John
John passou pela recepção com passos largos e apressado quase esbarrando em algumas pessoas que distraídas com o celular não o reconheceram de imediato, mas ao levantar o olhar com certa irritação, ficavam pálidas ao vê-lo.
Ao chegar no carro o motorista o aguardava com a porta aberta.
— Me dê as chaves. Eu vou dirigir. — A voz soava urgente e autoritária.
O motorista imediatamente entregou as chaves, John entrou no carro e saiu cantando os pneus, sob os olhares perplexos do motorista e dos demais que ali estavam.
John dirigiu apressadamente e logo chegou em casa.
O silêncio absoluto o recebeu, denso e incômodo. A mesa do café ainda estava do jeito que ele havia deixado. Elizabeth nunca deixava nada fora do lugar.
Sem pensar muito, John dirigiu-se às dependências dos empregados e, pela primeira vez, entrou no quarto onde sua esposa dormiu por três longos anos.
Ao cruzar o batente da porta, o choque o paralisou. O cômodo era minúsculo. Os móveis, embora simples, eram bem cuidados, uma cama bem arrumada com algumas almofadas encostada à parede, um criado-mudo com uma pequena luminária, um guarda-roupa modesto e uma escrivaninha.
Ali, naquele espaço apertado e recuado nos fundos da casa, Elizabeth passou três anos sem jamais reclamar, sem nunca reivindicar os seus direitos de esposa. Nunca exigiu mais do que aquilo, mesmo sendo casada com um dos homens mais ricos e influentes do país.
Se contasse a alguém, ninguém acreditaria que a esposa do poderoso senhor Walker dormia num pequeno quarto nos fundos da casa, enquanto ele ocupava sozinho uma suíte luxuosa de quase duzentos metros quadrados, com conforto de um palácio real.
Com passos lentos aproximou-se da escrivaninha. Sobre ela, repousavam um crucifixo e um porta-retrato com a foto do dia do casamento. Pegou-o instintivamente.
Na imagem, Elizabeth sorria. Os olhos brilhavam com uma felicidade inocente e aquele brilho nos olhos... por tanto tempo, ele julgara ser fingimento. Agora, via que talvez fosse genuíno e que ele desprezou esse tempo todo.
Ela estava linda. Havia uma delicadeza real, autêntica. Já ele... seu próprio rosto na foto era uma escultura de pedra: rígido, distante, quase indiferente. Um contraste cruel, que agora lhe doía. O homem da foto parecia um estranho e, talvez, fosse mesmo.
Abriu o guarda-roupa devagar. As roupas estavam dispostas com cuidado: vestidos escuros, de corte simples, sérios demais para a juventude e beleza de Elizabeth. Eram as roupas que ele mesmo havia comprado e depois acrescidas de mais algumas que ele mandou comprar. Roupas sem cor, sem vida, que ele considerava “adequadas”. E, ainda assim, nenhuma daquelas peças conseguiu apagar a graça e beleza natural dela.
Entre os vestidos, algo chamou sua atenção. O azul. Aquele vestido azul. O mesmo que ela pretendia usar no aniversário do seu avô e que ele, num impulso cruel e raivoso, rasgou sem piedade. A lembrança o atingiu como uma flecha. Sentiu um nó no estômago, a respiração pesada, e um torpor se espalhando pelo corpo.
Sentou-se na cama. Apesar de pequena era confortável. Passou os olhos pelo quarto mais uma vez, absorvendo cada detalhe. Era só isso. Três anos. E ele jamais havia sequer pisado ali.
Abriu a gaveta do criado-mudo e encontrou o celular de Elizabeth. Franziu o cenho.
— Então... ela não levou o celular.
Se tivesse levado, poderia rastreá-la facilmente. Mas agora…
— Para onde ela poderia ter ido? — murmurou, mais para si mesmo do que para o silêncio ao redor.
Saiu apressado do quarto, com o destino certo, mas pela primeira vez, disposto a deixar o orgulho de lado.
*****
A cidade parecia passar em segundo plano enquanto John dirigia. As ruas, antes tão familiares, tornavam-se borrões diante dos olhos fixos no caminho. As mãos apertavam com força o volante, como se tentasse controlar não apenas o carro, mas também o turbilhão de sentimentos que o invadia.
Ao sair das avenidas principais, adentrou um bairro mais afastado, de classe alta em ascensão. Era uma área menos nobre do que os círculos onde costumava transitar, mas que aos poucos ganhava prestígio com suas casas elegantes, ruas arborizadas e o silêncio típico de quem valoriza a descrição.
Foi então que avistou a casa.
Branca, de linhas clássicas e jardim bem cuidado, exalava uma sobriedade que contrastava com o luxo ostentoso das mansões que frequentava. Não era uma mansão, mas havia nela uma imponência discreta.
John estacionou o carro em frente ao portão e desligou o motor. Permaneceu alguns segundos dentro do veículo, observando a fachada com o coração acelerado. Respirou fundo, em seguida, saiu do carro e caminhou até a entrada com passos decididos.
Tocou a campainha e aguardou, o tempo pareceu esticar-se até parecer uma eternidade. Foi Helen, que se encontrava próxima à porta, quem atendeu.
— John?!
A surpresa no rosto da mulher era nítida. Jamais esperava ver o poderoso e distante marido da enteada ali, diante da sua porta.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Amargo Contrato de Casamento
Olá, quero deixar aqui meus sinceros parabéns por essa linda história, eu amei. Que Deus abençoe vc e toda a sua família...
História linda e emocionante como a fé e o amor são capazes de transformar vidas....
Maravilho...