Steve
Ao chegar ao hotel, Steve foi direto ao balcão da recepção.
— Harry, como estão nossos hóspedes VIPs? — perguntou, com um interesse direcionado a um em especial.
— A maioria já foi embora, senhor. Restaram apenas os dois ocupantes das suítes master conjugadas. — Informou Harry assim que acabou de verificar no computador.
— E os nomes? — a pergunta soou casual, mas havia algo calculado em seu tom para não parecer nervoso e interessado demais.
— Um deles se identificou como Bruce Pratt, o outro preferiu usar apenas as iniciais… JW. — Harry ainda estava olhando para a tela do computador sem perceber o nervosismo do patrão.
Steve ergueu levemente as sobrancelhas. Então John Walker não foi embora.
— E o que fizeram hoje?
— Somente o senhor Pratt foi visto circulando pelo hotel. O outro hóspede permaneceu no quarto o dia inteiro — respondeu Harry, hesitando por um instante antes de prosseguir. — Eu nunca vi hóspedes como esses… quase não saem, são muito sérios, não conversam com ninguém.
Steve também achou curioso. O que uma comitiva de um empresário como John Walker estaria fazendo trancada num quarto de hotel?
Foi então que um arrepio instintivo lhe percorreu a nuca. Como se pressentisse estar sendo observado, desviou o olhar para o saguão. Lá estava ele, John Walker, de pé, imponente, com um olhar afiado como uma lâmina recém-afiada. Ao seu lado, um homem de postura firme, provavelmente Bruce Pratt, que definitivamente não parecia ser um simples segurança.
Steve sustentou o olhar e, num impulso que misturava orgulho e desafio, caminhou até eles.
— Senhor Walker — disse com um tom polido, esboçando o mesmo sorriso cortês que reservava para todos os hóspedes —, espero que esteja apreciando sua estadia no meu hotel.
John manteve-se imóvel por um segundo, medindo-o de cima a baixo, e respondeu com uma voz grave e controlada:
— O hotel é… aceitável. Mas ficaria melhor se o proprietário entendesse o significado de manter distância.
Steve arqueou uma sobrancelha.
— Se está se referindo a mim, não vejo razão para me afastar de ninguém… a menos que essa pessoa queira. — Steve sustentou o olhar de John sem se intimidar.
O sorriso irônico de John não chegou aos olhos.
— Cuidado, senhor Taylor. Eu não costumo repetir avisos. E, no seu caso, posso transformar este hotel numa lembrança falida antes mesmo de você perceber o que aconteceu.
O ar pareceu ficar mais denso entre eles. Bruce observava em silêncio, como se apenas aguardasse um sinal.
Steve, porém, não recuou.
— É curioso… um homem tão poderoso como o senhor, se preocupar tanto com a vida de alguém como eu.
Os olhos de John brilharam por um instante, como se aquela provocação fosse um risco prestes a receber uma resposta. Ele se inclinou levemente, mantendo o tom baixo e letal:
— Fique longe dela, senhor Taylor… e eu não apenas fecho seu hotel… Eu acabo com você.
Sem esperar resposta, John se virou e caminhou em direção aos elevadores, Bruce o acompanhando. Steve permaneceu imóvel, sentindo a tensão ainda pulsar no ar e percebendo que aquela não seria a última vez que se encarariam.
*****
A cidade já fervilhava na tarde daquela sexta-feira. Era o aguardado Festival Gastronômico, evento que atraía um grande público em busca de boa música, comida e bebida.
Desde cedo, o restaurante de Elizabeth vivia uma agitação intensa. As últimas entregas de ingredientes frescos haviam acabado de chegar, e a equipe, ágil e precisa, guardava cada item nos devidos lugares antes de iniciar o “mise en place”. A equipe era experiente e bem treinada, Elizabeth conduzia tudo como uma maestrina. Nada lhe escapava, desde o alinhamento dos guardanapos até o tempero exato de cada prato.
Naquela mesma manhã, o último e mais aguardado detalhe da inauguração chegou: um magnífico piano de cauda negro, lustroso, ocupando um canto estratégico do salão. Para a ocasião, Elizabeth contratou um pianista talentoso e uma cantora de voz envolvente, prontos para transformar aquela noite numa experiência memorável.
Dentro do restaurante, Elizabeth fazia a última checagem: conferia as reservas, provava molhos, ajustava os arranjos de mesa. Sentia o coração acelerar, não de medo, mas de expectativa. Aquela noite não era apenas a inauguração de um restaurante; era o recomeço de sua vida.
Lá fora, o cair da noite tingia as ruas charmosas de tons dourados e alaranjados. Grupos de apreciadores de vinho e boa comida passeavam com passos lentos, trocando risos e conversas, atraídos pelo aroma que escapava das cozinhas dos bistrôs e casas gastronômicas. O burburinho aumentava à medida que o movimento se intensificava.
Assim que as portas se abriram, o restaurante de Elizabeth tornou-se, de imediato, um dos pontos mais procurados da rua. Um maître, impecável em seu terno escuro, recebia cada cliente com um sorriso cordial, conduzindo-os até mesas perfeitamente postas: toalhas brancas alinhadas, guardanapos dobrados com precisão, cristais brilhando sob a luz suave. A música ao vivo, executada por uma dupla de pianista e cantora de voz aveludada, envolvia o ambiente numa atmosfera intimista e acolhedora.
Ao ver Adam e Sara atravessarem a entrada, Elizabeth abriu um sorriso genuíno e foi recebê-los pessoalmente. Abraçou Adam com afeto e, em seguida, Sara.
— Parabéns! — disse Adam, olhando ao redor, admirando cada detalhe do salão cheio. — O restaurante está um sucesso.
— Parece que sim… — ela sorriu, orgulhosa. — Venham, tenho uma mesa reservada para vocês.
Conduziu-os até o canto mais acolhedor do salão, onde a iluminação suave criava uma atmosfera intimista. Assim que se acomodaram, ela explicou:
— Não vou poder ficar muito tempo com vocês. Preciso acompanhar a cozinha.
— Fique tranquila, nós entendemos. — Sara respondeu, com um brilho de alegria nos olhos.
Enquanto se afastava, Elizabeth avistou uma figura conhecida.
— Senhora Philips! — exclamou, abrindo os braços para um abraço caloroso.
Atrás dela, as duas amigas de sempre, companheiras das conversas no fim da tarde.
— Sejam muito bem-vindas. — disse, conduzindo-as até uma mesa reservada especialmente para elas.
— Ah, querida, está tudo magnífico. — elogiou a senhora Philips, observando o salão repleto.
— Obrigada. Vou pedir para um garçom vir atendê-las. Quero que aproveitem cada momento.
— Vá, minha querida. Imagino o quanto você deve estar ocupada hoje.
— Espero que gostem dos pratos. — Elizabeth completou com um sorriso.
— Não tenho dúvidas de que serão maravilhosos.
Ela voltou a percorrer o salão, trocando cumprimentos, verificando se tudo estava perfeito. O que encontrou foram apenas rostos satisfeitos, risos e elogios. Por dentro, seu coração se aquecia ao perceber que aquela noite estava exatamente como havia sonhado.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Amargo Contrato de Casamento
Olá, quero deixar aqui meus sinceros parabéns por essa linda história, eu amei. Que Deus abençoe vc e toda a sua família...
História linda e emocionante como a fé e o amor são capazes de transformar vidas....
Maravilho...