Entrar Via

Amargo Contrato de Casamento romance Capítulo 142

John

John nunca foi um homem religioso. Cumpriu apenas os rituais de costume: batismo, primeira comunhão, crisma e, depois disso, só voltou à igreja no dia de seu casamento.

Agora, no entanto, estava sentado no último banco de uma igreja vazia, com o peso da solidão e do arrependimento esmagando-lhe o peito. Não sabia rezar, mas, em silêncio, suplicava perdão pelos erros do passado e uma chance de reconquistar sua esposa. Uma chance de, enfim, viver um casamento de verdade.

Fixava o olhar na cruz iluminada sobre o altar quando avistou uma figura feminina atravessando o corredor central. Alta, vestida de branco, segurando um chapéu nas mãos. O coração dele disparou, ameaçando saltar do peito.

Era Elizabeth.

Ela caminhou com graça contida até o meio da igreja, fez uma reverência e sentou-se em um dos bancos, antes de ajoelhar-se em oração. Não havia mais ninguém além dos dois. John fechou os olhos e, pela primeira vez em muito tempo, agradeceu a Deus. Sua oração havia sido ouvida.

Observava-a em silêncio, maravilhado. Ela parecia etérea, como um anjo banhado em luz pelos raios de sol que passavam pelos belos vitrais. E, mesmo estando tão perto, continuava a parecer inalcançável. Seu coração, antes em tormenta, encontrava algum repouso apenas por vê-la.

*****

Elizabeth

Elizabeth também buscava respostas. Precisava tomar uma decisão que poderia afastar John de vez de sua vida e por isso procurou refúgio na igreja. Estava ali para pedir a orientação de Deus. Sentia-se dividida. Pensava em solicitar a anulação do casamento, mas também se perguntava se Steve, com sua gentileza e presença reconfortante, poderia ser aquele que traria paz ao seu coração.

Gostava da companhia dele, mas não sabia se conseguiria corresponder aos sentimentos que ele vinha demonstrando. Ainda havia dor demais dentro de si. Dor por ainda amar John.

Ao entrar na igreja, não viu ninguém. Ajoelhou-se, fechou os olhos e entregou suas dúvidas nas mãos de Deus. Como tantas outras vezes, a quietude sagrada do templo lhe trouxe força. Durante os três anos de casamento, a fé foi sua única âncora e ela continuava inabalável, mesmo diante do silêncio de Deus. Foi assim que suportou três anos de casamento, na esperança que um dia suas orações seriam ouvidas. Essa era sua esperança.

Ao se levantar e se preparar para sair, eus olhos captaram uma figura masculina imóvel no final do corredor central. O coração acelerou, a respiração falhou. Ele estava ali, em meio à penumbra, iluminado apenas pelos vitrais coloridos.

O coração acelerou, as pernas quase cederam. Segurou firme no banco mais próximo, o corpo tomado por vertigem como se fosse desmaiar

— John… — murmurou, incrédula.

Paralisada, ela o viu caminhar lentamente em sua direção. Pensou em correr, mas as pernas não obedeciam. Temia o olhar duro e frio com que ele tantas vezes fora ferira, temia pela repreenda, pelas palavras ríspidas.

Mas quando os olhos dele se encontraram com os seus, Elizabeth não viu fúria, raiva nem arrogância. Havia dor, ansiedade... fragilidade. John estava abatido, a barba por fazer, o corpo mais magro, o semblante cansado. Nunca o vira assim.

Ele parou a poucos passos, como se temesse assustá-la.

— Olá… senhora Walker — disse com uma voz suave, tão diferente como ela jamais ouvira antes.

— John… — respondeu, hesitante, confusa por ouvi-lo chamá-la assim.

— Eu… preciso falar com você. — Deu um passo à frente, e ela instintivamente recuou.

O gesto o feriu mais do que qualquer palavra. O rosto de John contorceu-se em dor ao vê-la recuar com os olhos amedrontados e parou. Passou a mão pelos cabelos, um gesto conhecido. Estava nervoso, quase em desespero.

Elizabeth viu que ele parecia sofrer. Jamais imaginou ver aquele semblante antes sempre sombrio e frio demonstrar uma dor tão visível.

Elizabeth sentiu as lágrimas queimarem nos olhos.

— Por favor, não tenha medo de mim. Eu sei… você tem todos os motivos para me odiar. Mas eu preciso que saiba: desde o dia em que você me deixou, eu descobri que te amo… que sempre te amei

Não havia rodeios ou explicações. Apenas a verdade.

— John, por favor… não minta pra mim — sussurrou ela, com lágrimas surgindo nos olhos. — Você não precisa mais de mim…

Ele fechou os olhos, atingido em cheio. Vê-la tão frágil, tão assustada, era como ser esfaqueado por tudo o que fizera. A culpa o esmagava.

— Não estou mentindo, Elizabeth. Eu preciso de você… não pelos motivos daquele contrato, por favor acredite em mim. Desde que me deixou eu fiquei louco e fiz de tudo pra te encontrar. Eu estava cego e foi preciso você me deixar para descobrir o quanto eu sempre te amei. — O olhar dele era de puro desespero e dor. — Na carta que você me deixou, disse que casou porque me amava. — A voz se tornou suplicante — Por favor diga que você ainda me ama… diga pelo menos que me perdoa.

Ele se aproximou devagar, até ficar diante dela. Com ternura inesperada, levou as mãos ao rosto de Elizabeth, enxugando suas lágrimas.

Ela fechou os olhos e sentiu o toque suave das mãos de John, temendo que, ao abrir, ele não mais estivesse ali.. Mas quando tornou a abrir, ele ainda a olhava com olhar suplicante.

— Como te fiz sofrer… — murmurou ele, a voz embargada. — Juro, nunca mais deixarei uma lágrima cair dos seus olhos por minha causa novamente. Me perdoa. Por tudo que fiz, pelo meu orgulho de me impedir de enxergar o quanto eu te amo. Amo mais do que fui capaz de entender.

Elizabeth não sabia o que pensar. O homem diante dela não era o John cruel, duro e frio. Era alguém quebrado, arrependido, disposto a se despir do orgulho. Pela primeira vez, ele permitiu que ela o visse verdadeiramente.

— Ele nos ouve mesmo — murmurou.

— Sempre — respondeu ela, com um sorriso suave. — Às vezes demora um pouquinho, mas nunca decepciona.

— Você tem toda razão. Toda razão — respondeu ele, emocionado e ainda olhando para a cruz. — Obrigado!

Ofereceu-lhe o braço. Ela hesitou por um instante, observando-o. Não havia mais arrogância, frieza e desprezo naquele olhar, apenas temor e esperança. E quando seus olhos se encontraram, ela sorriu e segurou seu braço.

Juntos, saíram da igreja de braços dados como deveriam ter sido há mais de três anos, se tudo tivesse sido diferente. Naquele dia, John a arrastou pelo pulso, com frieza nos olhos, e disse: “Satisfeita? Estamos casados.” Mas nenhum dos dois lembrava mais disso.

Agora, era um novo começo.

*****

O telefone de Adam tocou, e ele atendeu imediatamente ao ver quem era.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntou, já em alerta.

— Senhor, ele está aqui — respondeu a voz do outro lado da linha.

— Entendido. Estou a caminho. Fique de olho e me mantenha informado — disse ele, encerrando a chamada com pressa. Em seguida, ligou para Sara, que estava de folga.

— Ele a encontrou. Estou passando aí para te buscar.

Sem perder tempo, acionou Santiago.

— Quero uma equipe agora. Urgente.

— Sim, senhor.

Adam saiu com pressa, o coração pesado de apreensão. Temia o que poderia acontecer a Elizabeth.

Histórico de leitura

No history.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: Amargo Contrato de Casamento