Pamela
Pamela caminhava pelo quarto silencioso, as longas cortinas balançando com a brisa da noite. Diante do espelho, retirou lentamente o colar de pérolas, observando sua própria imagem refletida. O semblante doce e arrependido que usara no jantar já não existia.
Em seu lugar, surgia um olhar frio, calculista, quase cruel.
Sentou-se diante da penteadeira, abriu uma pequena caixa e retirou uma fotografia antiga: John e Elizabeth, sorridentes em uma festa de gala, muitos anos atrás. Seus dedos deslizaram sobre o rosto de John, e os olhos dela brilharam de uma emoção perigosa.
— Elizabeth Walker… sempre à frente, sempre perfeita… — murmurou com um sorriso enviesado. — Mas agora, querida, você abriu as portas da sua própria casa.
Ela fechou a foto com força e a guardou. Em seguida, pegou o celular e digitou uma mensagem curta.
Pamela reclinou-se na poltrona, cruzando as pernas. Seus olhos se estreitaram, o rosto iluminado apenas pelo abajur.
— Dessa vez, não vou perder. Nem você, John… nem você, Elizabeth.
O som distante de passos no corredor anunciou a chegada de Sebastian. Pamela rapidamente voltou a expressão suave, guardou cuidadosamente o celular ajeitando o cabelo diante do espelho, como se nada tivesse acontecido.
Quando o marido entrou, ela sorriu com a mesma inocência calculada de sempre.
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Ryan Anderson
O sol mal havia despontado quando Ryan saiu do hotel. A cidade ainda despertava devagar, com o sino da igreja tocando. Ele tomou um café rápido e seguiu primeiro para a prefeitura, um prédio simples, de janelas altas e corredores estreitos.
Apresentou-se como pesquisador, exibindo uma credencial genérica que lhe dava certa autoridade. Foi recebido por um funcionário magro, de óculos tortos, que parecia feliz em ter companhia.
— O senhor procura o quê, exatamente?
— Registros de uma jovem chamada Lily Wattson. Deve ter sido registrada aqui, talvez no orfanato da cidade, entre quinze e vinte anos atrás. — respondeu Ryan, mantendo o tom neutro.
O homem digitou lentamente no computador antigo e, depois de alguns minutos, abanou a cabeça.
— Estranho… não há nenhum Wattson nos nossos arquivos dessa época. Nem nascimento, nem adoção, nada.
Ryan se inclinou sobre o balcão.
— Tem certeza? Pode verificar em registros de entrada e saída de menores, ou nos arquivos físicos?
O funcionário franziu a testa, mas, diante da insistência, levantou-se e o conduziu a uma sala empoeirada nos fundos, onde caixas de papelão estavam alinhadas em estantes. Depois de quase uma hora revirando documentos amarelados, nada. Não havia qualquer vestígio de Lily Wattson.
Frustrado mas ao mesmo tempo satisfeito porque sua intuição não falhava, Ryan agradeceu e seguiu para a igreja central que funcionava também como cartório paroquial. Foi recebido pelo padre Miguel, um homem idoso de fala mansa e memória afiada.
— Padre, estou pesquisando antigos moradores e ex-alunos do orfanato Santa Maria. Procuro registros de uma jovem chamada Lily Wattson.
O sacerdote fechou os olhos por um instante, como quem vasculha lembranças.
— Wattson… não. Esse nome não me é familiar. Mas me lembro, sim, de uma menina diferente, sozinha… não era Lily. — Ele caminhou até um armário de madeira, tirou um livro grosso de registros e começou a folhear. — Veja… aqui.
Ryan se aproximou. No papel gasto, havia o registro de uma criança chamada Elena Walson, internada no orfanato por volta do mesmo período em que Lily dizia ter vivido ali.
— Elena Wason? — Ryan murmurou, copiando a informação. — O senhor se lembra dela?
O padre assentiu.
— Uma garota reservada, de olhos atentos. Mas não ficou muito tempo… partiu ainda jovem, com destino incerto. Poucos sabem para onde.
— Por acaso seria essa da foto.
Ryan mostrou uma foto de Lily para o padre que ajustou o óculos e pareceu prestar bastante atenção.
— Eu não tenho certeza, ela foi embora ainda muito nova e tinha cabelos castanhos e cacheados, parece com ela, mas não tenho certeza.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Amargo Contrato de Casamento
Olá, quero deixar aqui meus sinceros parabéns por essa linda história, eu amei. Que Deus abençoe vc e toda a sua família...
História linda e emocionante como a fé e o amor são capazes de transformar vidas....
Maravilho...