John, Daniel e Marcus
Daniel e Marcus estavam apoiados em suas motos, parados em um posto de gasolina onde, por tradição, costumavam se reunir antes dos passeios. O vento leve daquela manhã não conseguia dissipar a inquietação que pairava entre eles.
Fazia semanas que não viam John. Desde que voltou da África, ele se tornou mais ausente, distante até nas ligações. Embora sempre soubessem que o amigo era obstinado no trabalho, os sumiços prolongados haviam passado a chamar atenção.
— O que você acha desse comportamento do John? — perguntou Daniel, cruzando os braços e olhando para a estrada.
— Não sei... John mudou. Está mais calado, mais duro. — respondeu Marcus, pensativo. — Acho que tem a ver com o casamento com Elizabeth... no mínimo, tem algo estranho aí.
— Pois é... — Daniel franziu o cenho. — John sempre foi reservado com relacionamentos, mas manter a própria esposa como um segredo de Estado? Isso não é normal.
— Concordo. Tem alguma coisa que ele não nos contou. E tem mais... a tal parceria com Pamela. — Marcus cruzou os braços. — Ele nunca demonstrou interesse nela, e agora estão lado a lado naquele empreendimento imobiliário. Até parece que está envolvido com ela.
— Se eu fosse casado com a Elizabeth, não teria olhos pra nenhuma outra. — comentou Daniel, lançando um olhar enviesado.
— Cuidado. Ela agora é esposa do nosso amigo... e sei que você já foi interessado nela. — advertiu Marcus com firmeza.
— Relaxa. Foi antes, muito antes. E, convenhamos, não me diga que você também nunca se interessou por ela? — provocou Daniel, com um meio sorriso.
— Não vou mentir. A Elizabeth tem um charme difícil de ignorar, mas eu sempre soube que não teria a menor chance. E, sinceramente, bastava ver o jeito como ela olhava pro John... Era diferente. Tinha algo ali.
Daniel assentiu lentamente.
— Verdade... ela olhava pra ele como se o mundo dela girasse em torno dele. E se ela é mesmo apaixonada por ele, o que será que aconteceu pra ele tratá-la desse jeito depois do casamento?
— Também queria entender. — suspirou Marcus. — Mas se a gente perguntar direto, ele vai se fechar. Conhece o John. Se quiser falar, ele fala. Se não quiser...
— Lá vem ele. — interrompeu Daniel, apontando com o queixo para a estrada.
O ronco potente de uma BMW se aproximava. John surgiu ladeado por duas motos dos seguranças. Outro fato que estranharam. John nunca fora de andar escoltado, mas ultimamente, isso se tornara rotina. Imaginavam que sua postura cada vez mais implacável nos negócios havia atraído alguns inimigos.
John estacionou ao lado dos amigos, tirou o capacete sem descer da moto, fez um aceno breve e dispensou os seguranças com um gesto rápido. Os homens partiram sem questionar.
— E aí... Para onde vamos? — perguntou Daniel, tentando soar leve.
— Qualquer lugar. Desde que seja bem longe. — respondeu John, a voz carregada de cansaço.
Daniel e Marcus se entreolharam em silêncio. Não fariam perguntas. Ainda não.
— Certo. Vamos rodar. — disse Marcus.
Montaram nas motos e partiram. John acelerou com força, deixando o ponteiro bater nos cento e oitenta. Daniel e Marcus tentaram acompanhar, mas logo perceberam que seria imprudente.
— John... pega mais leve, cara. — pediu Marcus pelo intercomunicador dos capacetes.
John não respondeu, mas reduziu a velocidade. Permitiu que os amigos o alcançassem, embora mantivesse um ritmo firme.
Rodaram por quase duas horas. Pararam em um posto, esticaram as pernas, tomaram água e café. Logo estavam de volta à estrada, deixando o vento e o rugido dos motores falarem por eles.
Seguiram pela rodovia litorânea, onde a paisagem finalmente os fez desacelerar. A estrada os levou a uma pequena cidade costeira. O destino parecia escolhido ao acaso, mas caiu como um alívio.
Ali encontraram um restaurante discreto no alto de um mirante natural. O deck de madeira revelava uma vista arrebatadora do mar aberto. Sentaram-se sob um ombrelone, e um garçom se aproximou.
— Traga uma cerveja. E três copos. — disse John, sem consultar os amigos.
— Cerveja? Pensei que você não bebesse. — comentou Daniel, surpreso.
— De vez em quando eu bebo. — respondeu John, desviando o olhar para o mar, a voz baixa, distante.
O silêncio caiu entre eles. Pouco depois, o garçom voltou com a cerveja. Cada um pegou seu copo. Sem palavras, brindaram, um brinde silencioso, pesado, que não celebrava nada.
John encarou o copo por alguns segundos antes de virar o conteúdo de uma só vez. Colocou o copo de volta na mesa com firmeza.
— É um contrato. — disse, num tom amargo, quebrando o silêncio.
Daniel e Marcus se entreolharam, sem entender. John Walker preocupado com um contrato?
— Algum problema com contratos? — perguntou Marcus, franzindo a testa. — Isso é novidade.
Mas a ausência de resposta dizia mais que mil palavras.
Daniel e Marcus se entreolharam. Ambos sabiam: John amava Elizabeth, mas era orgulhoso demais para admitir.
— Está ficando tarde... — observou Daniel, olhando o céu escuro. — Melhor ficarmos por aqui e procurarmos um hotel.
— Concordo. — assentiu Marcus, passando a mão no rosto.
John apenas permaneceu em silêncio, encarando o horizonte.
John permaneceu em silêncio, o olhar perdido, a mente ainda mais distante do que o mar à sua frente.
*****
Horas mais tarde, no quarto do hotel, John se jogou na cama e ficou ali, imóvel, encarando o teto. O som do mar ainda podia ser ouvido ao longe, misturado ao zumbido do ventilador de teto.
Pegou o celular, olhou a tela. Nenhuma mensagem. Nenhuma ligação. Elizabeth permanecia em silêncio.
Seu dedo deslizou pela lista de contatos até parar no nome dela.
Ficou ali, hesitante. O polegar tremia levemente sobre a tela.
Mas não teve coragem de ligar.
Em vez disso, digitou uma única frase.
Apagou.
Digitou de novo.
Apagou novamente.
Então, como quem desiste, deixou o celular cair ao lado da cama.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Amargo Contrato de Casamento
Olá, quero deixar aqui meus sinceros parabéns por essa linda história, eu amei. Que Deus abençoe vc e toda a sua família...
História linda e emocionante como a fé e o amor são capazes de transformar vidas....
Maravilho...