Os dias foram passando, arrastados, até que esses dias se transformaram em mais um mês e outro mês.
A rotina seguia inalterada, como se o ano fosse apenas uma reprise monótona de um velho filme, mas naquela história, parecia que o final não seria feliz.
Em um dos raros almoços na mansão dos Walkers, Elizabeth notou que Oliver já não tinha o mesmo brilho nos olhos. Ele estava calado, o olhar perdido em pensamentos distantes, como se estivesse desistindo de algo importante.
Durante todo o almoço, ela o observou com atenção. Quando o chá foi servido na sala íntima, sentou-se ao seu lado, enquanto John, Martha e Roger conversavam próximos à janela.
Como estavam distantes dos outros, criou coragem e perguntou com delicadeza:
— Está tudo bem, vovô? — perguntou, com a voz suave. Ela só o chamava assim quando não tinha ninguém por perto.
Ele ergueu os olhos para ela, sorriu levemente, mas seu sorriso não chegou aos olhos.
— Gosto quando me chama de vovô. - Disse com olhar triste.
Elizabeth assentiu com um sorriso contido, para ela era difícil chamá-lo de vovô já que John não a considerava sua esposa.
— Vovô. Estou preocupada, o senhor não está tão alegre como antes.
— Está tudo bem, minha querida. — respondeu, pousando a mão trêmula sobre a dela. — Apenas… cansado de tantas lutas. Chega uma hora em que a gente entende que não controla mais nada.
Elizabeth sentiu o peito apertar com aquelas palavras. Percebeu também que Oliver já não solicitava mais suas visitas como antes, algo que agradava muito a Martha, que parecia sempre impaciente com sua presença na mansão.
John
John também percebeu que seu avô estava mais quieto e não o cobrava mais.
— Mãe… o avô está estranho ultimamente. Parece… sem forças. — disse ele, segurando a xícara com firmeza, os olhos fixos na vista do jardim.
— Ele está melhor que todos nós, John. — respondeu Martha com frieza contida, mexendo seu chá sem encará-lo. — Velhos ficam assim às vezes, nostálgicos demais.
Mas algo no fundo de John não convenceu totalmente daquela resposta.
*****
Martha
Após alguns dias e apesar de Martha garantir a John que Oliver estava bem, ela percebeu que o pai andava mais calado que o habitual.
Logo após o café da manhã, ela mesma se incumbiu de levá-lo para tomar sol em uma das grandes varandas da mansão.
— Está confortável, papai? - Perguntou com carinho após ajustar a manta no colo de Oliver.
Era esse o motivo da tristeza de Oliver.
— Pai… o que está te deixando tão triste? — perguntou Martha, apertando de leve a mão dele, sentindo seu coração apertar ao ver seus olhos marejados.
Ele respirou fundo antes de responder, com a voz embargada:
— Eu só queria… — fez uma pausa longa, tentando conter a emoção. — Queria ver meu neto feliz de verdade antes de partir. Queria ver o coração dele livre desse orgulho que o corrói… E ver aquela menina sorrir como merece.
— Não fala assim, papai… O senhor vai viver muitos anos ainda. — Martha disse, sentindo a garganta fechar.
— Talvez… — ele sorriu fraco, com ternura. — Mas cada dia é um presente, minha filha. E meu maior desejo é ver John entender que o amor… é a única vitória que importa nesta vida.
Martha, porém, não compartilhava do mesmo pensamento. Para ela, John estava apenas cumprindo o que precisava ser feito para manter a posição que sempre foi dele por direito. Não via sinais de amor em seu filho, apenas cumprimento de um contrato e que Elizabeth não passava de uma conveniência dentro de tudo aquilo. Martha não tinha dúvidas de que, para John, amor não era prioridade e para ela, isso estava correto.
Martha desviou o olhar para o jardim, preferindo não responder. Ela não acreditava naquela visão romântica da vida. Para ela, a vitória era poder, legado e segurança. Amor era apenas um detalhe que nem sempre valia o esforço. Mas permaneceu sentada ao lado dele, em silêncio pensativa.
Achava que, com o peso da idade, Oliver estava ficando com o coração mole e perdendo a visão estratégica dos negócios. Observou-o por alguns instantes e se lembrou de como fora o casamento dele com sua falecida mãe. Talvez estivesse apenas sentindo falta da esposa. Oliver sempre fora enérgico nos negócios, mas mantinha um lado carinhoso com a família.
Martha, por outro lado, sempre fora prática em tudo, inclusive no amor. Quando conheceu Roger, não ficou indiferente a ele, mas viu naquela união algo que ia além do sentimento: a família Sinclair era influente, e Roger estava completamente apaixonado por ela. Para Martha, casar-se com ele fora simplesmente juntar o útil ao agradável. E agora, desejava o mesmo para o filho.
Se Elizabeth havia sido útil para John conquistar a presidência do Grupo Walker, após o término do contrato, deveria ser descartada sem hesitação. Unir John e Pamela seria o próximo passo natural e o melhor para ele. No fim das contas, pensava, tudo o que fazia era pelo bem do filho.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Amargo Contrato de Casamento
Olá, quero deixar aqui meus sinceros parabéns por essa linda história, eu amei. Que Deus abençoe vc e toda a sua família...
História linda e emocionante como a fé e o amor são capazes de transformar vidas....
Maravilho...