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Amargo Contrato de Casamento romance Capítulo 95

Alheio aos pensamentos de Bruce, John continuava recostado com o olhar perdido olhando para o horizonte, pensativo.

Bruce chegou a pensar que o chefe havia esquecido que ele estava ali. Pensando nisso, ele estava prestes a fazer algo para chamar a atenção.

— Eu fui até a igreja hoje. — A voz de John era baixa, mas firme.

Bruce ergueu uma sobrancelha, surpreso. John Walker numa Igreja?

— A igreja?

John assentiu, ainda olhando para o vazio.

— Falei com o padre… e com uma mulher do coral. Descobri coisas que eu… — suspirou — que eu devia saber há muito tempo.

— Sobre a senhora Walker?

John assentiu de novo, dessa vez com um sorriso irônico nos lábios.

— Ela doava o tempo… e o coração. Tocava piano para idosos num asilo, ensinava música para crianças de um orfanato. Cantava num coral. Todos sentem falta dela, Bruce. Todos… e eu não sabia que ela tocava piano.

John deu um sorriso amargo e fez uma pausa ainda olhando para o vazio.

— E eu a proibi de cantar. - John levou a mão aos olhos ao lembrar da cena. - E eu nunca percebi. Três anos morando sob o mesmo teto e eu não a vi de verdade. Você acredita nisso? Eu tratei o casamento como um contrato. Frio. Impessoal. Sem complicações. E ela… ela honrou cada aspecto do nosso casamento, suportou tanta coisa. — Ele passou a mão pelos cabelos, exausto. — E agora ela foi embora… e eu nem a conheci, nunca lhe dei uma chance.

Bruce se inclinou um pouco, escolhendo as palavras com cautela:

— Senhor… se me permite, não é que não tenha percebido. É que o senhor nunca quis ver.

John o encarou, surpreso com a ousadia da frase, mas não havia raiva. Havia apenas silêncio. Um silêncio que Bruce interpretou como permissão para continuar.

— O senhor é um estrategista nato. Lê pessoas, fecha negócios, desmonta concorrentes com três frases. Mas nunca tentou entender a senhora Walker, que talvez não fosse o dinheiro.

John recostou-se na cadeira, os olhos presos ao teto por um momento. Passou a mão pelos olhos cansados. Agora ele sabia… tarde demais.

O silêncio se instalou por alguns segundos. John levantou, andou até a janela e cruzou os braços. Lá embaixo, a cidade seguia indiferente aos seus dilemas. Mas algo dentro dele havia mudado.

Bruce estranhando o fato do chefe se abrir daquela forma com ele e ver que John parecia perdido e…. vulnerável. Nunca pensou em ver aquela fortaleza abalada.

— Bruce, precisamos encontrá-la. — Disse por fim.

— Sim senhor, Vou repassar as ordens — Bruce assentiu, levantou-se e saiu da sala.

John não respondeu. Mas, no fundo, esperava que ainda não fosse tarde demais para merecer o perdão… e, quem sabe algo mais.

A porta se fechou com um leve estalo. John permaneceu imóvel, o olhar ainda fixo no céu através dos paineis de vidro. A luz do entardecer começava a tingir o ambiente com tons dourados. As palavras de Bruce ecoavam em sua mente.

"Elizabeth…" murmuou, ela não era como ele esperava. Havia algo nela que o desconcertou desde o primeiro dia. Não era submissa, mas também não era rebelde. Era firme, mas doce. Discreta, mas profundamente sensível. Dedicada e suave, não com palavras, mas com gestos silenciosos.

John tentou resistir. Tentou ignorá-la. E parecia que tinha conseguido.

Frio. Insensível. Cruel.

Essas palavras haviam se tornado verdades.

John passou as mãos pelo rosto, cansado. Sentia-se exausto, um cansaço diferente, de quem lutou e perdeu. Um tipo de arrependimento que não cabia nos relatórios, nas decisões calculadas, nas estratégias empresariais.

— Martha, sente-se. — disse ele, com voz calma. — Você está agitada demais.

— Agitada? — ela parou de andar, virando-se para encará-lo com indignação. — Nosso filho está arruinando a própria vida, Roger! Ele teve a chance de ouro para se livrar daquela mulher inútil, e agora me vem com essa de que não vai se divorciar!

Roger suspirou, passando a mão pelos cabelos grisalhos. Seu olhar era calmo, mas carregava tristeza.

— Eu sei que você não gosta dela, Martha… mas talvez… talvez John tenha seus motivos.

— Motivos? — ela riu com desprezo. — Que motivos ele poderia ter para continuar com uma mulher que não é nada? Você sabe tão bem quanto eu que Elizabeth nunca esteve à altura dele. A escolha dela foi um erro.

Roger a observou com paciência, escolhendo as palavras.

— Talvez ele a ame, Martha. — disse, com honestidade.

O silêncio caiu pesado no quarto. Martha o fitou com olhos arregalados, como se ele tivesse dito a maior heresia do mundo.

— Amor? — disse ela, com frieza, cruzando os braços. — Amor não mantém uma família poderosa de pé, Roger. Amor não constrói impérios. John precisa de uma mulher como Pamela ao lado dele, alguém que ele possa apresentar à sociedade com orgulho, alguém que fortaleça nossos negócios. Elizabeth é insignificante.

Roger balançou a cabeça, suspirando fundo.

— Nem tudo na vida é poder, Martha.

Ela se aproximou dele e o olhou nos olhos, séria e incisiva.

— Mas tudo na minha vida sempre foi. — disse, com a voz baixa, mas carregada de firmeza. — E eu não vou permitir que meu filho destrua o que eu construí por causa de uma mulher sem valor.

Roger a observou, sentindo um aperto no peito. Conhecia Martha como ninguém. Sabia que, quando ela decidia algo, não havia força no mundo que a fizesse mudar de ideia.

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