Elizabeth
Alguns minutos antes, Elizabeth tinha ouvido o ronco inconfundível da moto de John subindo ecoando pela alameda florida.
Mas, desta vez, ela não correu para recepcioná-lo com todas as luzes acesas e aguardá-lo na entrada. Caminhava devagar, quase se arrastando para a sua prisão de vidro.
Foi quando ela o viu no grande deck e parou. E, mesmo à distância, seus olhos se encontraram. Um olhar longo, carregado de tudo aquilo que nenhum dos dois conseguia, ou queria, dizer. Cada um imerso em seus próprios conflitos.
Foi John quem desviou primeiro. Respirou fundo, apertou os lábios e entrou na casa .
Elizabeth soltou um suspiro pesado e continuou sua caminhada, arrastando consigo a dor e o peso do silêncio.
Ao entrar, encontrou-o na sala, na penumbra suave de algumas luzes indiretas. John estava de pé, próximo ao bar, segurando um copo com uísque. Seus ombros estavam tensos, e o olhar… perdido.
Elizabeth parou por alguns segundos, incerta. Ele só a observava e tomou um gole lento da bebida.
Então ela resolveu desempenhar o papel que lhe fora designado por ele. Respirou fundo, tentando manter a voz firme, e quebrou o silêncio.
— Você… vai jantar em casa hoje? — perguntou, sem conseguir disfarçar completamente a insegurança, embora sua expressão permanecesse serena.
John ergueu o olhar lentamente, e por um instante seus olhos se suavizaram… mas logo o orgulho voltou a endurecê-los.
— Vou. — respondeu, seco, curto.
O peito de Elizabeth se apertou, mas ela manteve a postura, mesmo que por dentro tudo nela quisesse desmoronar.
— Certo… — disse, baixando um pouco o olhar. E completou, com um aceno quase mecânico — Com licença.
Ela virou-se, caminhando até a cozinha, como se sua única função ali fosse aquela, preparar o jantar. Mas, ao se afastar, não viu que John permaneceu imóvel, acompanhando-a com os olhos, apertando o copo entre os dedos, lutando consigo mesmo contra algo que nem ele sabia se era raiva, arrependimento… ou algo que não sabia dizer.
Elizabeth
Na manhã seguinte era domingo, Elizabeth saiu cedo para ir à missa. Deixou o café pronto para John.
Ela havia pedido a James que trocasse seu dia de folga para o sábado e depois do seu compromisso matinal ele estava liberado.
Deixou tudo organizado na mesa, como um gesto silencioso de amor. Um gesto que falava mais de que qualquer palavra dita. Por mais que vivesse naquele casamento vazio, ela ainda se apegava aos pequenos deveres, como se isso fosse capaz de sustentar alguma normalidade, ou ao menos sua própria dignidade.
Ela respirou fundo, e saiu.
No caminho até a igreja, lutava contra os pensamentos que insistiam em apertar seu peito. Amava, sim… E era justamente isso que mais doía. Amar quem não a queria.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Amargo Contrato de Casamento
História linda e emocionante como a fé e o amor são capazes de transformar vidas....
Maravilho...