À noite, com as crianças já dormindo, Elizabeth tocava piano com a mesma delicadeza que conduzia a vida — com amor, leveza e elegância.
John, de pé, preparava um drink enquanto a observava, encantado. Amava vê-la assim, entregue à música. E, mesmo imerso naquele momento de paz, sua mente o levava inevitavelmente ao passado.
Por vezes, ele se perguntava se realmente merecia tamanha felicidade. Afinal, ela suportou três longos anos de um casamento em que foi humilhada, ignorada e tratada com frieza. Foi um marido cruel, e nem ele mesmo sabia como pode ter agido daquela forma. Era como se aquela versão dele pertencesse a outra pessoa, um homem que ele simplesmente não reconhecia mais.
Elizabeth teria todos os motivos do mundo para odiá-lo... mas nunca o fez. Nunca o julgou, nunca trouxe à tona, nas conversas ou nas discussões, os fantasmas daqueles anos sombrios.
Na tentativa de apagar qualquer vestígio desse passado, John mandou demolir o antigo quarto de empregadas, onde, por covardia e orgulho, a obrigou a viver no início do casamento. Chegou até a propor que se mudassem de casa, mas ela, com seu jeito doce, recusou, dizendo que ali estava o lar que haviam construído juntos e que ela escolhia se lembrar do presente, não do passado.
John se aproximou do piano, atraído tanto pela melodia quanto pelo sorriso que ela lhe lançou o mesmo sorriso que o havia encantado quando ela ainda era uma jovem sonhadora.
— O que foi? — perguntou ela, sem interromper a música, notando o olhar dele pousado sobre si.
Ele deslizou os dedos pela madeira do piano, respirou fundo e respondeu, com um tom que misturava gratidão e amor:
— Nada... só estava agradecendo a Deus por ter me dado você.
Encontrar um amor assim, onde um completa o outro em essência, é algo raro. E John sabia, no fundo da alma, que havia sido abençoado. Eles eram, de fato, um só. Não apenas na intimidade, mas na vida. Compartilhavam dos mesmos gostos, dos mesmos pensamentos, das mesmas alegrias e do profundo desejo de fazer um ao outro feliz.
— Ele é bom... e me deu você. E uma família maravilhosa. — respondeu ela, com aquela simplicidade que só os corações puros possuem.
E assim ela seguiu tocando, e ele, completamente rendido, a observava. A noite era deles. E, no fundo, sabiam que seriam deles também todos os dias, os meses... e os anos que viriam.
Quando os últimos acordes do piano se dissiparam pelo ambiente, John estendeu a mão, convidando-a para se levantar. Ela aceitou, sorrindo, e ele a puxou para junto de si, envolvendo-a em seus braços.
— Sabe... eu nunca imaginei que pudesse ser tão feliz. — sussurrou ele, segurando-lhe o queixo com delicadeza e deslizando os dedos pela linha suave do rosto dela. — Você transformou minha vida, Lizzie.
Ela sorriu, enlaçando-lhe o pescoço.
— E você transformou a minha... depois que aprendeu a me amar de verdade. — disse, com um tom bem-humorado, mas cheio de ternura.
John riu, encostando a testa na dela.
— É verdade. E sabe o que é ainda melhor? — segurou-lhe a mão, pousando-a sobre seu próprio coração. — É saber que meu amor só cresce... cada vez mais.
Sem dizer mais nada, ele a tomou nos braços e a carregou até o sofá diante da lareira. Ali, sob a luz bruxuleante do fogo, ele a deitou suavemente, como se ela fosse feita de porcelana.
Seus lábios se encontraram, primeiro de forma doce, depois mais intensa, como quem deseja eternizar aquele instante. As mãos de John percorriam-lhe as curvas, traçando cada linha do corpo que ele tanto amava, enquanto Elizabeth, entregue, correspondia com o mesmo desejo.
— Você é tudo para mim, minha esposa... meu amor... minha vida. — murmurou ele, beijando-lhe o pescoço, descendo até o colo. — E agora, mãe dos meus... quatro filhos. — disse, sorrindo contra a pele dela, provocando-lhe um arrepio delicioso.
Ela riu, puxando-o pelo cabelo para que voltasse a beijá-la.
— Acho que teremos que comprar uma cama maior. — brincou ela, rindo entre os beijos.
— Ou construir mais quartos... ou melhor... um castelo inteiro para abrigar tanto amor. — respondeu, antes de se perderem, mais uma vez, um no outro.
Elizabeth riu, segurando a mãozinha dele.
— Vão crescer devagarinho, assim como vocês cresceram na barriga da mamãe.
Mary arregalou os olhos, colocou as mãozinhas na barriga da mãe e perguntou baixinho:
— Eles podem ouvir a gente?
— Podem sim. Querem falar com eles? — disse John, encorajando-os.
Os dois se aproximaram, encostando os rostinhos no ventre da mãe.
— Oi, bebês... eu sou o Anthony, seu irmão mais velho. Eu protejo vocês, tá? — disse ele, com toda a seriedade do mundo.
Mary, por sua vez, deu um beijinho na barriga e sussurrou:
— Oi, bebês... eu sou a Mary. Eu te dou meu ursinho se vocês quiserem... mas só se não chorar muito, tá?
Elizabeth não conseguiu segurar as lágrimas, emocionada, e John a abraçou pelos ombros, beijando-lhe a têmpora.
— Somos abençoados, Lizzie... muito mais do que merecemos. — sussurrou ele, emocionado.
— Muito além dos nossos sonhos. — completou ela, olhando para os filhos e para o marido, com o coração transbordando de amor e gratidão.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Amargo Contrato de Casamento
Olá, quero deixar aqui meus sinceros parabéns por essa linda história, eu amei. Que Deus abençoe vc e toda a sua família...
História linda e emocionante como a fé e o amor são capazes de transformar vidas....
Maravilho...