John
John permanecia imóvel no escritório, o telefone ainda em mãos, os olhos fixos no visor escurecido. Os ombros tensos, a mandíbula cerrada. Não conseguia acreditar no que acabou de ouvir de sua mãe.
Respirou fundo. Em um gesto contido, depositou o aparelho sobre a mesa com firmeza. Sentou-se na cadeira giratória, apoiou os cotovelos sobre a superfície de madeira e pressionou as têmporas com os dedos, tentando aliviar a pressão crescente em sua mente.
Por que tudo tem que ser assim?
A pergunta ecoou em sua mente, pesada, amarga. Elizabeth havia sumido sem deixar rastros, e sua mãe exigia que ele a expulsasse de vez de sua vida rompendo com aquele casamento. Mas, por mais que tentasse, não conseguia apagar da memória o olhar triste da esposa, e o vazio que ela deixou na casa ao partir.
E agora Pamela procurava sua mãe. Com que propósito?
John passou a mão pelos cabelos negros, bagunçando-os, e se recostou na cadeira, olhando para o teto como se ali pudesse encontrar as respostas que lhe escapavam.
John Walker, pela primeira vez em anos, sentiu que não tinha controle de nada. Nem sobre sua vida, nem sobre seus sentimentos que lutava para sufocar.
Mas uma coisa era certa: não permitiria que sua mãe, e muito menos Pamela, se intrometessem mais. As duas pareciam ter formado uma aliança silenciosa, dispostas a destruir o que restava de seu casamento ou se é que restava ainda algo para ser salvo.
Ele soltou um suspiro amargo e riu sem humor.
— Eu mesmo destruí tudo… antes mesmo de começar — murmurou para si, a culpa pesando nos ombros como um fardo que só agora ele começava a reconhecer.
Sua mãe o havia colocado naquela situação, claro que a culpa não era só dela, ele aceitou. Pensou que estava sob seu controle, que iria sair ileso. Mas não contava com uma coisa, seus sentimentos…
Dois toques discretos na porta o tiraram do transe. Anne entrou com a habitual discrição, segurando o celular.
— Com licença, senhor Walker. O pessoal da TI conseguiu desbloquear o aparelho. — Estendeu o telefone, que ele pegou imediatamente, sem levantar os olhos.
— Pode ir. — disse seco, concentrado no aparelho.
Assim que ela se retirou, John deslizou a tela. A primeira imagem o surpreendeu: um objeto dourado, com raios ornamentais e um círculo de vidro no centro, emoldurado por pedras. Reconhecia aquela peça… mas não lembrava o nome.
Mesmo sem se aprofundar em religião, sabia o que aquilo representava. E, pela primeira vez, compreendeu que havia subestimado profundamente a fé de sua esposa.
Durante três anos, acreditou que toda aquela devoção não passava de encenação, uma estratégia bem elaborada para conquistar simpatia e confiança. A garota piedosa, doce, dedicada ao voluntariado. Parecia perfeito demais para ser real.
Esperava, dia após dia, que a máscara caísse. Mas ela nunca caiu. E ele, cego por orgulho, seguiu esperando por algo que jamais existiu: uma farsa que só ele enxergava.
Recordou que ao sair da igreja naquele dia, envolto em uma paz que ele não compreendia. E naquele instante, tudo desabou: estava errado. Tão absurdamente errado. Como fora totalmente cego pelo orgulho.
Deslizou pelos aplicativos até os contatos. Estranhou a ausência de Adam e Sara, eles eram seus amigos desde a adolescência e Sara sua melhor amiga. Percorreu as conversas: apenas mensagens esporádicas com James e Bruce com orientações simples sobre onde iria e instruções sobre a casa.
Entre os demais nomes, nada que sugerisse segredos. Apenas um grupo de coral da igreja, repleto de lembretes e orações. Nenhum vestígio de algo que comprometesse Elizabeth.
Algumas poucas mensagens do pai que parecia preocupado perguntando como ela estava, mas ela o tranquilizava com palavras doces de que estava bem. Nenhum outro nome relevante. Nada além disso.
Então acessou a galeria. E foi ali que sentiu o golpe mais forte.
Fotos de Elizabeth cercada de crianças em pátio ou um auditório modesto, com idosos em salões simples, tocando piano, cantando. Em cada imagem, ela sorria com sinceridade, com os olhos vivos, irradiando uma paz silenciosa. Uma beleza que ele nunca conseguira enxergar enquanto ela estivera ao seu lado.
Num dos vídeos, ela cantava em latim. Sua voz era cristalina, etérea. Quase inacreditável.
Outro vídeo mostrava Elizabeth brincando com as crianças, rindo, leve como nunca fora em sua presença. Em outro, tocava piano para um grupo de idosos atentos, que sorriam enquanto ela executava uma melodia suave executada com mestria.
Mas foi uma foto que o desarmou por completo.
Bruce abriu a pasta ali mesmo analisando as fotos e documentos, assim que terminou de passar fechou a pasta.
— Continue investigando. Se encontrarem qualquer coisa nova, me avise imediatamente. Não importa o horário.
— Sim, senhor — respondeu Carlson, já virando-se para orientar a equipe.
Bruce deixou a sala com passos firmes e rápidos, o maxilar travado e a mente girando em possibilidades. Não sabia como John reagiria à falta de respostas concretas, mas algo dizia que o desaparecimento de Elizabeth era mais do que um simples sumiço: era planejado. E talvez… não fosse ela quem estivesse fugindo, mas sim se libertando.
Com esses pensamentos, Bruce pegou o elevador exclusivo e depois seguiu para a sala do chefe. Ao passar por Anne, ela levantou num sobressalto.
— Bruce? — Chamou ela com uma voz visivelmente preocupada.
Bruce a olhou e levantou a sobrancelha e antes que dissesse algo, Anne continuou.
— Sei que você não vai me contar, mas eu nunca vi o senhor Walker assim… só que estou ficando preocupada. As pessoas estão comentando, algumas estão até pedindo para mudar de setor.
Bruce olhou para os sapatos e antes de responder ponderou.
— Anne, acho que o que está acontecendo pode ser ruim agora, mas no futuro acredito que as coisas possam melhorar.
Ela o olhou com dúvida, desde que trabalha como secretária de John, ele só vinha piorando.
— Assim espero.
Bruce assentiu e voltou em direção a porta do escritório de John, deu um suspiro, ajeitou o paletó e só então deu dois toques na porta antes de entrar.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Amargo Contrato de Casamento
Olá, quero deixar aqui meus sinceros parabéns por essa linda história, eu amei. Que Deus abençoe vc e toda a sua família...
História linda e emocionante como a fé e o amor são capazes de transformar vidas....
Maravilho...