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Amargo Contrato de Casamento romance Capítulo 82

Elizabeth

Elizabeth estava sentada em sua pequena cama no quarto de empregada, olhava para o terço em sua mão. Deslizava lentamente as contas como que buscando forçar para o que estava prestes a fazer.

Olhou para seu pequeno altar com o crucifixo. Sua fonte de força, esperança e consolo que a impedia de sucumbir à tristeza e à depressão durante esses três anos.

Ao lado uma foto do dia de seu casamento. Observou-a com pesar: ela sorria com alegria genuína, enquanto John, ao seu lado, exibia o mesmo olhar duro e frio de sempre.

Levantou-se com lentidão e abriu a porta estreita do guarda-roupa. Olhou para aquelas roupas as mesmas de três anos atrás e algumas que ela havia comprado, mas todas no mesmo padrão. A única exceção era um vestido azul, de tecido leve, que ela mesma costurou com carinho, o mesmo que fora rasgado com fúria pelo marido.

Decidiu que não levaria nada. Apenas uma bolsa com poucos pertences. Saiu do pequeno quarto que, por três anos, fora seu refúgio.

O relógio marcava pouco mais das três da manhã quando foi para a cozinha preparar o café como de costume. Deixou tudo pronto com o mesmo cuidado de sempre, exatamente como John gostava.

Nos últimos dois meses viveu a apreensão e insegurança de que John a lembrasse que seu prazo ali estava chegando ao fim.

Cada dia que acordava, entregava seu dia em oração e à medida que se aproximava o derradeiro dia, sua inquietação aumentava, mas ela continuou firme, seguindo as orientações de Adam.

Ela evitava encontrar John. O que não foi difícil, John raramente ficava em casa. Nos últimos meses, mal se viam, cada um em seu canto.

As viagens de negócios, jantares e reuniões faziam com que ele chegasse tarde e mesmo quando estava em casa, ela evitava cruzar com ele a qualquer custo. E Elizabeth sentia que ele também evitava ficar em ela.

Por isso, tinha certeza: ele não notaria sua ausência. Não de imediato.

Elizabeth caminhou até a imensa sala de estar e fitou os grandes paineis de vidro. Lá fora, a cidade ainda dormia, com suas luzes espalhadas como estrelas distantes.

Voltou a olhar para a escadaria que levava ao andar superior, onde John dormia. Lembrou-se, com tristeza, do dia em que chegou naquela casa há exatos três anos atrás cheia de expectativas e sonhos de um jovem apaixonada que vivia seu conto de fadas que viu seus sonhos românticos se desmoronarem e se tornar um pesadelo.

Agora ela olhava em volta, nunca se sentiu a senhora Walker, ela era apenas a empregada e cozinheira. Sentiu um arrepio ao perceber o quão fria aquela casa era. Não de temperatura, mas de sentimentos.

Dizia a si mesma que amor não correspondido não era amor verdadeiro. Mas, se era assim, por que doía tanto? Por que partia com o coração em pedaços?

Essa resposta, ela só encontraria longe dali… Longe de John.

*****

Flashback

Na véspera do término do famigerado contrato, Elizabeth pediu a James que a levasse ao escritório do advogado da família Walker. No trajeto, ela olhava pela janela com uma expressão distante, perdida em pensamentos que James, discretamente, percebeu algo diferente dessa vez, mas não comentou.

Ao chegar, Elizabeth desceu do carro com a elegância que lhe era natural, mas seus passos, ainda que firmes, carregavam o peso de uma decisão.

No interior do escritório, foi recebida com cortesia pelo advogado da família, um homem sóbrio e experiente, que se levantou imediatamente ao vê-la entrar.

— Senhora Walker… — começou ele, mas ela o interrompeu com um leve movimento da cabeça.

— Hoje apenas Elizabeth, por favor.

Ele assentiu, compreendendo de imediato.

Ela se sentou e, sem hesitar, assinou os papéis do divórcio. Depois, estendeu a mão para assinar também uma procuração. O silêncio era cortante, mas não hostil. Quando terminou, retirou da bolsa um envelope branco e, com os dedos trêmulos, tirou de dentro uma carta já dobrada, cuidadosamente escrita à mão.

Depois, Elizabeth tirou a aliança com lentidão. Por um instante, ficou olhando o anel como quem observa o último raio de sol antes do anoitecer. Seus olhos marejaram e lágrimas silenciosas não foram contidas.

O advogado abaixou a cabeça constrangido. Nunca vira uma separação como aquela. Educadamente estendeu-lhe uma caixa fina de lenços de papel bordados. Elizabeth pegou os lenços e secou às lágrimas.

E não era mentira. Elizabeth não queria envolver James e onde ela estava indo ele não poderia levá-la. Por isso não se sentiu constrangida, não estava mentindo.

O segurança, habituado às saídas da patroa nas madrugadas para as vigílias na igreja, não achou estranho.

— Deseja que algum dos seguranças a acompanhe? - Perguntou educadamente e preocupado, vendo a senhora sair sozinha e se o senhor Walker tinha conhecimento, já que a segurança foi reforçada após aquele fatídico dia da tentativa de sequestro.

— Não é necessário. Obrigada. Tenha um bom dia.

— Bom dia, senhora.

O segurança hesitou um instante e quando ela se afastava deu uns passos largos até se aproximar.

— Senhora, permita pelo menos acompanhá-la até o taxi.

Elizabeth assentiu e percebeu nos olhos dele certo receio dela deixar a casa pela primeira vez sem James ou um segurança.

Ele a acompanhou até chegar ao táxi, após verificar o senhor de meia idade que parecia estar acima de qualquer suspeita, mas... Tornou a perguntar:

— Senhora, tem certeza que não quer que um segurança a acompanhe?

O segurança estava visivelmente preocupado pelo fato dela estar saindo sozinha, mas o que ele poderia fazer? Ela era a patroa.

— Não é preciso. Obrigada.

Elizabeth entrou no táxi e… desapareceu.

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