Caminho Traçado - Uma babá na fazenda romance Capítulo 13

Acordei com o clarão de um raio. Havia dormido com o Noah e tinha me esquecido de fechar as cortinas da janela.

Os raios clareavam o quarto vez ou outra, mas não se ouvia o barulho do trovão, a janela era bem lacrada à prova de som. Olhei e vi que Noah continuava dormindo como um anjinho, me levantei, arrastando com cuidado uma das poltronas até a janela, me sentei e comecei a observar a chuva caindo.

Eu amava a chuva, amava os raios, eles eram tão lindos. Apesar de perigosos, era a coisa que eu mais admirava na natureza, tão imponentes, seguidos com sua voz majestosa de trovão. Olhei no relógio e vi ser duas e pouco da madrugada. Lá fora, tudo era assustador, lembrei que cheguei aqui numa madrugada como essa, raios, chuva e aquele homem.

Lembrei-me do homem na ponte, do carro parado, dele prestes a se jogar e da minha interferência. Será que salvei a vida dele? Como será que ele estava agora? Quem era, e qual o motivo que o levaria a tentar contra a própria vida? Bem baixinho, pedi a Deus que o protegesse, onde quer que estivesse. Não sabia quem era, mas pedia que seu problema fosse resolvido e ele não precisasse mais pensar em chegar num extremo daqueles. Eu não sei por que, mas lembrei de Oliver. Os dois tinham um jeito arrogante parecido, espera! E se o homem que conheci naquela ponte fosse o Oliver? Mesmo com toda a chuva e o barulho do vento atrapalhando, as vozes se pareciam.

— Deus, por favor, revele a identidade desse homem para mim.

Mais um raio caiu bem perto da casa, desta vez Noah assustou-se com o clarão e começou a chorar. Corri e fechei as cortinas, o peguei no colo, logo ele se acalmou e dormiu de novo. Acho que esse pequenino está se acostumando comigo, é só me aproximar que ele se acalma. Deitei-me de novo ao seu lado e adormeci.

Pela manhã, já havia acordado, trocado Noah e feito tudo que tinha que fazer, desci para a cozinha com o bebê no carrinho, Denise estava olhando o celular.

— Bom dia, Denise. — Sorri e cumprimentei.

— Ah, bom dia, Aurora. — Respondeu assustada.

— O que foi? Está com cara de assustada.

— Eu não vi você chegando. — Riu — Estava vendo uma notícia aqui no site.

— Que notícia? Algo interessante?

— Um homem acabou de ser encontrado morto na ponte que liga a capital à fazenda. Tudo indica que ele se suicidou.

Eu não acreditava no que acabava de ouvir, não, não pode ser!

— Não pode ser Denise, me deixa ver! — Corri para pegar o celular da sua mão para olhar a notícia, mas ela o guardou imediatamente, não havia notado a presença de Oliver chegando na cozinha.

— O que está havendo aqui? Que alvoroço todo é esse?

— Desculpa, senhor, só estava falando com a Aurora de uma notícia que vi.

— E que notícia séria essa, que fez vocês duas pararem o serviço?

— Um homem se suicidou na ponte que liga a capital à vila São Caetano.

Oliver parou alguns segundos, parecia tão surpreso quanto eu, já que ainda estava em choque. Não conseguia acreditar que o homem que encontrei naquela noite havia voltado para a ponte e concluído o que pensei ter impedido.

Oliver me encarou.

— Por que está assim, Aurora? Você o conhecia?

Me pegou de surpresa com a pergunta. Não o conhecia, mas estava muito triste, de certa forma, pensava que ele não voltaria a fazer aquilo. Ontem à noite, pensei nele e cogitei a possibilidade dele e Oliver serem a mesma pessoa.

— Não, senhor. — Minha voz saiu tristonha e uma lágrima solitária correu do meu rosto.

— Eu não quero saber da vida dele, só queria saber sobre a mãe do Noah.

— É melhor enterrar esse assunto, aqui as paredes têm ouvido e eu não quero perder meu emprego.

Após falar isso, Denise saiu da cozinha e subiu para arrumar os quartos, me deixando ali, mais curiosa do que nunca.

Curiosa por Oliver, curiosa pela mãe do Noah e curiosa pelo homem da ponte.

Pobre homem da ponte, em minha garganta outra vez emaranhou-se um nó, estava me sentindo muito mal por ele, não queria que findasse sua vida assim, desse jeito. O que o atormentava tanto para ter que tomar uma atitude tão drástica?

Saí para passear com Noah no jardim, ele estava com os olhinhos abertos, então essa era a melhor hora do dia para que ele pudesse se distrair. Em um ponto do jardim, onde apenas havia árvores e gramas, peguei-o no colo e sentei-me embaixo de uma grande árvore.

Estava com um misto de emoções, mas a maior delas era a tristeza.

Eu não tinha absolutamente ninguém, era tão triste. Meu pai morreu, minha mãe me abandonou, minha irmãzinha estava longe de mim e não sei se a veria outra vez, meu padrasto estava me ameaçando, Isa estava longe cuidando da própria vida, e eu? Estava longe de casa e, simultaneamente, não, pois não tinha uma casa, não tinha um lar, não tinha parentes para me acolher. Era um ser humano sem lugar no mundo.

Morando num lugar estranho, sem uma pessoa sequer com quem pudesse conversar, apenas um bebê no colo que me dava forças. O que eu tinha nesta vida?

Meu peito doeu mais um pouco e comecei a chorar, chorei tudo que estava guardado em mim, toda a dor, todo o sofrimento, toda a rejeição.

— Está chorando outra vez?

Ouvi a voz estrondosa do sem alma do Oliver.

Histórico de leitura

No history.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: Caminho Traçado - Uma babá na fazenda