John
Ao acordar naquela manhã, John sequer percebeu a ausência da esposa. Como de costume, encontrou o café pronto sobre a mesa. Sentou-se e tomou a bebida mais devagar do que o habitual. O aroma familiar já não trazia conforto. Havia algo diferente naquela manhã. Algo silencioso… demais.
O silêncio ao redor parecia ensurdecedor. Nenhum som, nenhum movimento. Provavelmente Elizabeth havia saído cedo para a igreja como fazia todos os dias e retornaria apenas depois que ele saísse para o trabalho.
Ultimamente, mal se viam. E, quando se viam, o olhar dela era distante, sem brilho. Ela o evitava com uma delicadeza quase dolorosa, como quem não queria causar mais nenhum incômodo. A jovem espontânea e sorridente que conhecera, agora, mal falava. Estava apagada, resignada à vida imposta por ele.
John queria puni-la, mas, no fundo, ele também estava sendo punido. A relação entre os dois se tornara insustentável, uma tortura silenciosa.
No dia do casamento, havia tomado uma decisão: faria da vida dela um inferno. E agora vivia nesse mesmo inferno, consumido por uma raiva sem direção. Testava-a, ferindo com palavras frias, com indiferença, esperando que ela explodisse, que o enfrentasse. Mas, não. Ela ficava mais resignada e dedicada. E aquilo às vezes o enfurecia.
“Ela suporta tudo por dinheiro”, dizia a si mesmo. Mas... será mesmo?
Olhou ao redor. Silêncio absoluto. Nenhum som, nenhum sinal de vida em casa. Aquele silêncio estava começando a enlouquecê-lo.
Involuntariamente começou a procurá-la. Nos últimos dias, chegava mais cedo em casa, evitava sair todas as noites, mas ela se escondia.
Às vezes, a via no jardim cuidando das flores. Observava-a pela janela, sem que ela o notasse. Conversava com o jardineiro, cujo nome ele sequer sabia, e ali ela sorria, mas não sorria para ele há muito tempo. Aquilo doía mais do que gostaria de admitir.
Parecia serena. Havia algo nela que combinava perfeitamente com aquelas flores delicadas, coloridas, cheias de vida. Seu peito ardia ao vê-la assim. Não podia mais enganar-se.
John sabia que, se quisesse mudar aquela situação, precisaria ceder. Teria que abrir mão do orgulho. Ele poderia ter tudo que o dinheiro podia comprar.
Por que não aquela mulher que mexia com ele?
Porque ele não queria comprá-la, ele queria que ela o visse como um homem comum. Não como o implacável John Walker. Poderia parecer um tolo, e por que não?
“Amor? - Pensou “O que é o amor, será que ele existe?”
O pensamento o acompanhou durante todo o trajeto até o escritório. Sentado no banco de trás do carro, respondia telefonemas e tomava decisões com frieza estratégica. Mas a mente estava longe.
O carro parou em frente ao edifício principal do Grupo Walker. O porteiro, já à espera, abriu a porta com agilidade:
— Bom dia, senhor Walker — cumprimentou, educado.
John ajeitou o paletó, ignorou o homem e seguiu com passos firmes, o semblante impenetrável. As portas de vidro se abriram automaticamente, e os funcionários que estavam no saguão desviaram o caminho, instintivamente. Ignorou a todos que tivessem o azar de cruzar com ele e desejar o obrigatório “Bom dia."
Ao entrar no elevador, percebeu de relance a recepcionista levando o telefone ao ouvido. Não precisava ouvir para saber: "O presidente chegou."
No andar executivo, os funcionários se debruçavam sobre suas mesas. Ninguém ousava levantar o olhar.
— Bom dia, senhor Walker! — disseram alguns, em coro abafado e sorrisos forçados. Ele passou reto, sem responder. Seu semblante era duro, o olhar frio.
Passou direto por Anne, que o aguardava de pé, nervosa. Bruce abriu imediatamente a porta para o chefe passar como um tufão, e, antes dele entrar, lançou um olhar para a secretária. "Hoje não vai ser fácil."
John jogou a pasta sobre a mesa e ligou o computador, ignorando a vista panorâmica da cidade.
— Bom dia, senhor Walker — disse Bruce, sem esperar por resposta, e começou a repassar a agenda do dia. — Sua primeira reunião será às dez horas com seu advogado particular.
John levantou os olhos, arqueando uma sobrancelha.
— Com o senhor Gregori Brayner, seu advogado pessoal — esclareceu Bruce.
— Eu sei quem é — disse, ríspido. — Não me lembro de ter agendado essa reunião. Continue.
Bruce engoliu em seco e prosseguiu. Mas por dentro, pensava: "Será que ele esqueceu que dia é hoje?" Como não perguntou o assunto da reunião, prosseguiu com o restante da agenda.
Às dez em ponto, Anne anunciou:
— O senhor Brayner está aqui.
O advogado entrou com um sorriso cortês.
— Bom dia, senhor Walker! Finalmente chegou o grande dia — disse, estendendo a mão.
— Obrigado. Pode ir. E leve esses papéis com você — disse, a voz fria e contida.
— Sim, senhor — respondeu o advogado, apressando-se a sair ao perceber que o homem a sua estava prestes a explodir.
Assim que o advogado saiu, John se levantou e começou a andar de um lado para o outro no escritório.
— Como ela pôde me deixar? — murmurava. — Como teve coragem? Deve ser mais um truque daquela falsa...
A raiva fervia no peito. Pegou o telefone e ligou para o celular de Elizabeth. Caixa postal. Tentou de novo. Nada. Olhou para a tela visivelmente irritado.
Ligou para James, o motorista:
— Senhor Walker — atendeu o homem com a voz controlada.
— Vocês está com Elizabeth? - Perguntou com voz cortante
— A senhora Walker ainda não solicitou meus serviços hoje — respondeu com cautela.
John desligou sem dizer nada. Saiu apressado do escritório.
— Cancele todos os meus compromissos de hoje, Annes peça meu carro agora. — ordenou John saindo apressado.
Bruce, que estava acertando algumas pendências com Anne, ficou perplexo.
— Senhor Walker, está tudo bem?
— Apenas faça o que eu mandei!
E saiu.
Os dois ficaram surpresos. Nada, absolutamente nada, era mais importante para John Walker do que o trabalho. Até agora.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Amargo Contrato de Casamento
Olá, quero deixar aqui meus sinceros parabéns por essa linda história, eu amei. Que Deus abençoe vc e toda a sua família...
História linda e emocionante como a fé e o amor são capazes de transformar vidas....
Maravilho...