John
Já haviam se passado algumas semanas que Elizabeth havia saído de casa. Naquela noite, John estava afundado na poltrona da sala, envolto pela penumbra e pelo silêncio absoluto da casa.
O telefone tocou, John olhou quem era e desligou.
Era Pamela, ela estava muito insistente ao tentar falar com ele, ligava constantemente e deixava mensagens que ele nunca respondia.
Abriu uma foto do celular e olhou para a foto de Elizabeth, a mesma que ele havia tirado há algum tempo. Ela estava olhando para um ponto qualquer, o vento balançando seus longos cabelos cor de mel ondulados, enquanto segurava algumas mechas com uma das mãos, parecia tão serena, tão pura.
Serviu-se novamente, o som do líquido preenchendo o copo ecoou pelo silêncio da casa. Costumava apreciar uma dose ocasional, mas nos últimos dias, a bebida deixou de ser prazer e tornou-se fuga.
Desde o desaparecimento de Elizabeth, ele chegava em casa com a ilusão absurda de encontrá-la ali.
O fim do contrato deveria ter lhe trazido alívio, afinal, libertava-se da esposa indesejada. No entanto, o que o invadiu foi desespero, vazio e dor.
O que ele passou três anos sufocando, ignorando, distorcendo… finalmente veio à tona. Ele a amava. E a perdeu.
Bebeu mais um gole. Como fora orgulhoso e cego, incapaz de enxergar os próprios sentimentos turvos por intrigas e pelo orgulho.
A casa estava vazia, assim como ele.
Deixou o copo sobre a mesa de centro com um baque seco. Levantou-se de súbito, sentindo a cabeça girar por um instante, mas manteve o passo firme.
Caminhou até o escritório, onde as luzes estavam apagadas. Ligou o monitor do computador e acessou a rede de vigilância privada.
Abriu os arquivos da noite em que Elizabeth saiu de casa, já havia visto aquelas imagens dezenas de vezes, mas algo dentro dele exigia que olhasse mais uma vez.
Ela saía pela porta da frente. Um vestido preto simples, os cabelos soltos. Sem malas. Sem desespero. Apenas… decisão. Aquela imagem o destruiu mais do que qualquer outra.
Sem pensar, pegou as chaves da moto, dispensou os seguranças e saiu, a madrugada caía como um véu silencioso sobre a cidade. Acelerou pela estrada ainda molhada pela garoa.
Não sabia para onde ia. Não tinha plano algum. Acelerou a moto pelas ruas desertas, o ar frio da madrugada o fazia sentir-se sentir vivo. Por um momento pensou em fugir e largar tudo para trás e esquecer até mesmo quem ele era, viver uma vida comum ao lado Elizabeth e ter a certeza que ela o amava apenas por ser simplesmente John.
Quando os primeiros raios de sol começaram a surgir, retornou para casa. Ao chegar à guarita, o segurança abriu o portão, ele cruzou o grande portão e subiu a alameda que levava a casa devagar. O sol começava a nascer e seus raios se projetavam sobre a fachada toda de vidro. A imponência da casa escondia um lar vazio e triste.
Estacionou a moto e seguiu lentamente para a casa, sentia-se cansado, mas algo naquela volta de moto lhe trouxe um pouco de conforto interior e acabou adormecendo em sua cama vazia e fria.
*****
Naquele mesmo dia, após cerca de três horas de um sono inquieto, John chegou mais tarde ao escritório. O semblante carregado, ainda mais fechado do que o habitual, não respondeu nem mesmo de forma seca aos “bons dias” dos funcionários.
Ele lançou um olhar congelante para a recepcionista do térreo, que já estava com o telefone na mão quando viu o olhar que o presidente lhe lançou, ficou congelada. Mas assim que ele entrou no elevador, ela se recuperou e ligou para Anne, que imediatamente avisou que o chefe estava chegando e como num passe de mágica todos se colocaram em suas estações de trabalho e se concentraram em suas tarefas.
Ao sair do elevador passou pelo setor sem olhar para ninguém. Passou direto por Anne, que o aguardava aflita desde que recebera a ligação do térreo avisando que o chefe havia finalmente chegado.
— Bom dia, senhor Walker. — Disse educadamente, desta vez sem sorrir.
John não respondeu e o olhar dela o seguiu até que ele sumisse pela porta pesada da sala.
— Isso só reforça o que eu já suspeitava… — disse, ríspido. — Ela teve ajuda. E eu não tenho dúvidas de que veio do Saints.
— A vigilância sobre ele e a noiva continua em tempo integral — informou Bruce, consultando rapidamente outro relatório. — Até o momento, nenhum movimento suspeito.
— Continuem. Se for preciso, dobre o número de agentes. Quero cada passo deles monitorado. — Sua voz soou mais áspera, quase como um aviso.
— Sim, senhor. — respondeu Bruce, anotando.
John soltou um longo suspiro e, por alguns segundos, permaneceu em silêncio, encarando os papeis sobre a mesa. Precisava trabalhar. Precisava ocupar a mente.
— Qual é a agenda de hoje? — perguntou, enfim, tentando soar mais firme do que realmente estava.
Bruce respirou aliviado.
— Às dez, reunião com os diretores do grupo. Depois, às quatorze, a equipe do departamento jurídico vem apresentar o parecer sobre a aquisição da filial em Miami. E, às dezesseis, há uma videoconferência com os investidores internacionais.
John assentiu, ajeitando-se na cadeira.
— Avise que estarei presente na reunião com os diretores. Não cancele nada.
— Sim, senhor. — respondeu Bruce, já enviando as devidas confirmações pelo celular.
Pouco depois, no andar superior, a sala de reuniões estava pronta e os diretores começaram a chegar, os semblantes preocupados, as notícias de que o presidente estava cada vez mais irascível e exigente deixava todos tensos.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Amargo Contrato de Casamento
Olá, quero deixar aqui meus sinceros parabéns por essa linda história, eu amei. Que Deus abençoe vc e toda a sua família...
História linda e emocionante como a fé e o amor são capazes de transformar vidas....
Maravilho...