John
John nunca fora religioso. Mas, ao cruzar a entrada da imponente igreja, sentiu-se tomado por uma estranha reverência, quase desconfortável.
O barulho da cidade lá fora foi rapidamente abafado pelo silêncio acolhedor que reinava ali dentro. A luz que atravessava os vitrais projetava tons coloridos no chão de mármore, como se o tempo ali dentro fosse outro. O altar, majestoso em sua simplicidade, parecia convidar até mesmo o mais cético dos homens a uma prece.
Algumas pessoas estavam espalhadas pelos bancos, mergulhadas em oração silenciosa. Próximo ao confessionário, um pequeno grupo aguardava sua vez, entrando e saindo em silêncio respeitoso.
John se sentou num dos bancos, e pela primeira vez em muito tempo, esperou.
Olhou ao redor, sentindo o peso do ambiente e refletiu: “Era aqui que Elizabeth vinha buscar forças para suportar tudo o que eu causei?”
Quando o último fiel saiu do confessionário, John se levantou, respirou fundo e foi até o sacerdote. Por um momento pensou. “O que estou fazendo?” Mas seguiu com passos decididos.
— Padre — chamou, com a voz firme, mas contida.
O homem, que aparentava não mais que quarenta e poucos anos, tinha olhos bondosos, um semblante sereno e uma presença que transmitia uma calma desconcertante. Os cabelos e a barba bem aparados, os óculos de aro redondo e um leve sorriso no rosto compunham sua figura acolhedora.
— Sim, filho. Deseja confessar? — perguntou com doçura e um tom paternal.
John hesitou por um instante. O padre era jovem demais para o tipo de sabedoria que parecia carregar nos olhos, mas, curiosamente, isso lhe transmitiu confiança.
— Na verdade... eu gostaria apenas de conversar. Se for possível.
— Claro. Se não for confissão, podemos ir ao meu escritório. — Ele indicou com um gesto gentil. — Acompanhe-me, por favor.
O sacerdote o conduziu até uma sala modesta, mas acolhedora. Uma mesa simples, duas cadeiras, uma estante repleta de livros e ícones religiosos cuidadosamente distribuídos. Nada ali era extravagante, e ainda assim havia uma solenidade silenciosa no ambiente.
— Sente-se, por favor. Em que posso ajudá-lo?
— Meu nome é John Walker — disse, observando atentamente a reação do padre.
Por um breve instante, viu no brilho sutil do olhar do sacerdote um reconhecimento. Mas não do implacável empresário. Era o reconhecimento do esposo de Elizabeth Walker.
— Senhor Walker… é um prazer conhecê-lo. Sua esposa é uma das nossas paroquianas mais devotas. Tenho sentido sua ausência ultimamente. Aconteceu algo com a senhora Walker?
A preocupação parecia genuína. O sacerdote sabia que o casamento de Elizabeth era cercado por silêncio e dor, mas jamais esperava ver o marido dela ali.
— Suas doações têm sido de grande valia para mantermos as casas de apoio aos idosos e às crianças — acrescentou com gratidão sincera.
— É o mínimo que posso fazer — respondeu John, tentando manter um tom impessoal.
No mundo dos negócios, ele chamaria aquilo de uma troca estratégica. Mas, ali, os “benefícios” que esperava eram outros: respostas.
— O senhor conhece bem minha esposa? — perguntou com um tom calculadamente neutro.
— Sim. Sou seu diretor espiritual — respondeu o padre com serenidade.
John assentiu devagar, absorvendo aquela informação.
— Então... imagino que a conheça melhor do que eu.
— Ela tem um coração nobre e é uma mulher de fé.
— Meu filho... infelizmente, não sei. Mas rezarei para que Deus lhes mostre o caminho. Às vezes, Ele fala de formas que não esperamos. É preciso silenciar para escutar.
John ficou em silêncio por alguns instantes. Ele não queria conselhos, queria respostas. E não as encontraria ali.
Levantou-se com um gesto abrupto.
— Se ela entrar em contato, diga que volte para casa. Imediatamente.
— Se ela me procurar, incentivarei que procure o senhor. — respondeu com brandura.
O sacerdote o acompanhou de volta até a nave principal. Um grupo de mulheres começava o ensaio do coral. Quando ouviram o padre se despedir de “Senhor Walker”, uma delas virou-se de súbito.
— Senhor Walker?
John se voltou, surpreso com a abordagem de uma senhora elegante, de pouco mais de cinquenta anos. Ela o olhava com uma mistura de admiração e surpresa.
— Que prazer conhecê-lo! O senhor é o esposo da Elizabeth, não é? Ela nunca nos falou muito sobre o casamento... Mas sempre foi tão querida. Sabe dizer quando ela volta?
A pergunta a princípio parecia inocente, mas John sentiu o peso de cada palavra. Ele nem sabia onde ela estava, quanto menos quando voltaria.
Para aquelas pessoas, Elizabeth sempre fora reservada. Simples. Ninguém imaginava que aquela jovem mulher, de fé firme e coração generoso, fosse casada com um dos homens mais poderosos do país. Para muitos ali, o nome “Walker” não passava de um sobrenome comum e a presença dele ali, mesmo em um terno impecável e aparentemente caro. Pelo olhar que aquela mulher lhe lançava, era de quem olhava para uma pessoa comum, John percebeu que ela não fazia ideia de quem ele era.
John, que demonstrou uma certa impaciência ao ser interceptado pela mulher que lhe sorria calorosamente, já ia responder com um breve e frio ”Não sei”. Mas mudou de ideia. A mulher parecia ansiosa em falar sobre Elizabeth.
John a olhou e lhe deu um breve sorriso.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Amargo Contrato de Casamento
Olá, quero deixar aqui meus sinceros parabéns por essa linda história, eu amei. Que Deus abençoe vc e toda a sua família...
História linda e emocionante como a fé e o amor são capazes de transformar vidas....
Maravilho...