— John… — sussurrou, ofegante.
O olhar dele, antes perdido, tornou-se gélido.
— O que está fazendo? — perguntou, com a voz baixa e cortante.
— Eu… eu estava preparando o café — respondeu ela, confusa, de olhos arregalados, com a respiração presa.
— Por que estava cantando?
— Eu gosto de cantar… — murmurou, quase inaudível.
Ele a encarou por um instante, depois disse com frieza:
— Não cante. — As palavras vieram como uma sentença. — Não quero ouvi-la cantando. Entendeu?
Elizabeth assentiu com um leve movimento de cabeça, engolindo em seco.
Mas seus olhos… seus olhos não se abaixaram. Havia medo neles, sim, mas também algo que John detestava nela: dignidade.
E isso o enfureceu ainda mais.
Ele queria quebrá-la.
Queria arrancar aquela máscara de boa moça, de esposa dedicada. Mas ela não estava quebrada. Ainda não.
John avançou, e Elizabeth recuou até se encostar na bancada. Ele colocou as mãos uma de cada lado dela.
Ela virou o rosto e fechou os olhos, tremendo pelo que poderia vir.
— Olhe para mim — ordenou.
Demorou um a dois segundos, mas ela obedeceu. Seus olhos azul-acinzentados encontraram os olhos negros dele.
John era alto, imponente. Ao lado dele, ela parecia pequena, frágil embora também fosse alta, com seus um metro e setenta e três. E ainda assim, ela não chorou. Sustentou o olhar.
Pela primeira vez, ela o enfrentava.
John se aproximou mais. A tensão entre os dois era sufocante. A respiração de ambos tornou-se pesada, irregular.
— Não quero ouvir você cantado. Não quero ver seu sorriso. Não quero vê-la feliz — disse ele, entredentes.
— Entendeu?
O coração de Elizabeth disparava. A garganta ardia de indignação. Ela respirou fundo e, mesmo com a voz trêmula, mas firme o encarou e falou:
— O que mais você quer de mim, John? Por que me trata assim? Sou sua esposa. Você escolheu se casar comigo, quando poderia ter escolhido qualquer outra. Tenho tentado ser uma boa esposa, me dedicado, cumprido tudo o que me pede, aceitando todas as suas imposições. Eu não sou uma peça que você comprou, como disse. Eu sou uma pessoa, John. Tenho sentimentos. Eu mereço respeito.
As lágrimas escorriam silenciosas, mas ela não desviou os olhos. John ficou em silêncio. Finalmente, ela reagiu, mas não como ele esperava.
Instintivamente, ele levantou a mão, aproximando-se do rosto dela.
Elizabeth recuou, pensou que ele iria esbofeteá-la, mas não desviou o olhar.
A mão dele parou no ar, hesitante. Quis enxugar aquelas lágrimas. Quis beijá-la. Quis tomá-la nos braços e fazê-la sua de verdade.
E esse desejo o enfureceu ainda mais.
Um acordo. Um papel assinado. Sem envolvimento emocional.
Precisa sair daquela casa, precisa pensar.
Saiu do escritório e da casa.
Foi para a garagem e colocou uma jaqueta, pegou o capacete e subiu em sua moto BMW. Acelerou.
Queria ficar longe, precisava mais que nunca ficar longe de Elizabeth.
*****
Elizabeth
Elizabeth permaneceu na cozinha.
Seus dedos apertavam a borda da bancada com tanta força que os nós ficaram brancos.
Ela sentia o corpo tremer, a respiração descompassada. Não havia mais lágrimas, apenas um cansaço profundo.
Cansaço de tentar se manter inteira diante de alguém que parecia querer destruí-la.
Abaixou para juntar os cacos espalhados e limpar o chão. Suas mãos tremiam.
Elizabeth ouviu os passos de John apressados se dirigir a porta, logo depois ouviu o barulho de uma moto acelerando, correu olhar pela janela a tempo de ver John sair em disparada em uma moto grande.
Ela abaixou a cabeça, sabia que ficaria sozinha mais um dia.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Amargo Contrato de Casamento
Olá, quero deixar aqui meus sinceros parabéns por essa linda história, eu amei. Que Deus abençoe vc e toda a sua família...
História linda e emocionante como a fé e o amor são capazes de transformar vidas....
Maravilho...