John
John passou o resto do dia imerso em compromissos. Tudo fluía no ritmo intenso que ele impunha ao Grupo Walker. Exigente, acompanhava cada detalhe, sem permitir que nada escapasse ao seu crivo. Sabia delegar tarefas, mas era ainda mais rigoroso com aqueles em quem depositava confiança, não aceitando desculpas para fracassos ou metas não alcançadas. Essa postura fazia crescer ainda mais sua fama de tirano frio e implacável. Era temido pelos funcionários, que muitas vezes pareciam pisar em ovos sempre que precisavam se reportar a ele.
Durante o restante do dia, Anne entrava e saía da sala de John. Hora para levar café, hora para documentos ou anunciar diretores e funcionários que precisavam de sua autorização ou assinatura.
O fechamento da parceria demandou esforço de todos os funcionários.
No momento ele estava acertando os últimos detalhes com a equipe de marketing e comunicação do grupo, o anúncio seria feito dentro de poucos minutos.
Não seria John que faria o comunicado à imprensa, ele delegou essa função a sua diretora de marketing e comunicação, Rose Wilson, muito competente. Rose era uma mulher de presença marcante, discursos claros e confiança inabalável. Por isso, confiava nela sem reservas para lidar com a imprensa.
As duas horas em ponto, acomodou-se em sua cadeira e pelo computador acompanhou, pelas redes sociais, a coletiva de imprensa.
A imagem dela apareceu ao vivo no canal corporativo: estava impecável, usando um blazer azul-marinho e cabelo preso em um coque elegante. Sua postura transmitia segurança enquanto falava ao microfone, com o painel iluminado do Grupo Walker atrás de si.
— Hoje anunciamos oficialmente a parceria estratégica entre o Grupo Walker e o Grupo White, além de outras colaborações com nomes fortes no setor de tecnologia, inovação e inteligência logística. — disse, com voz firme. — Essa união permitirá a implementação de sistemas integrados com Inteligências Artificiais de última geração, automatizando etapas do transporte internacional e ampliando nossa capacidade de atendimento em tempo recorde aos clientes em mais de cinquenta países.
John observava em silêncio, sentindo um orgulho frio se espalhar por seu peito. Rose continuou a apresentação, mostrando projeções em gráficos 3D, vídeos institucionais e entrevistas pré-gravadas com especialistas do Grupo White e engenheiros de IA, destacando que essa inovação reduziria custos logísticos em até 40% e aumentaria a eficiência das operações portuárias, rodoviárias e aéreas em toda a América e Europa.
Em questão de minutos, o anúncio tornou-se o assunto mais comentado do país. Os jornais financeiros exaltavam o feito:
“Grupo Walker avança para liderança global em logística inteligente.”
“Inovação e tecnologia: como John Walker reposiciona o país no comércio mundial.”
No T*****r, hashtags sobre a coletiva subiram ao topo dos trending topics, com trechos do discurso de Rose sendo compartilhados por CEOs, economistas e até influenciadores de tecnologia.
John fechou o computador e recostou-se na cadeira. Seu império crescia cada vez mais. Consolidava-se como uma potência mundial, exatamente como sempre sonhou.
Mas, ao mesmo tempo, sentiu o gosto amargo da solidão na boca. Porque, no fundo, nada daquilo importava. O mundo inteiro podia se curvar diante do poder do Grupo Walker, mas sua vida pessoal estava um caos.
“Enquanto o Grupo Walker domina o mundo, minha vida pessoal desmorona…” pensou, apertando o punho sobre a mesa.
Fechou os olhos por um momento, precisava manter o controle. Não importava o que sentisse. No mundo corporativo, fraqueza não era uma opção. E ele começava a perceber que Elizabeth, era sua maior fraqueza, ela o abalava.
Assim que encerrou a reunião com o financeiro, já passava das dezessete horas, John sentiu o peso do cansaço se instalar em seus ombros. Estava exausto.
Todos os presentes também ansiavam pelo fim daquela reunião interminável. A recepção na cobertura já havia começado, e John sabia disso, mas os funcionários saíram da sala tentando disfarçar a pressa e a empolgação. As festas do Grupo Walker costumavam se estender até tarde, e no dia seguinte era visível o quanto haviam aproveitado.
Enquanto os outros se retiravam, John permaneceu sentado, reclinado na cadeira de couro, observando Bruce que organizava os documentos sobre a mesa.
Assim que entrou no salão, os que estavam próximos silenciaram ao vê-lo chegar. Alguns o cumprimentaram, outros lhe dirigiram sorrisos tensos. John tentou parecer amistoso, apertou a mão dos diretores, distribuiu sorrisos forçados, cumprimentou a equipe do Grupo White que havia trabalhado com eles.
— Boa noite, senhor Walker. — disse um dos diretores, aproximando-se. — Parabéns pelo fechamento do contrato. Temos muito a celebrar hoje.
— Sim… muito a celebrar. — John respondeu com a voz grave, mas sem real entusiasmo.
Um garçom se aproximou, oferecendo-lhe uma taça de espumante, que ele pegou apenas para não recusar. Logo depois, o responsável pela recepção subiu ao palco e anunciou sua presença. A banda parou, e um aplauso ecoou pelo salão. Não era apenas por medo ou respeito, mas também por reconhecimento: John Walker era um grande homem e empresário, apesar de tudo.
Ele subiu ao palco e olhou para todos antes de começar:
— Boa noite. Quero agradecer pelo empenho e dedicação de cada um de vocês. Este resultado não seria possível sem o trabalho duro que demonstraram. Agora, aproveitem a festa. Vocês merecem. — disse, encerrando com um discreto sorriso.
Foi novamente aplaudido. Normalmente, nesses eventos, John ficava um pouco mais, conversava, às vezes até se mostrava mais extrovertido. Mas, naquela noite, não.
Assim que desceu do palco, entregou discretamente a taça ao garçom mais próximo e se retirou. Queria ir para casa. Queria vê-la.
Enquanto o elevador descia, recostou a cabeça na parede de metal frio e fechou os olhos, exalando o ar devagar. Não queria mais nada além de chegar em casa.
Talvez, hoje, permitisse a si mesmo um pouco de paz.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Amargo Contrato de Casamento
Olá, quero deixar aqui meus sinceros parabéns por essa linda história, eu amei. Que Deus abençoe vc e toda a sua família...
História linda e emocionante como a fé e o amor são capazes de transformar vidas....
Maravilho...