Elizabeth
Horas antes…
Naquela manhã de sábado, Elizabeth ouviu o som grave e inconfundível da potente moto de John ecoar pela propriedade silenciosa. Correu até a ampla janela da cozinha, o coração acelerado por uma ansiedade que ela não queria sentir, mas sentia. Chegou a tempo de vê-lo partir, imponente em sua grande moto BMW, seguido de perto pelos dois seguranças, também em motos robustas.
Desde a tentativa de sequestro dela, John tornou-se ainda mais cauteloso , não apenas com ela, mas também consigo mesmo.
Elizabeth ficou ali, em silêncio, com os olhos fixos na alameda até o último ronco de motor sumir no horizonte. Conhecia a rotina: os seguranças o deixariam em algum ponto, e depois retornavam. Mas onde ele iria? Com quem se encontraria? Desconfiava que seriam Marcus e Daniel, os dois amigos mais próximos. Ainda assim, a dúvida corroía.
Mais do que isso, doía a certeza de que ela não fazia parte da vida dele, nem como companhia, muito menos como esposa. A cada dia, ficava mais evidente que entre eles havia apenas um contrato… e um abismo.
Mas havia uma coisa da qual ela tinha plena convicção: se John voltasse naquela noite, seria tarde. E, se não voltasse, ela passaria mais um fim de semana sozinha naquela imensa e silenciosa casa de vidro.
E foi exatamente o que aconteceu.
Elizabeth passou o sábado imersa nos afazeres da casa, tentando calar a inquietação dentro de si. Depois, refugiou-se no jardim e na estufa cuidando das plantas, flores e agora uma horta e temperos que havia criado com a ajuda de Oscar, o jardineiro. Ali, entre flores, verduras, frutas e temperos encontrava o único tipo de paz que não exigia palavras.
Colheu violetas, dálias e algumas orquídeas amarelas. Distribuiu os arranjos pelos cômodos da casa, como se, com isso, pudesse torná-la mais viva... menos vazia. Menos fria. Também colheu temperos frescos e algumas hortaliças para salada.
À noite, tentou distrair-se com dois filmes. Um de ação, outro de suspense. Queria algo que exigisse atenção, que a forçasse a não pensar em John, nem em tudo que não estavam vivendo. Quando o segundo filme terminou, já passava das onze. Como previra... ele não havia voltado.
Nenhuma ligação.
Nenhuma palavra.
Nenhuma mensagem.
No domingo, a solidão repetiu o roteiro. A única diferença foi a missa pela manhã, onde, em silêncio, Elizabeth pediu a Deus não apenas por paz, mas por discernimento. Por direção. Por coragem.
O dia passou arrastado, envolto em silêncios densos e pausas longas demais. Já eram quase dez da noite quando o som grave e familiar cortou o ar.
O ronco da moto.
A casa estava parcialmente iluminada. Da cozinha escura, envolta pela penumbra, Elizabeth observou a moto subindo a alameda até desaparecer na garagem. O coração acelerou, mas não de alívio. Era uma mistura confusa de dor e resignação. Ele estava bem e só isso deveria bastar.
Virou-se devagar, com o peito pesado, não mais se permitiria chorar. Seguiu até seu pequeno refúgio. Ali, ajoelhou-se. E, mesmo magoada, orou. Agradeceu por ele ter voltado. E, em seguida, pediu por ela, por sua alma, por sua lucidez, e por coragem para aquilo que estava prestes a fazer.
*****
John
Subiu lentamente as escadas, como se carregasse nas costas o peso de todas as palavras que nunca disse, de todos os olhares que evitou, de todas as noites em que deixou que o silêncio falasse por ele.
Elizabeth, do outro lado da porta, ouviu cada movimento na cozinha com o olhar perdido na parede branca do quarto e ainda em oração.
E, sem saber, seus corações pediam a mesma coisa, mas de forma diferente.
Só que para Elizabeth o tempo estava acabando… e para John poderia já ser tarde demais.
*****
Elizabeth
Naquela noite, o sono de Elizabeth foi leve e entrecortado. A madrugada trouxe lembranças, dúvidas e uma sensação amarga de fim. O prazo do contrato estava prestes a expirar e cada dia que passava apertava ainda mais o nó em seu peito.
Restavam apenas alguns dias.
Todas as manhãs, ela despertava com o coração acelerado, temendo que aquele fosse o dia em que John finalmente a lembraria que deveria ir embora… ou pior: que a esperasse na porta, frio e impassível, para expulsá-la da casa no exato dia em que completariam três anos de um casamento que, para ele, nunca passou de um contrato.
Por isso, levantava cedo, antes do sol nascer e seguia sua rotina. Evitava encontrar John, ela não teria coragem de encará-lo e ver nos olhos dele apenas indiferença… ou, pior ainda, desprezo. Temia ouvir as palavras que ele parecia guardar para o final: frias, cortantes, objetivas. A constatação definitiva de que seu tempo naquela casa, naquela vida, estava chegando ao fim.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Amargo Contrato de Casamento
Olá, quero deixar aqui meus sinceros parabéns por essa linda história, eu amei. Que Deus abençoe vc e toda a sua família...
História linda e emocionante como a fé e o amor são capazes de transformar vidas....
Maravilho...