John
Na manhã seguinte, John foi despertado por uma claridade incomum que atravessava os grandes painéis de vidro da sala. Abriu os olhos devagar, piscando contra a luz intensa que o atingia em cheio. Ao tentar se levantar, sentiu uma dor latejante na cabeça. Passou a mão pelos cabelos bagunçados e percebeu que havia dormido no sofá.
O ambiente ao redor ainda carregava os vestígios da noite anterior: a garrafa de uísque quase vazia sobre a mesa de centro, o copo caído no chão e um silêncio que parecia zombar da sua ressaca. Esfregou as têmporas com força e passou as mãos pelo rosto.
Foi então que ouviu um barulho vindo da cozinha.
— Elizabeth...? — murmurou, levantando-se num impulso, o coração disparado com uma pontada de esperança. Já se preparava para repreendê-la com veemência, exigindo respostas. Mas, ao entrar na cozinha, parou subitamente. Não era Elizabeth quem estava ali.
Era James.
O motorista, pareceu surpreso ao ver o patrão naquela condição, o homem sempre impecável estava abatido, os cabelos emaranhados e as roupas amassadas.
— Bom dia, senhor Walker — disse James com cautela, mantendo a neutralidade profissional que o cargo exigia.
John estreitou os olhos.
— O que faz aqui? — John indagou, com a voz seca e um olhar decepcionado.
— Vim verificar se a senhora Walker precisa dos meus serviços, já que ela não solicitou o carro hoje.
John o fitou com desconfiança. Lembrou-se, com irritação, de que contratara James justamente para acompanhar cada passo da esposa e ele não sabia onde ela estava.
— Onde foi que você a levou pela última vez? — perguntou com a voz seca.
— Ao escritório do advogado da família, há dois dias. Depois disso, ela não mais solicitou o carro. — Respondeu James, firme, mas com um leve receio no olhar.
John cerrou o maxilar.
— Ela encontrou alguém nesses últimos dias? - Perguntou, desconfiado que ele poderia está encobrindo alguma coisa.
— Não, senhor. — Disse firme.
— Ela parecia estranha? Fez algo fora do habitual? — Apesar do tom controlado, John sentia um aperto no peito que quase lhe cortava a respiração.
— Não, senhor. A rotina da senhora é sempre a mesma.
— Tem algo que eu ainda não tenha perguntado e que você deveria me contar? — A tensão na voz de John era visível. Sua paciência estava por um fio, e James sabia disso.
— Sim, senhor. Ontem, um dos seguranças me informou que a senhora havia saído de madrugada… e pegou um táxi.
John empalideceu.
— Um táxi?! — John parecia atônito. — E por que não fui informado?
— A senhora Walker, às vezes, vai às vigílias de madrugada na igreja. Os seguranças não estranharam o horário, apenas o fato de ela ter ido de táxi. Eles afirmaram que ela estava tranquila e não quis que nenhum segurança a acompanhasse.
— Você deveria estar com ela! — acusou John, sentindo a raiva subir pelo corpo como um fogo descontrolado. — Você foi contratado para isso.
James sentiu que algo havia acontecido.
— A senhora Walker pediu para trocar minha folga para ontem e que não iria precisar do carro. Ela não me contou o motivo para a troca.
— E ninguém pensou em me informar?! — rugiu John, batendo com força na bancada da cozinha. A pedra estremeceu sob o impacto.
— Senhor... com todo o respeito, tudo parecia em ordem. O senhor saiu cedo, e logo depois houve a troca de turno.
James hesitou, então arriscou:
— Aconteceu alguma coisa com a senhora Walker?
John o encarou demoradamente, os olhos faiscando.
— Você está dispensado por hoje. Pode ir pra casa.
James assentiu, compreendendo o recado.
— Tenha um bom dia, senhor.
Ao deixar a casa em silêncio, James respirou fundo. Sabia, no íntimo, que a senhora Walker sofria. Ela nunca lhe dissera nada explicitamente, mas a dor dela era visível em cada gesto contido, em cada olhar perdido.
James sabia que ela amava o marido e por mais que fosse apenas um motorista e seu guarda costas, ele se afeiçoou àquela mulher forte e silenciosa. No fundo, tinha pena da jovem senhora e, de certa forma, sentiu alívio por ela finalmente ter colocado um ponto final no próprio sofrimento.
Presumia que ela não lhe contou nada para não prejudicá-lo, pois se soubesse, seria obrigado a informar ao patrão. E conhecia bem a fama de John Walker.
— Alguma coisa muito errada aconteceu.
Anne voltou para a mesa, com um suspiro preocupado. Olhou por alguns segundos para a tela do computador, deu um suspiro. Não podia fazer nada, começou a trabalhar já esperando um dia difícil.
*****
Em outro ponto da cidade...
Um sedan vermelho e um SUV branco chegam ao estacionamento privativo do renomado Hospital Saints, pertencente à influente família de mesmo nome. As placas, já cadastradas no sistema de segurança, abriram automaticamente os portões reforçados.
Adam chegou segundos antes de Sara, e mal desligou o motor, avistou o carro dela estacionando ao lado.
Ambos saíram ao mesmo tempo. Vestiam-se com discrição e elegância, como de costume.
— Bom dia, meu amor. — disse Adam, aproximando-se e envolvendo Sara num abraço firme, seguido de um beijo demorado e afetuoso.
— Dormiu bem? — perguntou ela, em voz baixa, olhando-o nos olhos.
— Sim. E você? Está tudo certo? — ele devolveu a pergunta, atento ao menor sinal de hesitação.
— Tudo sob controle — respondeu, firme. — Vamos?
Adam assentiu com um discreto gesto de cabeça. Em seguida, os dois caminharam até um terceiro carro. Um segurança os aguardava com a chave na mão.
— Bom dia, senhor Saints. Senhorita Miller.
— Bom dia Santiago. Tudo certo? - Perguntou Adam
— Sim, senhor. Por enquanto nenhuma movimentação anormal.
— Ótimo. Fique atento. Qualquer suspeita me avise.
— Sim, senhor.
Adam pegou a chave do carro e deu a volta para assumir o volante, enquanto Santiago abria a porta Sara entrar.
O veículo deixou o estacionamento por uma saída lateral pouco utilizada, escondida entre alas técnicas do hospital e seguiram para um destino desconhecido.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Amargo Contrato de Casamento
Olá, quero deixar aqui meus sinceros parabéns por essa linda história, eu amei. Que Deus abençoe vc e toda a sua família...
História linda e emocionante como a fé e o amor são capazes de transformar vidas....
Maravilho...