Bruce
Bruce observava a cena pelas frestas da persiana do escritório. Lá dentro, John estava visivelmente irritado com os dois homens sentados à sua frente.
Ele não queria estar na pele de nenhum deles. Um era o gerente da unidade, o outro, o gestor financeiro. Ambos pareciam extremamente desconfortáveis.
Estavam em uma das empresas do Grupo Walker, uma fábrica de cimento que vinha apresentando desempenho abaixo do esperado.
John costumava fazer visitas inesperadas e aleatórias às empresas do grupo, sem avisos prévios. Aprendeu isso com o velho Walker: nunca se afastar demais dos negócios.
Onde quer que fosse, levava uma equipe de auditoria e fazia uma varredura completa nos setores.
Por isso, todas as empresas e unidades viviam em alerta constante e ninguém sabia quando o “tubarão dos negócios” apareceria.
Mas aquela visita estava se prolongando mais do que o habitual. Normalmente, John passava de três a cinco dias fora.
Desta vez, já se completavam duas semanas, e ele não parecia ter pressa de voltar.
Bruce sabia o motivo: a senhora Walker.
Suspeitava que John estava evitando a própria casa.
Desde a conversa que testemunhara no escritório, Bruce tentava entender por que seu chefe tratou a esposa tão fria e por vezes cruel.
Soube do contrato e das cláusulas envolvidas, mas não conseguia acreditar que aquela mulher, tão bela, altiva e digna, fosse uma oportunista.
Conhecia muito bem mulheres interesseiras, ele vira muitas ao redor de John. Mas Elizabeth parecia diferente. Ela parecia verdadeiramente apaixonada.
E John… parecia cego ou melhor, o orgulho dele o tornava cego e John era orgulhoso demais.
A reunião terminou, interrompendo seus pensamentos. Bruce viu os dois homens saírem da sala visivelmente abatidos.
Voltou a olhar para John, esperando ser chamado, mas seu chefe apenas recostou na cadeira, fechou os olhos por um momento e, depois, ficou encarando o nada, exausto.
Bruce voltou a pensar em Elizabeth e na forma como John a tratou naquele dia.
Lembrava-se das palavras frias que o chefe dissera: aquele casamento era um negócio.
John
John trabalhou esses dias sem cessar. Imerso em uma rotina exaustiva, mergulhava em reuniões com todos os setores da fábrica, supervisionava inspeções com olhar atento e detalhista, revisava relatórios financeiros linha por linha, buscando brechas, erros, qualquer sinal de recuperação.
Tudo isso para manter a mente ocupada. Para não pensar. Para, ao final do dia, tombar na cama do hotel e adormecer assim que sua cabeça encostasse no travesseiro, um sono pesado, sem sonhos, sem descanso verdadeiro.
A fábrica vinha perdendo mercado e não demoraria muito para começar a dar prejuízos.
O gerente para amenizar o prejuízo tomou medidas questionáveis: cortou a remuneração variável, suspendeu bônus por desempenho e premiação aos funcionários em destaque, criando um quadro de insatisfação.
John, ciente do descontentamento geral, não apenas confrontou os dois gerentes responsáveis como também impôs novas metas, absurdamente superiores às que já não estavam sendo alcançadas.
Sua voz foi dura, inflexível, cortante como aço. Não disfarçou a ameaça: se os resultados não mudassem, seriam substituídos sem cerimônia.
Após a saída de ambos ele se recostou em sua cadeira diante da janela, olhava para fora, mas não via o parque industrial à sua frente.
Seu celular particular vibrou ao receber uma mensagem.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Amargo Contrato de Casamento
Olá, quero deixar aqui meus sinceros parabéns por essa linda história, eu amei. Que Deus abençoe vc e toda a sua família...
História linda e emocionante como a fé e o amor são capazes de transformar vidas....
Maravilho...