John parou por um instante. Olhou para ele com os olhos sombrios e cansados.

— Eu sei. Obrigado. — E continuou andando, como se carregasse o peso de uma vida inteira sobre os ombros.

Bruce lembrava bem de quando começou a trabalhar para ele, ainda no prédio administrativo do Grupo Walker. John era jovem, enérgico, ambicioso e, apesar de terem idades próximas, o respeito entre ambos se consolidou rapidamente. Bruce sempre foi discreto, dedicado; John, cheio de vigor, energia e determinação que irradiava em seus olhos.

Mas tudo mudou após o casamento com a Srta. Stewart. Ele se tornara um homem amargo, frio, desconfiado. Bruce soubera desde o início dos termos daquele casamento arranjado. E soube também das suspeitas que John alimentava sobre o caráter da esposa. Suspeitas que ele, Bruce, jamais compartilhou. Nas poucas vezes que viu Elizabeth, percebeu nos olhos dela algo que John nunca quis enxergar: amor verdadeiro. Mas o chefe, convencido por terceiros de que ela era apenas uma oportunista, ergueu muralhas ao redor de si e dela.

John não respondeu. Apenas caminhou lentamente até o banheiro.

*****

Elizabeth

Elizabeth chegou cedo ao restaurante, aproveitando o silêncio da manhã para revisar mentalmente cada etapa do dia. Não demorou para ouvir o som da porta se abrindo e passos apressados no salão.

— Bom dia, chef! — cumprimentou Bryan, com o sorriso largo de sempre.

— Bom dia, Bryan. — Ela retribuiu com um sorriso, embora seus olhos denunciassem a tensão. — Hoje devem chegar os últimos equipamentos. Depois disso, precisamos fechar a lista de compras. Estou tão nervosa…

— Não se preocupe, chef, vai dar tudo certo. — Bryan ajustou o avental, confiante. Além de sua alegria contagiante, era um otimista nato. — Esse restaurante já está com cara de sucesso.

Elizabeth riu, aliviando um pouco da pressão.

— Vai sim… eu também acredito nisso. Vamos lá, temos um dia cheio pela frente.

Pouco a pouco, o restante da equipe chegou, cada um assumindo seu posto com energia. O burburinho da cozinha se misturava ao som metálico de panelas, ao bater das facas no corte preciso e ao aroma que começava a se espalhar.

Elizabeth apresentou seu prato-conceito, que foi recebido com aplausos e exclamações entusiasmadas.

— Chef… isso está perfeito! — comentou uma das cozinheiras, saboreando cada garfada. — O sabor é… indescritível.

— Fico feliz que tenham gostado — disse Elizabeth, sentindo a confiança crescer.

O salão foi arrumado com capricho, cada mesa ajustada milimetricamente. Na cozinha, todos os pratos do cardápio foram preparados, afinando temperos e corrigindo os últimos detalhes de apresentação.

Elizabeth estava completamente envolvida, revisando molhos e organizando a sequência de serviço, quando ouviu a porta da frente se abrir.

Um casal havia acabado de entrar. Ao erguer os olhos, seu coração acelerou. A expressão em seu rosto se transformou, e seus olhos brilharam.

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